quarta-feira, 28 de outubro de 2009

OLHOS DA IMAGINAÇÃO


olhos que viajam desatentos
alheios à rotina frugal
bailam irriquietos, despertos,
aspiram carícias pressentidas

nas visões encantadas, não decifradas,
nos matizes invisíveis a olhares severos,
desapercebidos dos assovios dos ventos,
cantos de passarinhos, água rolando da ribanceira,
grilos, cigarras e sapos numa orquestra desigual

olhos que se congelaram ao mental
não distinguem além do perceptível
não viajam por estrelas imaginárias
não vêem o além do visto

crianças sem contos de fadas
medo de assombrações
sem pipas e bolas
nados em rios

percepções condicionadas
cristalizadas no real
circunscritas, encolhidas,
ao mundo restrito, racional...

domingo, 25 de outubro de 2009

CONTRAPONTO *


lodaçal em lágrimas
ostracismo solidão
alheio na multidão
as águas amargas
vertidas
não únicas
antes dores
de todos sentidas

se o ego ferido
obnubila as luzes do sentir
não esmaecem manhãs radiosas
cantantes pássaros floridos caminhos
onde tantos amam e sonham
e eu, egoísta, declamo minhas dores

lamentos infrutíferos
inúteis, incapazes
de cessar a marcha
venturosa e guerreira
das lidas nas lições da jornada

escritas com sangue e suor
esperanças aguerridas
por sobre escombros
de mortos e atrocidades

marcha inexorável
evolução altaneira
vencidas batalhas
as certezas da vida ...




quinta-feira, 22 de outubro de 2009

BAGAGENS


avaliação do que resta
cangalhas, tralhas,

ideologias acumuladas

para nos despirmos
recomeçarmos
marco zero
contagem inicial

urge necessário
priorizarmos

o que fica
do que se deixa

em conceitos e idéias
estigmas lembranças
marcas significados
heranças na alma

histórico apegado
balanço geral
mais que desapego
intrínsecos em nós

indeléveis sinais
característicos
idiossincráticos
personalíssimos

tatuagens impregnadas
registros assinalados no tempo
que não se expurga ou esquece
partes de nosso todo

ilusões e crenças
fetiches e muletas
utopias necessárias...




sexta-feira, 16 de outubro de 2009

P O D E R


no bojo das certezas
torpezas desenhadas
com que se afiança

de saber definitivo
âncoras em premissas
final ponto do discurso

arcabouço que sustenta
remontando civilizações
acusadores condenatórios

o certo e o errado
sem nuances
de meio termo

verdades escrituradas
marcos alicerçados
no poder inquestionado

dogmas
algemas
escravidão...


MARCO ZERO


das trouxas acumuladas
observações vividas
anotações de memórias

verdades esmaecidas
certezas descartadas
remissões íntimas

ficaram essências
desfolhadas ilusões
folhas em branco

a serem preenchidas
sempre reticências
caminhos a percorrer

nada definitivo
conclusões abertas
sujeitas às reformas

ditadas nos tempos
acrescidas nas vivências
expectativas

chuvas amenas
ou em temporais
armazenadas

nas telas do imaginário
perdulária de divagações
inconclusas em si mesmas

passos e rastros
trilhas
desenganos

volteios no aprendizado
olhos da alma
vendo o não visto

emoções
impressões
sentidos...


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ENTREVISTA

perdoe-me pelo engano
se te falei de sonhos
floreei jardins
colori cenários
adentrei fantasias
reluzi cantos escuros

perdoe se me apresentei assim
tão utópico, trôpego, inadvertido
talvez não cumpra as exigências
da função pretendida, entendo...

falastes comigo presente
não às minhas digressões
ausentes de sentidos
flanando soltas desvairadas

é que meu íntimo se sobrepõe
ao Ser que se apresenta, sóbrio,
sério, capaz e compenetrado
e o que vês ?...

não queres divagações
estéreis de resultados
à mingua de razões
reduzido em tua presença
amuado, introvertido...

não deixes as janelas assim
abertas ao infinito, lombrigando visões
não esperes de mim redações coerentes
petições convincentes, arrazoados sensatos

sou inábil
trânsfugas
pássaro visionário
das distâncias que me alçam...

por favor, feche as janelas !


domingo, 11 de outubro de 2009

L U T O


eis que o canto
emudecido
jaz sobre cinzas

de um dia
triste, aborrecido,
onde a dor impera

soberba, inteira,
encobrindo a luz
amargando espinhos

a ausência presente
dor desvairada
sem remédios, demente.

e a beleza fenece
nas lágrimas
pranteadas em saudades...

ESTRANHO CONHECIDO


ausente o viço da juventude
sulcos na face, cãs dos cabelos
sem avisos, ele voltou.

sua ausência já esquecida
figura esmaecida, perdida,
eis que retorna

a volta de quem não se espera
incômodo inusitado bate à porta
no olhar clama o espaço perdido

habitado por outros sentimentos
outro alguém, calores e valores
ocupante presente no vazio deixado

na soleira da entrada
sem recepção e palavras
conhecido estranho

pássaro vadio
volteios em aventuras
ninho ocupado

passos sobre passos
entendidas razões
perde-se na distância...



JOIO & TRIGO

como filtro imaginário
discernindo dores de alegrias
escoando o inútil do aproveitável

empilhando restos
cacos estilhaços
estigmas descartáveis

como uma balança
de prós e contras
acerto de contas

quimera impossível
nos cascalhos brutos
retilam jóias

em frutos amargos
sabores deliciados
no fel há o mel

indissociados
bem e o mal
luzes e trevas...


CICLOS...

amenas manhãs temperadas
recomeços esperanças
embalando sonhos

a tarde já exaurida
vespertina despedida
de recomeçar distante

noites de redenção
corpo pesado
mente ansiando sono

ciclos viciosos
marcando calendário
vida vivida

nas primeiras horas
hipoteca renovada
de novas aspirações...



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

VEREDAS NO TEMPO


se tudo for nada
eternos recomeços
retornos de jornadas


estradas diversas
janelas no infinito
distâncias tão próximas



caminhar caminhos
conhecidos esquecidos
em erros pelos acertos



larvas em borboletas
casulos embriões
úteros renascimentos



alentos sofrimentos
lágrimas e sorrisos
lições reaprendidas



vidas nas veredas
tempos imemoriais
imersões e viagens



personagens viventes
inúmeras histórias
crianças aprendizes...



terça-feira, 6 de outubro de 2009

ADEUS, MESTRE ! *



dor estranha
muda incompreendida
nada ajuda a ausência
na despedida

fenecem argumentos
cala-se a razão
resta a solidão
antecipada

da distância que se vislumbra
nas rotinas, poeiras dos tempos
como dói esta tristeza, vazio,
saudades sentença sem recursos

nos mostramos frágeis
fé fica trêmula
certezas tão incertas
nos apequenamos
lamentamos

egoístas no sofrer
da falta inevitável
que o bem querer
nos traz

de certo
apenas
a certeza do adeus...


( Saudades, Professor Bueno, muitas, de sua generosidade e paciência, me ensinando que a morte é passagem, não drama em despedidas...mas, aluno negligente, choro no íntimo tua partida...)

* José da Silva Bueno Neto, prof. aposentado,advogado, presidente da Liga Espírita do Estado de São Paulo, (de1998 a 2004, atual vice presidente) diretor de doutrina.



segunda-feira, 5 de outubro de 2009

FANTASIAS NECESSÁRIAS


em devaneios temos asas
voamos além dos limites
em cenários utópicos
matizes em cores vivas
em acres paisagens

imaginamos um porvir
e vivemos as rotinas
alimentadas de esperanças
crianças à espera do natal

ilusões dadivosas
colheitas de sonhos
muletas na travessia,
luzes nas trevas dos dias

companhias aos sós
flores nos caminhos
margeando espinhos
florindo caminhadas
nutridas, coloridas

lágrimas e risos
assinalados no calendário
passos dados demarcados
histórias escritas, vividas

sem ideais a perseguir
tramas sem enredos
fatos inconcretos
naus sem rumos

se preciso é respirar
para viver
sonhar é imprescindível...


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

EXERCÍCIOS DE HUMANIDADE


precisamos verter lágrimas manifestando emoções ou dores, mantendo as glândulas lacrimais ativas

termos a curiosidade de sentirmos a tênue textura das folhas tocando-as, suave, com as pontas dos dedos extasiados com sua beleza tão formosas flores encantos em cores para florir nossos caminhos

brincarmos despreocupados com as crianças curtindo o riso leve suave meigo que delas emanam /nos permitir relembrarmos nosso tempo menino

nos fazermos, vez ou outra, o papel do advogado do diabo entendendo, ou procurando entender, o que levou alguém a cometer o escândalo, não esquecendo que somos universos em cada um e temos em comum a mesma essência

nos despreocuparmos com as etiquetas e todas as regras de bom comportamento e sermos estabanados e divertidos, rindo de nós mesmos...

nos perdoarmos e nos permitirmos erros, certos que são passos no caminho dos acertos

olharmos as nuvens como enfeites não apenas por estarmos preocupados com o mal tempo

tentarmos ler um texto, um poema, entrar no mundo do autor, tentar sentir sua mensagem, compreendê-la, dissecá-la, treinar e cultivar emoções ocultas, desvendar seus sonhos e sua lira e se identificar com os sentimentos

urge que retomemos nossa porção humana antes que nos confundamos com a rotina de robôs e nos esqueçamos de nossa natureza divina

que façamos nas pequenas atividades pausas longas para o entretenimento, o bom papo na companhia de amigos

estaremos sendo revolucionários na luta contra a correnteza que sufoca a alegria engrenagem estúpida em nome de metas e de números

e do que não temos não nos culparmos e usufruir ao máximo o que já temos...



19/01/09