segunda-feira, 30 de março de 2009

ABSOLVIÇÃO *


enterrado o corpo
os despojos
o ritual da despedida

enganos de sua trilha
perdoados relevados
isento fica o falecido

com o passar do tempo
esmaecida as memórias
resta a imagem santificada

de fraca e pecadora
só menções boas
cada vez menos real

até cair em vagas lembranças
ressuscitada em mito santo
a figura de carne e vícios


morta, por fim, a face humana...



MINHA GENTE


de monturos
visões montanhosas
não de estrumes
de perfumes

da escassez
sensatez
paciências
resignação

do sofrer
o viver
feliz na dor
rescende amor

e nas lágrimas
gastas mágoas
forças para resistir
e continuar

heróis heroinas
valentes anônimos
cangalhas nas costas
feridas nos ombros

esperanças nos olhos
sorrisos nos lábios
um altar uma fé
e vontades imensas de viver...

sábado, 28 de março de 2009

CONDICIONANTES...


vida de passados
de havias...

de condicionantes
de se....

havia de ser
feliz

de ser havia
alegrias

vasos cheios de flores
murchas pelo descaso

interrupções nos passos
abortadas idéias e ideais

entrecortada fala trôpega
como um ataque de asma

apoplexia sufocação
havias, serias... nunca foi !

sexta-feira, 27 de março de 2009

AROMAS & SAUDADES *


aromas que despertam momentos
incertos imprecisos mas saudosos
de um tempo já esquecido

olfato que atrai reminiscências
carências dúlcidas de instantes
lembranças de algo ou alguém

mente viaja e se conecta
fareja rastreia procura
refolhos de seus arquivos

de onde a imagem
um lembrar doendo
sofrendo de saudades ?...


quinta-feira, 26 de março de 2009

SEM RUMO...


folha caída solta ao vento
sem arrimo que a sustente
só a brisa que a leve longe

e em espiral se levante
ou caia ao rés-do- chão
anêmica de correntezas

o ar estático e seco
sem mobilidade
que a eleve

desatinada
sem destino
despatriada

a sina a sarjeta
reveses da sorte
redemoinhos que a ascenda

ou da amarga realidade
dilacerada maculada
que a soterre...

quarta-feira, 25 de março de 2009

SENTIMENTOS DO MUNDO


como vagas ondas no mar
distantes épocas
momentos presentes
a alma nos traz

pesares sofreres amores
retratos prosas e versos
pincéis em telas
músicas pungentes

somos os mesmos
em outros cenários
angústias e incertezas

imortalizados sentimentos
emoções de humanos seres
remotas datas suas lágrimas

umedecem as dores de agora
encontros de cores
flores que desconhecem eras

família humana
sofridas vividas
sagas e epopéias...


terça-feira, 24 de março de 2009

MENSAGENS DA ALMA


formas de externar sentimentos
brandas ou cálidas, sensatas ou não
silêncio diz mais em muitos momentos

às vezes na timidez buscamos apoios
belezas de flores ramalhete ou em botão
muletas transmitem o interior sensível

mudos gestos expressivos
adornos que o íntimo reclama
quando fenecem os argumentos

urge e cala muito fundo a emoção
as palavras por si não traduzem
o que a alma anseia em transmitir

restam os olhares
linguagem límpida
apelos à flor da pele

humanas formas de sentir...






segunda-feira, 23 de março de 2009

TRASTE


depois de uma grande chuva
inesperada infortunada indesejada
cabeça aos pés enxarcado pingando

toalhas após o quente banho
o encontro imponente pendurado
agora desnecessário o sossegado

guarda-chuvas
nada guardas
quase vou-me na enxurrada...

domingo, 22 de março de 2009

OUTONO


hálito fresco nas manhãs
o sol brilha e castiga menos
inícios e fins polos amenos

chegastes trazendo alívios
ao tórrido calor do verão
prenunciando o inverno

entre opostos intermeio
chegando aos poucos
serenando e anunciando

despedidas de cálidos dias
suave ingresso
nas baixas temperaturas

a vida corre seu curso
como água em correnteza
levando seixos e pedras...





quarta-feira, 18 de março de 2009

ÉPOCAS E CRISES


a roda inevitável inapelável
ameaçadora alterando rotas
escancara-se nas notícias

esfrangalha-se o mundo em suas inquietações
uma crise, mais uma, dizem que a maior delas
a paz em xeque e a tranquilidade das nações

interligados, irmanados, em abraços de afogados
os maiores levando os mais novatos em ascensão
gangorras tumultuadas das bolsas de valores

ao ler os antepassados escritores
as crises narradas em suas épocas
parece que pisamos em solo sísmico

ela chega em cada teto em cada cidadão
na perda do que o homem comum tem
só a força de seu trabalho seu ganha pão

à espera que as cúpulas debelem a ira
à deriva estamos no olho do furacão
aguardando a vida já em si temente

voltar às suas corriqueiras atribulações...





terça-feira, 17 de março de 2009

VINDA & IDA


corre a água
lava limpa leva
poeiras sujeiras

chega refresca
umedece a terra
o calor ameniza

chuva vem e alivia
bem foi a sua vinda
mas urge a sua ida

permanência
triste
aborrece e inunda

tumultua a vida...

POEMAS


flores medradas entre pedras
lírios presentes em lodos
ornam beiras de abismos

poesias em brejos
livres versos
dúlcidas paisagens

leituras íntimas
perfumes d'alma
eflúvios aragens

alucinações do real
embeleza a realidade
nas sonoras magias

de seu encanto natural...



domingo, 15 de março de 2009

RENASCENDO...


vãs rogativas imploradas
anseios reprimidos vacilos
pedidos surdos de perdão

palavras não pronunciadas
frases inacabadas
súplicas subentendidas

de que valia tudo aquilo
era um sofrer imenso
se muda fria permanecia ?

os olhos da alma lacrimosos
enterneciam saudosos
dos abraços já não seus

nos braços e enlaços alheios
aquilo que lhe pertenceu
em festas com outro alguém

como doía a despedida
roída puída frangalhos
restava um nada vazio

reaprender a ser só
depois de tê-la
morrer num domingo

renascer na segunda-feira...

quinta-feira, 12 de março de 2009

LEGADOS EM PROSAS E VERSOS (AOS ESCRITORES E POETAS DE TODAS AS ÉPOCAS)


belo é sonhar vagar em todos os tempos
encantos sonhados por todos os antepassados
produtos sublimados de seus eus angustiados

suas preces súplicas de desterrados
na Terra de infortúnios e aprendizados
crianças chorosas em seus passos

na alma poeta de cada Ser
lágrimas lamentos purificados
palavras sentires santificados

testemunhos de dores e achados
alçados de incrédulos a venerados
poetas escritores em todas as eras

esferas transcendentes e belas
vestígios marcados em sua letras
heranças sentimentos reverberam...


INCÔMODA COMPANHIA


café morno
distraído
mal servido

embaça a vista
opaca no diáfano
copo americano

encolho no vão
calçadas e gentes
absorto no balcão


espera sem sentido
chuva fina rala
intervalo no nada

ah, como chateia !
muda companhia
úmido e escuro

o tempo indefinido
prudente tê-lo
águas inesperadas

inconveniente necessário
carregado atado a mim
sem ele me enxarco

...sua presença um enfado !

quarta-feira, 11 de março de 2009

TEMPO


tempo relativo
tarda quando se anseia
principia na indolência

urge na espera
chega sem esperar
são dias idos corridos

calendários desfolhados
semanas consumidas
estações atropeladas

albores da primavera
no inverno
outono saudoso do verão

melodias natalinas
ecoando nos pandeiros
das folias do carnaval

chocolate da páscoa
pinhão pipoca fogueiras
festas juninas

semana da pátria
dia das crianças
lembrança dos mortos

festejos natalinos
a roda não cessa
a vida corre...


PARCEIROS POR CONVENIÊNCIA (crônica)

Não há quem ande com uma mala, salvo se por expressa necessidade; ela é incômoda, às vezes pesada ( depende do tamanho e do que contenha), não condiz com os paramentos de uso de uma pessoa, a não ser em situações de viagens. Portanto, uma mala é, no dizer popular, uma mala ! Algo incòmodo que retarda os passos e pesa a quem a carrega.
Contudo, tal qual ocorre com uma mala, há outros acessórios de que nos utilizamos exclusivamente em casos apropriados, fora dessas circunstâncias ficaria descabida a necessidade. Lembremo-nos dos injustiçados parceiros por conveniência. Estão conosco somente quando eles se tornam imprescindíveis, fora isso...
Comumente esquecidos nos cantos da casa ou mesmo em qualquer local onde tenhamos que ir, claro se a necessidade não reclamar seu uso. Eu próprio os adquiro na hora H, como compra de suma necessidade, imperiosa ao momento, senão jamais me lembraria de tê-lo em minha companhia.
Fora de uso são estorvos, inadequados, se grandes transformam-se em bengalas pingando, se pequenos protegem a cabeça e o resto fica entregue ao tempo chuvoso...
Sim, são eles, os insubstituíveis guarda-chuvas !
Não por acaso, invariavelmente esquecidos quando cessa a chuva, em balcões do comércio, salas de esperas, cantos de botecos. De certa forma, um inconsciente alívio, nos livrarmos dos pobres.
Principalmente agora, infestadas as ruas de produtos asiáticos mais baratos ( e também mais vulneráveis), vendidos pelos camelôs, providenciais em situações críticas de bátegas inesperadas.
Definitivamente, somos, sim, egoístas com nossos parceiros eventuais, extremamente úteis e levianamente descartáveis.
Fico imaginando os nossos antepassados que se guarneciam de galochas ( tratava-se de uma proteção de borracha que recobria os calçados para se evitar as poças), na casa de meus avós vi várias. Passadas as águas aquilo deveria ser um incômodo imenso, afinal, como carregá-las distante de casa, quando não houvesse a necessidade, ou seja, depois das chuvas ?
O mesmo dir-se-ia das capas, dos chapéus, etc. Na verdade, ainda não inventaram um apetrecho que substitua o fino tecido armado com varetas de ferro fino ( os mais sofisticados de madeira), que nos acompanha nos momentos de mal-tempo.
Pois é, estão conosco nos piores momentos e são esquecidos tão logo o sol volte e o azul do céu não insinue nuvens carregadas...
Qualquer analogia são meras conjecturas.

terça-feira, 10 de março de 2009

DIALÉTICAS VONTADES


duas vontades
únicas
condicionadas

sempre há um porém
reticências
acordos na anuência

em tudo permutas
barganhas
nada de fala solitária

sem ditos sem respostas
contrapostas
em argumentos diversos

assim é rico
prazeroso
nada imposto...

segunda-feira, 9 de março de 2009

AMANTES


dois seres amantes
entrelaçadas vidas
destinos

encontro de iguais
rotas sentidos
esperanças e sonhos

únicos
opostos
compostos


estradas infinito
caminhantes
peregrinos

fortalezas abrigos
um do outro
companheiros


espinhos
desafios
caminhos...

O ROSÁRIO


as contas do rosário
rompido em pedaços
achados nos cantos

vãos do chão de madeira
incrustados resistentes
à vassoura de piaçava

persistentes irredutíveis
já parte do assoalho
ficando pela teimosia

eram brancas as miçangas
enfileiradas em um cordão
bonito como um colar

era para se buscar
nas trovoadas
coriscos e raios

temores inocentes
balbuciadas rezas
tementes do desconhecido

entre ais de sustos
preces enviadas
Santa Bárbara

serena o tempo
reduza os ventos
acalme tempestades...


HERANÇA *


quando só restarem
nada além de lembranças
seja perfumes de primavera
em infantis risos de crianças

bons sentimentos
marcos de sonhos
brandas saudades
hilários momentos

os passos do caminho
reguem flores
sufoque espinhos

lenitivo para dores
inspirações deleites
motivos para amores

não seja a pedra fria
estatuetas mudas
referências de uma vida

que esteja nos ares
lembrares festivos
diáfana imagem

saudosa passagem...




domingo, 8 de março de 2009

CAMINHO DE VOLTA


deponha nesta arena
as suas armas
ódios mágoas rancores

abra seus braços
enlace luzes
semeie flores

perdoe incondicional
sorria desprevenido
soterre orgulhos humores

releve entenda contendas
espinhos encravados na carne
seja criança infância se desarme

refaça os passos desenganos
perdoe-se perdoando aliviando
enxugue lágrimas cultue amores

pássaro alado enviado da paz
alce voos rumo às estrelas
proscrito filho de volta ao Divino...

sábado, 7 de março de 2009

MULHERES ( 8 de Março, Dia Internacional da Mulher)


ontem criança
cantingas de roda
cabelos em tranças
bonecas e folguedos

alvoradas trouxeram
primeiras vaidades
sonhos de mocidade
menina-adolescente

auroras amadurecendo
menina-mulher crescendo
ativa participativa diretiva
cidadã e consciência

integrando exércitos´
em todos os setores
exercendo intervindo
construindo reinando

amante guerreira companheira
distribuindo-se em amores
acalentando em seu colo
seus filhos amamentados

histórias de pelejas conquistas
sua marca presença atuação
inovando costumes impondo
altaneiras posições

ombro a ombro com o parceiro
nivelando oportunidades
alçando voos e respeitos
consolidando patamares

a menina dos sonhos
a adolescente vaidade
a fêmea amada
raça garra e vitórias...

TIMONEIROS DO DESTINO


de seu ângulo de visão
sua bússola e passos
aprendizados

não servem a outros
em suas buscas
não há manuais

sabe-se o que não se deve
nada além sobre o que fazer
experiências únicas pessoais

descobertas com deleites e enganos
cravados esculpidos definidos nas rugas
fisionomias e históricos de achados

traçados rotas e roteiros
timoneiros de embarcações
vidas e oceanos navegados

diários de impressões
registros vestígios
inventários de bordo

narrativas impressas
expressas nas emoções
vivências singulares

cada qual na sua náu
suas aventuras
e procuras...




quinta-feira, 5 de março de 2009

EVOCAÇÃO


frente às estatuetas
madeira barro metal
nos ajoelhamos

endeusamos entidades
personificamos crianças
em apelos contritos

olhos cerrados
lábios murmurantes
evocações e pedidos

reflexão externa
do íntimo sofrido
minguado e aflito

conjunto pujante
encenação de dor
reverências doces

formas de cultuar
barcos em travessias
instantes recolhidos

encontro ou buscas
momentos pessoais
catarses expiadas

palavras enviadas
apelos comovidos
soluços e sussurros

evolando no ar
súplicas mensagens
imagens

formas pensamentos
carências do Divino
procura da essência

que as pedras
nos caminhos
silenciam...

quarta-feira, 4 de março de 2009

PÊNDULO


da euforia à inanição
extremos cruéis
opostos diversos

desgastantes
neuróticos
extenuantes

breve luz imersa em trevas
sabores doces amargos acres
distonia de equilíbrios

tênues
frágeis
voláteis

leveza de asas
correntes de pedras
mente viaja corpo se enterra...


CONFLITOS


sobre meus passos
meu peso obtuso
minha mente difusa

meus ares e ais
indagações
conjecturas

minhas crises
análises
meus odores

dissabores
desandados
relaxados

a vida dissociada
posta de lado
meu tempo vago

vaga
vagarosa
vadia

morna
rotina
dos dias...

NOITES QUENTES


me inquieta as noites quentes
a pouca roupa e os suores
o andar semi-nu pela casa

o abrir e fechar da geladeira
a insônia partilhada na leitura
os indefectíveis ponteiros

marcando minutos
passos
lembrando horas

não tarda a balburdia matutina
as pessoas e seus sons
os carros fumaças e buzinas

a vida reinicia a sua rotina
adormecida
entre duas fases do dia...


terça-feira, 3 de março de 2009

DESCOBERTAS...


nada que ficou comigo
foi de inopino leviano
foram-se os enganos

varredura das impressões
vinculadas na fisionomia
estigmas, convicções

tudo que é vão temporão
não sobrevive aos trancos
e aos argumentos francos

tivesse ciência antecipada
seria a trilha evitada
mas desvios são acertos

no aprendizado da jornada
necessários erros
tardio discernimento


nas ventanias efêmeras
vencendo intempéries
fruto verde amadurecendo


áridas desventuras
amarguras e espinhos
palmilhando rotas e caminhos...





domingo, 1 de março de 2009

POLÍTICA *


somos partes de um todo
temos responsabilidades
nossos atos atitudes

são repercutidas unidas
não estamos sós
nossos gestos mensagens

na aparente indiferença
metamorfoses posturas
anuências permitidas

no silêncio consentimentos
concessões indesejadas
inércias pronunciadas

no coletivo colhemos
reflexos das negligências
vítimas das omissões...