sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PLANETA HUMANO

Ainda que sejam
Os atos tidos
Simplórios, pequenos


Os sussurros
Murmúrios
Soluços


Importa saber
Que o cantar
E o sofrer


Não são únicos
Ressoam
Ecoam


Sensibilizam
Emocionam
Alentos de vida


Comunicam-se
Identificam-se
Por não estarmos sós...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

N A V E G A N T E S

barco à deriva
em mar bravo
ondas temerosas
a luta na superfície
temendo os abismos
inescrutáveis
humanos seres
batendo-se atordoados,
da vida exaustos



mas, como a embarcação,
mantendo-se sobre as águas,
em vão adiando o inexorável...

( 28/02/2011)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

TRANSIÇÃO

Avantajavam as pernas,
                        Mal as ocultavam as vestes
Os seios espontâneos
                        Insinuantes sob o tecido cru
Lábios carnudos e femininos
                        Explodindo na face morena
Cabelos em desalinho
                        Revoltos na testa e dorso
Olhos jabuticabas
                        Matreiros e fascinantes
As formas exorbitando
                       No corpo modulado de fêmea
As mãos finas e impacientes
                       Detendo o pudor
Fruta de meia-estação
                       Borboleta deixando o casulo
Instintos em apuros
                       Frenesis e torpores
Malícias às escondidas
                       Sorrisos à mostra
A primeira aventura
                       Um beijo à socapa, um abraço
A confidência e a descoberta
                       A imagem vaidosa no espelho
A carta, o bilhete, o flerte
                      Os projetos e o amanhã
Na lábia das maravilhas
                      Desejos e receios
A flor beijada pelo inseto
                      A ânsia e o ato consumado
Amadurecem os sonhos
                      Livre mariposa, rosa aberta
Ave exigente
                  De asas adultas
Da pequena restou a meiguice
                  Da mulher surgiu o sensual
Nas maças das faces,
                  A chama flamejante
Ardente fogo avassalador
                 Como rainha subjugou mil súditos
Do forte fê-lo frágil
                  Fascinado nas carícias
Do macho quedou-se criança
                 Necessitada de colo
A tantos fez-se desejada
                 E nenhuma a satisfez
Foi Ana, foi Maria
                 E tantas outras
Fantasia de grandes paixões
                Fruta enigma
De todos a mulher
                A menina, de ninguém.




( versos meus encontrados em velhos escritos, 1980)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


T R É G U A S

T R É G U A S
 SELECIONADA PARA PUBLICAÇÃO EM LIVRO DA 87° ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS, EDITORA CBJE, RIO DE JANEIRO, FEVEREIRO DE 2012.  Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.



Noites que nos acolhem
Convite ao refazimento
Pausas nas lidas nos recolhem
Na distância do alheamento

Corpos ressonam nos alívios

Das estripulias dos dias
De energias novas redivivos 
Pacificados nas lutas rotinas

Silêncio que nos acompanha

Vereda insondável estranha
Viagens distantes das retinas

Manhãs ressurgidas nos vagidos

Na balbúrdia dos zunidos
Reinício nas batalhas matutinas... 

    quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

    E X P E R I Ê N C I A S

    E X P E R I Ê N C I A S
    Selecionada para publicação no livro: POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS N° 86, editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, CBJE, Rio de Janeiro, janeiro de 2012.  Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.



    Vaga o pensar indolente
    Acurado nas experiências
    Nos refolhos da mente
    A trazer reminiscências 

    Iguais ou análogos
    Fatos desbotados
    Em íntimos diálogos
    Infortúnios relembrados

    Volta ao presente
    As incúrias no ausente
    Das primevas ilusões

    As dores de outrora
    Alerta-nos agora
    Em sábias precauções...



      ssSelecionada para gigurar no li POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS, eidotra CBJE, RIO DE JANEIRO/RJ, JANEIRO DE 2012

      terça-feira, 10 de janeiro de 2012

      SABEDORIA DOS TEMPOS

      os fulgores da mocidade
      nos tempos
      à mansidão da meia idade

      vivências estabanadas
      levianas em impulsos
      memórias repassadas

      vitalidades, ousadias,
      trânsfugas aventuras, 
      alacridades lembradas

      sábia sincronia 
      na madureza o siso
      da juventude fugidia...


      (26/10/2010)

      sábado, 7 de janeiro de 2012

      NATUREZA MORTA ( CONTO )

      Ao avistar aquela paisagem, adentrando o terreno, onde enorme porteira sinalizava os limites da propriedade, sobressaía a construção alta, com sua imponência, apesar do aparente abandono. Seguidos por um rapaz negro que demonstrava conhecer os meandros, não só da fazenda, mas das biografias de seus antigos proprietários e moradores. Contando, aos poucos, de acordo com que a curiosidade fosse solicitando. Vivia ali, plantando e colhendo em pequeno espaço, à troca de cuidar do casarão e dos arredores, cercados de matos.


      Assim, pasmos, os visitantes verificaram a existência de um poste com argolas, sobre uma pequena elevação de pedras, existente no adro fronteiriço à entrada, como os utilizados para o suplício humano de negros escravizados. Então, repetindo o que sabia de seus pais e avós, o rapazote esmiuçava o enredo que, de tão repetido, parecia vivê-lo, ao contá-lo em detalhes aos atentos ouvintes. Era a herança que recebeu de seus tiranizados antepassados, narrativas de seus sofrimentos pela dominação branca. Arrepios de compaixão ao imaginarem as dores físicas impingidas aos escravos.

      Adentrando o edifício imponente, sem perder a majestade, embora envelhecido nos anos, o ranger da madeira do assoalho, a escrivaninha grande no antigo escritório, com alguns objetos sobre ela. Os janelões rangendo ao serem abertos, como se acordassem após longo sono. O Sol penetrando, denunciando paredes enodoadas pelo tempo e descaso de uma casa abandonada. Imagens em estatuetas de alguns santos católicos, em nichos, revelando religiosidade, uma espingarda enferrujada, chapéus de palha apropriados para se defender de dias quentes. Alguns facões grandes, de abrir picadas em matas, encostados ao lado de uma cristaleira. Nas gavetas, abertas, quinquilharias, algumas moedas do império e notas de papel desvalorizadas 

      Andar pelos corredores da propriedade deserta era como viajar em sua história, reacender o seu passado, penetrar na intimidade de seus moradores falecidos. Quartos de portas grandes e janelas de madeira com tramelas, camas que mantinham algum arranjo, véus que cobriam, protegendo dos mosquitos, criados-mudos sisudos, urinóis de ferro esmaltados em porcelanas, sob as camas. 

      Vidas paradas no espaço remoto de outros costumes, passeio que lembrava visita a um museu. Moradia de fazenda, rodeada por varanda, alta em referência ao solo, na qual destacava-se um pequeno sino, a chamar a atenção dos visitantes. Tratava-se, explicava o cicerone, de um sinal para chamar os filhos dos aldeões para as aulas, concessão estranha para a época, comentavam os informados. Benesse concedida à filha do patriarca, intercedendo junto ao pai pela devoção às crianças negras.

      Só os passos, provocando ruídos, se ouvia naquela incursão de estranhos em visita. Ausências de coisas e pessoas se denunciava, como se recolhida em outra era, gruta inescrutável em tempo moderno, canto conservado em suas relíquias e saudades. Sinais de outras vidas, outrora habitantes, em seus afazeres diários. Divisões de alvenaria registrando vestígios, presenças pressentidas em imagens imaginárias, a andarem pelos corredores, na azáfama de suas rotinas.

      A casa de banhos, com suas bacias sanitárias, onde os dejetos, na ausência de canalizações do esgoto, caíam direto na senzala, habitação de escravos e empregados livres, posto que o escoamento dos detritos tinha aquele destino, moradia situada abaixo da casa grande, talvez justificando a altura da edificação.

      Sem dúvida, um túnel do tempo, favorecendo devaneios e cenários para remontar a história, num passeio pelo pretérito. Como testemunhas daqueles recuados anos atestavam as colunas que sustentavam a construção, ainda sólida, embora desabitada, revelando sobriedade e resistência às intempéries na conservação. 

      Vasculhada em sua intimidade, parecia ganhar vida, possivelmente movida pela imaginação dos presentes, tentando remontar enredos e adentrar naquele universo distante do calendário atual. Gritos mudos, lamentos de vidas exploradas até o limite de suas forças, tangidos como gados da longínqua pátria africana.

      Nos ares o barulho impiedoso dos chicotes vergastando carnes em horrores, de dores físicas e morais. Aquelas surdas lamentações pareciam voltar com o vento brando, choros e lágrimas, imprecações e fúrias contidas.

      Percorrendo o terreno limítrofe ao quintal, chamava a atenção um esquecido cemitério, assinalados de cruzes de ferro, sepulturas da família senhorial, deserta área invadida por ervas daninhas. 

      A propriedade em sua imponência e requinte de outrora, dos brasões de família e de orgulho de casta, restava aos seus donos apenas cruzes encarquilhadas em ferrugens, atestando seus perecíveis restos mortais, na altivez e tristeza, na lembrança inglória e desonrosa de um pelourinho tiranizando seus semelhantes, iguais em espíritos, distintos apenas na cor da pele... Curiosamente, apenas em uma cova havia plantas não daninhas, mas margaridas brancas a cobri-la, aonde repousava a filha, preceptora, que ensinava e intercedia pelos pequenos descendentes dos escravos.

      Nas espirais dos tempos, esmaecidas lembranças narradas aos visitantes pelo bisneto de negros escravizados, protagonistas da história escrita com sangue e lágrimas, trazendo à lume, vidas ausentes, naquele cenário de natureza morta...


      Selecionado para figurar em livro na Antologia Contos de Outono, edição março de 2012, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ

      quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

      DORES PASSAGEIRAS

      Vento brando
      Tarde morna 
      Soluço em pranto
      Lágrima entorna

      Reminiscências assim
      Num lapso de tempo, 
      Indecisão, desatento,
      Fragrância de jasmim


      Revolta imanifesta
      Alegria contesta
      Sofreres sem fim


      Na canção pacífica
      Íntimo se sacrifica
      Na lembrança ruim...

      terça-feira, 3 de janeiro de 2012

      VISÃO DE BELEZAS ( CONTO )


    • VISÃO DE BELEZAS   ( CONTO )



    •  
      trabalhar era para fazer durante o dia, a noite era paralazer e descanso, aquilo estava mexendo com seu metabolismo na inversão dos seus costumes, andava impaciente, intolerante consigo mesmo. Acabava por chegar no horário em que a maioria dos mortais se preparavam para sair, e ele chegando para dormir. Pior de tudo era a perda do sono, depois de cochilar entre uma ligação e outra do plantão no suporte para clientes do banco. Havia sempre alguém para infernizar nas madrugadas, razão pela qual era necessário estar a postos. O fato 
      bom  era o acréscimo no salário pelo adicional noturno, aquilo amenizava um pouco o incômodo, mas não supria o desconforto de alterar os costumes. Tinha o dia de sol quente para dormir e a noite para trabalhar, o difícil era conciliar o sossego com os naturais barulhos da vida cotidiana de um dia claro, movimentado, assim estava se tornando um sonâmbulo...
      Acostumava chegar em casa e ir para a cozinha, se controlando para não tomar café e acabar de vez com o sono, necessário descanso, assim tomava um copo de água, esperava sentir o torpor do cansaço para enfim recolher-se ao leito. Da janela em que estava absorto tomando em goles a água, observava desatento uma sombra humana, que apesar de ainda tão cedo, mexia com a terra de uma floreira de alvenaria no prédio, o pequeno jardim suspenso ficava no parapeito da janela, onde debruçada, revolvia a terra e ajeitava as plantas, belas rosas e margaridas... A cozinha dava visão  para os fundos do prédio fronteiriço.
       Cada louco com a sua mania... pensava esboçando um riso. Esse procedimento era diário, todos os princípios de manhã em que retornava, enervado do trabalho, contando os dias para voltar à sua rotina normal, via sempre aquela figura feminina naquela tarefa de cuidar daquela floreira, que, diga-se, estava exuberante, dando frutos, ou melhor, flores, rosas brancas, vermelhas e amarelas e graciosas margaridas e até crisântemos. A faina acabava já com os primeiros raios de sol, quando os pássaros, em alegre algazarra, vinham visitar aquela florista, como que compartilhando de seus afazeres entretida em sua paciente ocupação diária, até a delicadeza de beija-flores eram vistos, aquilo o entretinha, até que, vencido pelo cansaço, cedia ao sono reparador.
      Nos dias que se seguiram, como um ritual, acompanhava a movimentação daquela mulher, entretida com sua roseira, bem cedo, quase ainda na madrugada, sempre pontual, presente em seu posto.. Acostumara-se em observá-la, aquilo fazia com que esquecesse os incômodos que sentia pela inversão de horários de trabalho e as chateações  suportadas nas noites intermináveis com o descanso incomodado e interrompido, além dos clientes insatisfeitos transferindo a ele, atendente, seus azedumes e mau humores.
      Certa madrugada, chovia, entrou rápido em casa, pegou o copo com água e, pasmo, observou que a mulher, com um guarda chuvas aberto,  protegia o jardim suspenso, tentando evitar que suas flores fossem danificadas pelos excessos da chuva... ali permaneceu, vigilante, até que as águas fossem amainando, virando chuviscos.
      Aquela cena surreal durou algum tempo, onde via-se na torcida por ela vencer as forças da natureza, parecendo um Davi em luta com um Golias, portanto como arma apenas um frágil protetor desafiando a força indômita, até a água amainar e ela fechar o protetor de suas queridas flores... Então foi vencido pelo torpor do cansaço.
      Acompanhava o desenvolvimento das plantas de tenras a adultas, brotando vivas, oásis colorido em contraste com a parede quase cinza de fumaça do edifício. Ela trabalhava incansável em cada nascer do dia claro, e ele passou a assisti-la de longe, até que,  sempre vencido pelo cansaço, adormecesse.
      Estabelecia-se uma nova rotina, a de assistir o trabalho meticuloso daquela estranha mulher, jovem ainda, talvez bela, pois não conseguia vê-la em detalhes, dada a distância. Mas o que o surpreendia era a assiduidade com que ela cuidava daquele espaço florido, parecendo que rejuvenescia a cada dia em esplendorosas cores nas vivas flores, tal o enfeite em uma natureza inexpressiva, até agressiva pois era um paredão escuro, sem pinturas há tempos e enegrecido pela fuligem sedimentada em anos de descaso. Assim, sobressaía naquela paisagem lúgubre a beleza daquele verdadeiro enfeite natural, quebrando a sisudez do cinza plúmbeo.
      Passou a nutrir por aquela pessoa desconhecida uma admiração especial, como se fizesse, sozinha, num  trabalho de formiguinha, toda a diferença.Enaltecia daquele pequeno jardim, como uma desculpa pela presença sombria daquela edificação mal cuidada. E, sem se dar conta, era seu espectador à distância, entretido com seu trabalho diuturno no raiar das madrugadas.
      As férias  do colega se consumiram, ele voltaria ao sonhado horário normal, onde se trabalha com a luz do dia e se descansa nas noites.
      Entretanto, permanecia aquele desejo de apreciá-la em seu trabalho, ganhara um admirador anônimo, jamais percebia que era vista e acompanhada de outra janela, de uma cozinha, por um morador que, por força das circunstâncias, madrugava.
      O tempo se encarregou de as coisas, para ele, voltar à normalidade, sendo a imagem da florista uma lembrança terna que ficou na memória, já não a acompanhava, dormia naquele horário, só acordando mais tarde...
      Numa manhã de domingo, saindo para dar um passeio, enquanto esperava para atravessar a rua, a viu de longe, parecia ser ela. Dava a entender  que tinha dificuldades para transpor a distância entre as duas calçadas, ou seria impressão dele ?  Aproximou-se.
      _ Bom dia, posso ajudá-la em alguma coisa ? Só então observou que ela tateava com um pequeno bastão, próprio para pessoas com deficiência visual. Agradecida, deu o braço para que fosse transposta entre as pequenas distâncias.
      - Sou seu vizinho, do prédio em frente. A via cuidando da sua floreira, sempre bem cuidada, lindas flores...
      - Então, apesar de não enxergar muito, a ouviu satisfeita:  são a minha vida, uma forma que encontrei de saudar sempre um novo dia... muito obrigado !
       Ela se afastava, e ele, lágrimas escorrendo, colhia mais uma flor no jardim das lições da vida...

      *Texto selecionado para figurar em livro Crônicas "E lá vem a esperança..." novembro de 2011, editora CBJE/RJ