quarta-feira, 31 de agosto de 2011

HUMORES II

dos semelhantes,
convivo com os tolos
divertidos e otimistas

os intelectuais dão azia
 fazem  ver minhas tolices
e esmurram meu estômago

não os encontro nas esquinas
os leio a contragosto
me reviram do avesso

dão sempre a sensação
de que nada sei
estão certos, incomodam

os ingênuos me falam amenidades
do tempo, das mulheres, de futebol
contam piadas manjadas

dos pensadores e analistas, 
aos meros mortais, festejos e crenças,
sigo iludido, rindo e vivendo...



23/01/2011

domingo, 28 de agosto de 2011

LENITIVOS

Hoje, anelando forças, buscamos
Asas felizes adornando o passado
Quando  igualmente pranteamos
Desilusões em pranto derramado


Dourando os tempos
Crendo-se saudosos
No ontem apagados contratempos
Lágrimas esmaecidas, sofreres custosos 


Doce vida vivida, a revivê-la,
Floreando  felicidades passadas
Tolerâncias e arrimos a socorrê-la


Álbum de retratos, ensaiadas
Poses e risos em instantes a retê-la, 
Fugazes tréguas, dores aliviadas ... 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ENFADO

o enfado me visita
com constância
e insistência
como se possível fosse
apenas enfadar-se 
e deixar por isso mesmo
mas ocorre que viver
não obedece humores, 
não se dá um tempo, uma pausa,
vive-se como se respira,
questionando ou não,
enfadado ou não...
independe de estado de espírito
as contas vencem nos prazos
corro como cão atrás do rabo
e a vida passa,
ora alegre, risonha,
ou enfadada e insossa
como água corrente
imperturbável, ora serena,
ora transborda, sai das margens,
mas o que interessa mesmo
é que não há interesse algum
se me enfado ou não
não muda nada,
sou água corrente,
seguindo o leito do rio...



(29/12/2010)

EXISTÊNCIAS

um Ser, um Ente,
civil identificado:
rg, cpf e outros

na essência
transeunte
passageiro do tempo

universo contido
no físico e sentidos,
caminhante

experiências nas dores
suavizadas na fé
resignado, persistente

uma estrela encarnada
nas vestes de um adulto
nas carências de um menino....



(01/2011)

HUMORES

poderia ser diferente
de trás para frente
ou de pernas para o ar

menos ruim
a monotonia
do mico a saltar de galho em galho

um gavião no olhar arguto
a espreitar a presa
garras certeiras no voo rasante

a girafa e seu pescoço
no andar feminino
a buscar a planta no alto

mas, humano, me arrasto
nas calçadas esburacadas
sempre levando algo, além do enfado...



01/2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

REVERBERAÇÕES DO SOL

nascendo, surgindo,
reverberando rios e mares,
estradas, florestas e vales


suave, matutino,
vem nos avisar
o reinício do dia


vãos e frestas das cortinas,
vazando, atrevido e tépido,
substituindo a luz artificial


na majestade de seu reinado
vivificando, alegrando as gentes, 
calor nas rotinas de suas existências


aquece, ilumina, irradia
fotossíntese nas plantas 
energia da vida...



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

T E M P O

Areia a escorrer pelos dedos
Redemoinhos no pensamento
Nostalgia de um tempo


Ampulheta vertendo
Espaços e distâncias
Sincronias e ausências


Célere a finar,
Esvoaçantes
Perdendo-se ao vento


Trens de embarques
Despedidas
Chegadas e partidas


Sede de viver
Deter os ponteiros
Negando o sofrer...

sábado, 20 de agosto de 2011

CANÇÕES & EMOÇÕES

Canções  nos ouvidos
Bailam docemente
Instantes comovidos
Íntimo,  envolvente 

Nada há que possa
Mensurar fielmente
Em verso ou prosa
Supor sutilmente


Represadas emoções
Fluir da bossa, sensações
enlevando-se  ternamente


A cada um seus sentidos
Em instantes emotivos
Trazidos suavemente


Passagens de vidas
Lembranças queridas
Visita ao ausente......



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A B S O L V I Ç Ã O ( CONTO )



Naquela efeméride funesta, compareceram muitos. Por diferentes razões ladeavam o cadáver, ornado com as flores a rodearem-no, emprestando um solene ar de despedidas ao defunto.  Aparência estranhamente angelical, maquiado, cercado de lírios brancos, antes recordando uma criança inocente  e não a um adulto na meia idade. Quatro grandes velas, em chamas bruxuleantes, erguidas em castiçais de metal, delimitavam as extremidades do ataúde. À cabeceira, a imagem com um Cristo Crucificado, como se olhando o inerte corpo velado, esperando-o de braços abertos. 

Na imperturbável calma ambiente, cada qual trazia seus pensamentos para com o homenageado. Raras lágrimas verídicas verificavam-se. Contudo, guardavam respeitoso silêncio. Se as mentes, todavia, fossem ouvidas abertamente, por certo as impressões não seriam as mais recomendáveis, mas, na hipocrisia da mudez, compunham um cenário apropriado para o evento.

Cada qual mergulhado em suas cogitações, só propícias nestas ocasiões em que a efemeridade da existência e das ilusões ficam latentes no íntimo de todos. Diferentemente das alacridades de qualquer festa, das inúmeras patrocinadas pelo então anfitrião, aqueles momentos convidavam, compulsoriamente, às reflexões menos levianas.

Nenhum comentário ouvia-se, as pessoas traziam vestes sóbrias, aparentemente enlutadas. Nas feições  denotavam recolhimento, como se estivessem em secretas orações. Cada um no inescrutável de seus recônditos íntimos analisavam livremente o sucedido, nem sempre amáveis ou tolerantes.

No segredo de cada consciência, reviviam-se cenas onde o morto, vivíssimo, se movia, em atitudes imponentes e reprováveis, sendo julgado naqueles momentos, onde a ira da incompreensão,  sem censuras e testemunhas, cobrava ajustes e acertos, no desdém da compaixão humana.

Ora avultava o inescrupuloso e frio capitalista, onde o lucro era sempre a meta, não importando os fins. Ou o renegado bastardo, reconhecido à força da lei, reivindicando parte na fortuna legada. Mulheres enlutadas, além da esposa oficial, diversas outras ocultas, muitas consorciadas ainda com seus esposos ali presentes ao funeral, traziam lembranças de aventuras inesquecíveis com o féretro velado, boa vida e generoso com as amantes.  Os filhos, displicentes, pareciam cumprir uma encenação ensaiada, onde tinham que manter a postura de recato e discrições.
A cônjuge, aparentando equilíbrio, ereta, parecia vagar em reminiscências distantes, o véu leve e escuro, retratando os pêsames vivenciados.
A mãe do falecido era a exceção, realmente lamentava em breves soluços, a ausência do filho.
Cumpriam à risca o figurino desenhado para a ocasião, como se aguardassem, pacientemente, o passar das horas para o sepultamento, e livrarem-se dos incômodos daquela cerimônia fúnebre. 
Muitos não arredavam o pé dali, antes, pareciam fazer questão de demonstrar consternação pelo velório de um suposto amigo. Na vaidade da ostentação significando os privilégios do gozo da intimidade de importante homem da sociedade, interesse almejado pela maioria dos presentes.
Orações foram ouvidas, apenas com a regência do padre, especialmente convidado para a missa de corpo presente, ainda assim repetidas palavras, desprovidas de real emoção ou devoção.

Se pobre fosse o legado material, por certo gozaria o despedido de raras lembranças. Ao pó veio e ao pó retornaria, esquecido simplesmente. Pelo menos não ouviria nos recessos de sua memória imortal, as zombarias e maldições dos que ficavam. Raras defesas, isentas de vantagens, a advogarem a sua passagem. No mais, figurava como um homem ardiloso, sagaz e nada escrupuloso em suas ambições de dinheiro e poder, não conhecendo limites  e valores éticos.
O estar ali, no meio das atenções, diverso de uma manifestação de solidariedade e respeito,  figurava-se no centro de um tribunal em julgamentos, onde as mentes, gozando o benefício do sigilo, arbitravam penas pesadas, já que a justiça terrena, por compadrios e influências, o livraram de qualquer condenação.

Nada como o tempo passado, a esmaecer biografias carregadas. Honrarias e discursos encomendados ao sabor do protocolo das conveniências. Últimos atos encenados no palco da efêmera vida, de acordo com os usos e costumes, aquinhoados  em moeda corrente.

Enterrado o corpo, os despojos no ritual da despedida, como notícia envelhecida, a vida continua para os que ficam, para os que vão, resta o ostracismo das vagas recordações. Para o falecido, os enganos de sua trilha, absolvidos, relevados, amortecidos no esquecimento. Anistia recebida pelo desprezo, não por méritos e reconhecimentos, mas pela ausência definitiva.
Águas passadas, esmaecidas as memórias, resta na lápide a imagem santificada. De fraca e pecadora, só menções boas, cada vez menos real, até cair em vagas lembranças, ressuscitadas em mito santo, a figura de carne e de vícios...
Morta, por fim, a face humana.  

texto selecionado para figurar na Antologia Contos do Fim do Mundo, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, agosto/2011   Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

TELA CINZA

Enredo tristonho
Carícias relembradas
Cicatrizes de um sonho
De almas machucadas

Tão doce sabor
A princípio o mel
Paixão em ardor
Resultando em fel

Voltas da vida
Imagem sofrida
Tempo cruel

Torvelinhos da ilusão
Esmaecida sensação
Tela cinza no pincel

l

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

RODA VIVA


Unidos desconhecidos
Mansa turba caminhante
Em suas rotas distraídos

Enfiados em si mesmos
Na pressa de chegar
A um lugar de nome lar

Onde frente à televisão
Vão cochilar e acreditar
E
squecer se esquecendo



Fazendo contas, planos,
Adiando a vida, sonhos,
Para um amanhã talvez



Comendo fatos boatos em arrotos
Falas
mal digeridas desatentas
 
C
onfundidos em alienados apetites


Na roda viva, despertam amanhã, 
Reiniciam a marcha sonoletos
Ilhados em si, solitários entre iguais


Apressados, compassados,
 Compenetrados, atolados nos coletivos
Seguindo seus caminhos e destinos...


*Selecionada para figurar na Antologia Especial Roda Viva, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, agosto 2011    Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.

sábado, 13 de agosto de 2011

A VIDA EM TECNICOLOR ( CONTO)

Os olhos fitavam com assombro aquela situação nova, trocara ruas pacíficas, onde galinhas e cães displicentes passeavam, pelo rebuliço, surreal realidade terrífica, alimentada na mente fantasiosa. Figuras dantescas, imponentes, como a esmagá-lo, onde apresentava- se insignificante, reles formiga, avistando os ameaçadores arranha-céus, vistos do chão, pareciam gigantes a ameaçá-lo em sua postura frágil, de adolescente caipira, recém oriundo de um mundo diverso e distante.


Alienígena  pisando em outro planeta, incomodado com a algaravia  estrepitosa a assustá-lo, tudo era assombro e novidade. Ainda vivendo em dois mundos, o real e o fantástico em tecnicolor, aturdido com as cenas de filmes assistidos naquelas tardes domingueiras, único atrativo disponível para preencher o vazio daqueles dias.  Embrenhava-se nas salas escuras, sedento de outras realidades, pagando  um ingresso, esquecia de si e de seu mundinho tacanho, viajando na fantasia onde sentia-se realizado, facilitando a ilusão e o passar do tempo, medidas para evitar o tédio sempre a espreitá-lo. Como uma sombra a esperá-lo na saída, acompanhando-o, assim que acendiam as luzes, espantando as quimeras, trazendo-o ao mundo real.


Recém chegado de pequena cidade, sem amigos e ambientes, restava apenas freqüentar  cinemas, aos domingos, entretendo-se, vivendo emoções a ajudá-lo a transpor o tempo na entediada solidão da grande cidade.


Enquanto tantos na escola aguardavam ansiosos pelo final de semana, ele, encolhido na sua timidez , sofria o peso daqueles dias, em que o movimento das ruas escasseavam, embora estivesse em uma megalópole, as pessoas transitavam em ritmos diferentes, alegres e acompanhadas de seus pares. A ele, apenas o andar cabisbaixo, mãos nos bolsos, perdido em suas íntimas cogitações, como um peixe fora da água.


 O mais contraditório para si era abominar a pacatez bucólica dos vilarejos onde nasceu, passou a infância e entrada na adolescência, como se reclamasse a falta da agitação em que se via inserido agora. Ocorria uma transformação radical e repentina, fazendo-o um Ser em terra estranha. Não tinha saudades de sua solidão, apenas percebeu que de tão sua, jamais o largaria.


No vagar solitário, parecia que a maldição dos domingos o perseguia, sempre sentindo-se só naquele dia da semana, estranha sensação vinda de muito tempo. No seu local  de origem, estes dias lembravam os circos mambembes, chegavam trazendo novidades à cidadela, alterando o panorama parado daquelas vidas infantis. Ficavam pouco tempo, momentos de agitações e divertimentos, até irem embora, e tudo voltava à mesmice das plácidas rotinas, levando a alegria ambulante em suas lonas remendadas como colchas de retalhos.


Tentava superar aquele padecimento, achava-se infinitamente só. Sem conseguir entender e codificar o que fosse aquele sentimento, sofria não encontrando respostas que o animasse, justificando tanto penar. Os olhares traíam o sofrer angustiado, inútil brado silencioso e despercebido por todos, talvez também presos em suas angústias nos labirintos pessoais.


 Em sua infância o visitava, amiúde, aquela sensação de tédio inexplicável, principalmente no sétimo dia, onde todos se apinhavam no estádio de futebol, coisa que nunca lhe interessou, ficando desertas as ruas, tendo um sol inclemente por companhia e seus passos desalentados a percorrê-las. 


Tinha algum destaque nas aulas de português, no antigo curso ginasial, às quartas-feiras, dia de redação, tema livre. Então suas inquietações, mal escritas, choravam em folhas, atraindo a atenção do professor, benévolo com a ortografia claudicante, atraído, contudo, pelas criações daquele aluno acabrunhado e triste, mas por ele tido como fértil e imaginoso em suas narrativas. Acesa estava a literatura, consolo para o enigmático aluno, momentos raros a atrair a atenção dos demais estudantes. Tempos depois, amadurecido, julgou compreender que tais estados da alma lhe propiciariam fugas, ensimesmado, fazendo enredos e falando consigo mesmo, em curiosos solilóquios, tendo os livros por companhia. Recordava que a maneira achada para se sentir percebido pelos demais na escola, era escrevendo textos para serem representados, onde cada qual disputava um papel e assim o incluíam em seus grupos, por puro interesse.


Durante os demais dias da semana, na azáfama programada, embora rotineiros, distraia-se nos movimentos, afastava aquele sentir desolado, uma nostalgia sem saber do quê. Sua mente juvenil não conseguia dar vazão àquele ostracismo a martirizá-lo para dentro de si, magoando-o.


E agora aqueles prédios, jamais imaginados, parecendo olhá-lo do alto, figura insignificante,  a andar pelas ruas estranhas da cidade imensa e fria. Como a vida lhe soava insossa naqueles momentos, perdido em divagações sombrias. Não havia cores que o despertasse de seu mutismo, aliás, tampouco uma amizade para partilhar conversas,  dividir anseios, ver-se menos solitário. Os colegas na escola tinham assuntos tão distantes de sua familiaridade, falavam em dialetos, a mantê-lo alheio,  pertenciam àquele mundo moderno onde se figurava visitante mal recebido. Era desajeitado, caipira, intruso. Ainda por cima, curtia um dolorido e  platônico amor por uma colega, aquilo o afligia sobremaneira, colocando bilhetinhos sob um busto de bronze de uma estátua existente no corredor, esperançoso de receber alguma resposta, que nunca veio. A amava em sua ingenuidade interiorana, com seu silêncio e tormentoso segredo a sete chaves escondido.


Incrível e sofrido sentir-se só na multidão, cada um vivendo seu universo pessoal, fechados em si mesmos, inescrutáveis a terceiros. Manada de seres de passos rápidos, sempre buscando alguma coisa, não importando o que. Aquela balbúrdia sonora, de impacientes motoristas presos nos congestionamentos intermináveis, ruídos de ambulâncias, bombeiros e policias com suas sirenes tresloucadas reivindicando passagem entre os carros, infernizando ainda mais o trânsito já sufocante.


Atraía-o a nave irresistível, imensa tela branca, dividindo dimensões, a arrastá-lo proporcionando frenesis que o aborrecido viver cotidiano desconhecia. Assim, via-se em mil cenas, transportado da cadeira como passivo assistente, para os céus de empolgantes estórias, vivendo as personagens, beijando tantas lindas fêmeas, sendo disputado por elas. Sobrevoando alturas, homem alado, super herói, enfrentando mares bravios, vencendo gigantescas serpentes e dragões,  escalando duras escarpas, encarnando personagens, utilizando-se de tantas vestes, vendo-se em outras paragens. Gritando em altos brados, fazendo-se ouvir  e sendo respeitado, até descansar extenuado de tantas aventuras.


Acendiam-se as luzes, das fantasias despertado, sonolento, dando passagem para o parceiro ao lado, pessoas levantando-se de suas poltronas, passageiros das ilusões retornando, evadindo-se da sala, o filme de ação terminado. Ecos das emoções deglutidas, universos fantásticos rebobinados nas câmeras cinematográficas.


Voltava às ruas, vagando, aluado, na modorra da rotina fria, entendiado, ele e a sua sombra costumeira, a solidão...


* texto selecionado para figurar na publicação em livro Quadrilogia Elemento AR, editora Beco dos Poetas e Escritores, outubro de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

MATURIDADE

No ontem a pressa
Revolução, anseios,
Indignação urgente


No hoje o vagar
A temperança
Sem afogadilho


O rio segue o curso
Avança, por vezes amplia-se,
Imperturbável na trajetória


Lerdeza de velho
Anuências frouxas
Ou certezas de mudanças


Sem tiros e sangues
Rivalidades e ódios
Imposições e tiranias


Chegará a seu tempo
Na solidariedade entendida
Irmãos pela igualdade redimidos...

domingo, 7 de agosto de 2011

ESTRANHOS CONHECIDOS

A visão que temos de nós
Idealizações imaginadas
Dubiedades construídas


Mutáveis pelo meio
Assumidas conveniências
Camaleões na natureza


Coabitando o desconhecido
Habitando o mesmo Ser
Coexistindo sem questionar


Andando sobre os  passos
Reflexos na mesma sombra
A identidade compartilhada


Talvez passemos a vida
Na figura idealizada
Incólume pela existência


Sem nos apresentarmos
Ignorando quem sejamos
Na ilusão de nós mesmos...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CONTRAPONTO

Da dor, suas nuances inexistissem
Em livres versos não decantadas
Talvez, com fervor, só existissem
Belezas em palavras encantadas


Compondo em códigos verbais
O belo, repertório das ficções,
Sem angústias e seus ais
Contraponto às ilusões


Bom seria, todavia,
Que as dores da alma
Desafogos fossem em calma 
Blandícias, cantos da cotovia..

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ECOS DE ESPERANÇA

Mesmo narrando mágoas
nesta nau desgovernada
navegante em turvas águas


Clamando piedades
incômodas rogativas
denunciando maldades

Reclamando cuidados
realçando alheias dores 
sentimentos
 conflagrados



Cicatrizes  e gemidos
levo-os comigo
a ninguém peço abrigo


Ressoem estes cantos
carentes de encantos
lenitivos aos sofridos

Nas agruras dos destinos
mansos alívios fluam
meus gritos e desatinos... 



(22/01/2009)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

AUSENTE INSPIRAÇÃO

Fluam, obviedades
Versos mal ajambrados
Bailam leves inverdades
Retoques malarranjados

Ausentes deleites da vida
Fugas vãs, do nada vivida 
Ode a dor, enredos falidos
Velhos ecos, repercutidos

Amorfo sentir, arrastado
Confusa  lógica e sentido
Só, dentro de si, arrasado
Inarticulado grito, retido

Aonde andas, fantasia
Por que deixastes, na agonia
Mísero de paixões, incendiado
Em gestos e falas, amordaçado ?...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

VULNERÁVEIS SENTIMENTOS

Nas paixões, sensações
Uma flor, jardim efusivo
Sorriso, abraço emotivo
Luz nos olhos, emoções


Na íntima leitura
Um afago, candura
Traindo-se em querências
Um olhar, preferências


No universo restrito
Gemendo, sufoca o grito
refreado em comedimento
Amor transborda,  é sentimento...


* Selecionada para figurar na Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos n° 81, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, agosto de 2011