domingo, 31 de outubro de 2010

ESCREVER

não sejam
charadas
labirintos

tampouco
óbvio,
presumido

liturgia
adornada
no simples

apreensão
do etéreo
mistérios

sussurros
ruídos
sons dos ventos...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ÍNTIMOS VOOS

brisa que acaricia
levita pensamentos
alma em sintonia

dulcificados instantes
encontros íntimos
digressões, orações

além do ordinário
superando tropeços
mágicas euforias

vaga a mente
haurindo forças
suavizando os dias...

domingo, 24 de outubro de 2010

DEJETOS

vento leve
a preguiça
ares e ais

indolência
displicência
flatulências

higienize
vícios
malefícios

evole nas brumas
biograde 
em espumas

nefasta participação
azedumes,dissabores
reles poluição...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

TURVAS CAMINHADAS

águas de rio desviando
percalços, incômodos,
deixando acomodado

espinhos encravados
atenuados relevados
postergados

na maciota
relegando para lá
resolução insoluta

cravos das estacas
estigmas incrustados
cicatrizes da existência

vida distraída,
despercebida,
macerada em dores

aliviando em orações
penitências perpétuas
caminhos em calvários...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ONÍRICA TELA

no alvo tecido
mistura colorida
pincéis verbais

retratos de momentos
captando impressões
tonalidades variadas

choros e lágrimas
alegrias e sorrisos
um fundo misto

na tela de sonhos
vitral fragmentado
registros da alma

paisagem retratada
não visível, exposta,
mas íntima, guardada

rascunhada em palavras
pinceladas no horizonte
sensações, emoções...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ALHEIA IMAGEM

alheio nas evidências
cãs de minhas mechas
no cansaço da matéria

tampouco no calendário
dando conta
voos de mais de meio tempo

mantenho as matreirices
no olhar íntimo
de uma criança buscando

nos baús esquecidos
seu enredo inacabado
conto de fadas narrado

nem imagino
e me estranho
na imagem refletida

como quem
da peleja
rende-se exausto

e o mundo rodou
nos avanços
e retrocessos

como na roda gigante
em parque infantil
no lampadário colorido

idas e voltas
cirandas melodias
encantos desencantos da vida...

domingo, 17 de outubro de 2010

MATERIAIS LIMITES

tantos esperam
dos escritos
laudas poéticas

reportarem
a uma musa
decantada

talvez se amesquinhe
meus cantos restritivos
ao corpo, por mais belo

tais os limites
entre as faces
com sorrisos

o tórax 
ostentando mamilos
seios encantadores

ou a pélvis
enigmática,
gruta versejada

ainda as pernas
longas, médias
esguias ou robustas

parco horizonte
apesar de tentador
para reter ímpetos

a um mundo
inteiro, sedutor,
embora enamorado

de suas curvas
e rebolados
e de encantos

cobiçados
na cabeleira
nos olhos ternos

no cálido de seus abraços
entrelaçar de suas pernas
na doçura do gozo intenso

ganho asas
voos frenéticos
solto livre em meus versos...

sábado, 16 de outubro de 2010

PRESENTES/AUSENTES

cantar de pássaros
campas florescidas
revividos  passados

mente povoada
lembranças
solidão presente

presenças ausentes
viajantes
tão longe e perto

dor que estrangula
muda, implacável,
vivos  e distantes...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ADULTO/CRIANÇA


do menino de ontem
restou um compromisso
jamais esquecê-lo

entender anseios
medos  fantasias
o mundo onírico

mas a vida
no leva e traz
da roda viva

deixou para lá
promessas vãs
não cumpridas

volta e meia
ainda voltam
os reclamos

desse tempo criança
jeito manhoso, teimoso
nas birras e impertinências...

*selecionada para figurar na 72° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, edit. CBJE, Rio de Janeiro, edição dez/2010 

MOSAICO DIFUSO

caleidoscópio montado
mosaico de fragmentos
juntados à revelia

forçando memórias
colando pedaços
de tempos vividos

inócuas tentativas
momentos únicos
jamais revividos

do ontem restam
esmaecidas lembranças
amiúdes retornam difusas

pondo-nos nus
ora adultos contritos
ou crianças crescidas...

VISÕES DISCERNIDAS

visões captando
seduzindo percebendo
sensações e momentos

luzes pífias, frias,
neons purpurinas
vãs fantasias

deglutindo percepções
digerindo informações
correndo nas veias

o puro, aproveitável
relegando a dejetos
o fútil, passageiro....

domingo, 10 de outubro de 2010

PARALELOS

água corrente
límpida cristalina
nascida nas retinas

da alma sensível
passível
de emoções

escorre nas faces
nublando sorrisos
deixando cicatrizes

alegrias
de chegadas
e amargas despedidas

ânimos de euforias
pesares e agonias
levando, deixando

sinais na vida
sulcos em leitos
secos dos rios...

O SOFRER & A ARTE

não fosse a dor
pungente aguda
muda, existencial

os artistas
eternos tímidos
sofridos travestidos

em vestes fugazes
alegorias
de efêmeras alegrias

não esculpiriam
em suas artes
devaneios, reflexões

enaltecendo a vida
floreando em cores
painéis descoloridos

dos enganos e ilusões
menestréis da esperança
nas andanças das jornadas

branda leviana fosse
a angústia
emudeceria tanta luz...

sábado, 9 de outubro de 2010

UTOPIA

quero a terra dividida
alegrias fraternais
em igual toda comida

hinos de louvor
à socialização da vida,
bem vivida, abençoada

fome triste lembrança
de civilização medonha
viva alegrias de crianças

liberdade de correr
e de dizer o que se quer
sem amarras e censuras

e o que é de todos
por direito de existir
sem divisões e castas

e todas as iniquidades
rivalidades e posses
anistiadas, esquecidas

no agora é a hora
de sermos humanos
sem cercas e divisas...

IMPRESSÕES DO TEMPO

névoas em devaneios,
imagens sons insólitos,
mosaico de emoções

do nada surgindo
sempre presentes
melancolias alegrias

realidades e sonhos
parceria simultânea
íntimo acabrunhado

curiosos sentidos
matreiros, infantis,
na madureza cronológica

ilógico das fantasias
quimeras, alegorias,
gritos e ecos surreais

rememorados sentimentos
tempos não demarcados
inócuos anseios alados...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

NA MACIOTA

mesmo a dor lamentada
cantada como réquiem
 em despedida amarga

deve ser cortejada
como uma dama
um par na dança

embalada nas lágrimas
do questionar
passos e gingos dançantes

mesmo a parceira aziaga
não há de ser molestada
lastimada, denunciada

como feridas abertas
chagas moribundas
têm que ter um charme

um quê de mistério
uns versos reversos
chorando, rindo, dançando

levando a vida
em altos e baixos
alegrias e cansaços...

REGISTROS DA ALMA

sons surgidos
ventos nas janelas
trovões temporais

chuviscos do verão
saltitando no asfalto
mormaço refrescado

terra seca
molhada
frescores evolados

águas de enxurradas
canções em cascatas
ruídos das matas

atentos ouvidos
suaves melodias
registros íntimos...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

PRISMAS DO TEMPO

o olhar
de ontem
emoções vividas

imagens marcadas
conclusões
visões de antanho

o visto agora
ótica diversa
outras sensações

olhos
e mente
acrescidos

de vivências
experimentos
e desenganos...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CONTRADIÇÕES

mutáveis tons
cristalinas luzes
reverberando charcos

turvo cenário
pântanos fétidos
alvos lírios belos

aromas em pústulas
nobres sentimentos
desdéns desapreços

escárnios
contrapondo
compaixões

trêmulas linhas
firmes objetivos
caminhos incertos...

sábado, 2 de outubro de 2010

NUANCES

dias há
imersos
nas fantasias

arrimos
suportando
realidades

noutros
no fel do real
espantando ilusões...

FUTURO DO PRESENTE

futuro
de ontem,
o agora.

certezas
presentes,
realidades

em breve
passado,
instantes vividos

amanhã
postergadas esperanças
ânimos acalentados...