quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ASTRONAUTA DO ASFALTO

nesta tela o universo
nos sonhos decorado
a via láctea pintada
nebulosas e astros siderais

astronauta em terra firme
a cabeça no infinito
o corpo presente ausente
a imaginação itinerante

corcel alado
poeiras suspensas
nas estradas do mundo
girassóis redemoinhos

no mosaico de tons
desfilam sons
regendo orquestras
em notas angelicais

e do chão,
desejando as estrelas,
o sapo namora a lua,
sonha o menino encantado...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ONÍRICOS SOLILÓQUIOS

escrever é murmúrio
conversar sozinho
reunir palavras
buscando sentidos

para o dia a dia
a procissão dos fiéis
as heresias dos apóstatas
a dor imaginada

florindo jardins neutros
desapegos, desenganos,
garimpando enredos
amor com paixão

para, vivendo, viver
outras personagens
seus louros e aflições
sonhos e desilusões

banhando em luzes
outros cenários
animando o cotidiano
em novas roupagens...

BRILHO NOTURNO

um poste
rua deserta em noite chuvosa
hirto em sua pose inconteste.
ostentando a luz solitária
iluminando passos, farol majestoso

chora as lágrimas das águas
escorrem pelo seu corpo
banhando, aliviando,
calor inclemente do verão
amenidades outonais
rescende flores do jardim primaveril
e tirita ao frio no desabrigo do inverno

no despontar da madrugada
ao clarão do astro rei
humilde se apaga
mantendo no ar os fios entre iguais
um detalhe no dia,
ausente de brilho próprio...

domingo, 26 de dezembro de 2010

VAGANDO

pés na areia
breves vestígios
sumindo na água
lambendo pegadas

voos em distâncias
no corpo presente
alhures venturas
na mente liberta

brisa amena
sereno orvalho
manhãs campestres
no sol da praia

horizontes e mares
arrebóis nascentes poentes
instantes multicoloridos
nas ondas verdes azuis

vagar alheio
volteios no ar
íntimo em paz
êxtase de existir....

SOLITÁRIOS MÚRMURIOS

uivos lamentos na noite
distante lobo da alcateia
absorto no seu mundo

alcóolicos ares
mente liberta
dores extravasadas
lembranças funestas
hilárias e nem tanto

balanço anestesiado
de seus rancores
amores malamados
pilhérias e insucessos

universo restrito
no vazio da garrafa
reflexos condicionados
ao hábito da bílis saturada

entremeadas lágrimas
risadas amargas
piedade de si próprio
estrela embaçada
no brilho opaco
do vidro do copo...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

RESISTÊNCIA

idealizado cenário
mesclado de sonhos
e desenganos

lembrados amiúdes
rotineiras batalhas
ânimos na jornada

como uma tela
vitrais em mosaico
dosagens boas, ruins

temperos da vida
nem amarga em demasia
e encantada em otimismo

pedregulhos em pés descalços
areia fofa nos desdéns da dor
perseveranças como leme....

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

RECOMEÇOS

finda o dia
arrebóis no horizonte
sol poente se despede
clarão agoniza
transmuta em neons

nos postes
a luz de mercúrio
ilumina caminhos
orienta pedestres
transeuntes na noite

nos lares incendeiam
fosforecem lâmpadas
acalentos de afetos
retorno das lidas

no calendário
uma data vencida
renovadas energias
para o dia que virá

nascendo no cenário
astro rei brilhante
luzes e cantos
algaravias rotineiras,
a vida continua...

AUTOR & LEITOR

mudo contrato
tácito no silêncio
lidas páginas
vencida conquista

imerso no íntimo
da obra oferecida
navegante na ilusão
paixão, cumplicidade

desistência tediosa
quebrado encanto,
não acontecido,
entre as partes

mensagem sem ecos
parada na estante
esquecida

 se lida, vivida,
cores e flores,
missão cumprida....

sábado, 18 de dezembro de 2010

PALAVRAS

livres sugestões
no ar, suspensas,
arriscando enredos,
desenhados em prosa
ou mancos versos

buliçosas, atrevidas,
infestam toda a parte
anseiam forma,identidade,
não mais mera inspiração

clamam existência
seduzem em devaneios
encantam, inebriam,
consistência trazida
no hálito da escrita

massa de recheio
quitutes da cozinheira
argamassa do pedreiro
para quem as escuta
perscrutando anseios

palavras soltas
frases dando sentidos
corpos aos incorpóreos
deleites de sonhadores
das ilusões garímpeiros

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

FICTÍCIO SOFRER

descolorida musa
lamúrias irreais
sem nome e rosto

nem uma história
a se lamentar
ausências, em choro

difusa como o cinza
das chuvosas tardes
no anônimo das gentes

ah, como queria,
desculpa, razão,
desafogo em lágrimas

suspirar a dor
vivências, desditas,
de avassaladora paixão...

VAZIO

facetas do vazio
disformes formas
 na luz, sombras

presença ausente
partida de alguém
alegrias subtraídas

fantasia descolor
pálidos sorrisos
marejados olhos

insosso viver
a esmo vivendo,
sem tino, saudades

passado aguado
igual presente
irreais nostalgias...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CHUVA

intensa,
insano lamento,
aborrecida, breu no dia

lambendo calçadas
levando sujeiras
bátegas carregadas

ilhando pessoas,
retendo em tumultos,
lambidas molhadas

penetrando atrevida
na sola dos calçados
úmidas vestes e cabelos

imponente, autoritária,
a todos subjuga, 
cessa a lida, pausa exigida

até que toda lágrima
escorrida, exaurida,
consolada, deixe passar...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

IMPONDERÁVEL FELICIDADE

bom seria
se todas as aspirações
fossem encontradas

em neons luminosos
anúncios de ocasião
assinando cheques

realizados sonhos
desejos de consumo
imóvel e auto novos

talvez uma viagem
outros países
curiosidades

vontades satisfeitas. voltam
tédio e angústia nas buscas
da tal felicidade

os lunáticos não penam 
imponderáveis quimeras
na inesgotável esperança

viajantes nas galáxias
em anseios pelas estrelas
sem desistir de desejá-las...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

INDIVISÍVEIS ACERTOS

não abdico de meus débitos,
nem passo o leme da jornada,
à detentora de meus carinhos

assim, não digo:
és a razão de meus dias,
em figurado sentido

carregamos, cada qual,
desafios, aprendizados,
luzes e trevas do plantio

cruz não agravada
em alheios, amados ombros,
solidária amante, companheira

dos erros da caminhada
curto o fel das lições
resgate de desenganos

sofra eu mesmo,
suavizando pelo amor,
a semeadura dos desatinos...

A VERDADE DE CADA UM

no silêncio, solitários
murmúrios, aranhas
tecem teias, teço enredos

deleitosos devaneios
viagens, miragens,
utopias e terapias

reflexões ou fugas
gritos mudos
luzes ou insanidades

ociosos momentos
ares de desdéns
daqueles que não se atém

na ázáfama das rotinas
cada formiga com sua folha
universos em suas verdades

se lido, me alegro,
se não, os entendo,
a cada qual o que lhes convém...

domingo, 5 de dezembro de 2010

ECOANDO

cada mensagem
reverbera ecos
aplacando dores

manso canto
romântico iludido
bravio, desiludido

emoções transbordadas
decifradas, enviadas,
a semelhantes a ouvirem

seja o choro de suas lágrimas
ou esplendor de seus momentos
comunicando sua existência

águas de chuviscos
engrossando temporais
rios buscando o mar...






 

sábado, 4 de dezembro de 2010

O AMOR EM RELEITURA

o escrito poderia ser
direto, linear, objetivo,
declaração rasteira: te amo!

expresso assim, deslustra,
obscurece, é ordinário,
jus não faz aos sentimentos

belo e intenso, em cuidados,
requer seja enviesado
no escrever elaborado

mesclado em metáforas
analogias garimpadas
alegorias que enalteçam

seja como for, de amor,
não há expressão inédita,
meros reflexos em outras luzes

refletidas em todos os tempos
por todos os Seres
antepassados apaixonados

posto que o sentir é eterno
efêmeros os poetas e poemas
perenes as verdades e emoções...

UNIVERSO EM CADA UM

ninguém é mau
somos crianças
adultos infantis

temos cicatrizes
lembranças
boas, ruins

a maldade é dor
doença passageira
lições de redenção

em cada rosto
caminhos andados
histórias de vidas

esperanças e dores
aprendizes no viver 
risos e lágrimas...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

SACUDINDO A POEIRA

noite agitada
perturbada
mal dormida

vem o amanhecer
o sol vibrante
o recomeço

dores passageiras
toleradas, suportadas
detalhes da caminhada

breve o riso
o conforto
o renascer

sempre o antídoto
para as feridas
cicatrizes esquecidas

eternos amanhãs
acenando o viver
esperanças renovadas...

NOSSO MUNDO, PASSAGEM.

atmosfera de dores
incompreensões,
desamores

fomes
guerras
fratricidas disputas

lágrimas
de saudades
mortes, despedidas

nosso mundo
universo escola 
aprendizagens

ver as estrelas
aspirar aos céus
alados pássaros atados

no charco vicejante
caminhantes da longa jornada
burilando-se para espaços mais belos...

BREVE VISITA

brotou na face o brilho
incendiando, vibrando,
criança interior renascida

trazendo na expressão
raios revivescentes
 fêz-se alado

sobrevoou as aparências
vivendo em instantes
mágicos, oníricos

acima das conveniências
das formalidades
das frustrações mundanas

Ser angelical, divino,
rompendo véus
das dimensões paralelas

depositou flores
acarinhou o próximo
e voltou para a luz...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

SEM TRÉGUAS

queda o corpo
exaurido, cansado,
incessante a mente

viaja intensa
se delicia
e martiriza

busca nas imagens
razões de viagens
e azos  no tempo

mescla sensações
no olfato sentidos
recria cenários

ainda que o resto
reclame silêncio
turbilhões íntimos

não cede a guarda
sufoca, agita, anseia
em enigmas, labirintos... 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A ARTE NO VIVER

halos das inspirações
suores,  respiração
atos corriqueiros

assim, o jardineiro
na poda das flores,
a costureira a coser

o pedreiro e sua parede
a visão do arquiteto
a decoração aprumada

a criança e seu brinquedo
arrebóis no horizonte
o poeta e suas letras

a vida escola,
sofrida, curtida,
desafios e encantos...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ILUSÓRIAS VITÓRIAS

ouçamos os lamentos
de todas as civilizações
no enrodilhar das trajetórias

pedras sobre pedras
castelos desmoronados
fraticidas lutas pelo poder

efêmero como os ventos
mutantes em cada estação
poeiras dos tempos

títulos e honrarias
esqueletos e cinzas
estandartes em sangue

marcha penosa, medalhas,
renitentes penitentes
fátuos brilhos, pseudo vitórias...

APELO PAGÃO

Mãe, te endereço,
do filho  descrente,
um apelo, um sinal.

de suas vibrações de paz
no olhar abnegado
eflúvios amenizantes

ao fogo intenso
no íntimo penar
em que se bate

rogai, ó querida,
por este renitente,
a sofrer,

ingrato,
infiel,
que a ignora...


*Selecionada para figurar na antologia VERSOS PARA MARIA, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, julho/2011

ANJO OU DEMÔNIO

quem, do centro do tablado,
tênue iluminado,
deserto de alegorias, surreal;

faz-nos alçar em inusitados estados
pássaros desacostumados de voar
coniventes,acomodados, aparlermados

 franzina figura de evocação divina,
voz afinada e gestos intensos,
fazendo do pobre cenário, imenso;

desafios inquietantes inoportunos,
da poltrona à ousadia de pensar
provocando choros, gemidos, suores;

que Ser é este, magnânimo
ou satânico, em vestes divinais,
ressuscitando os mortos

das idéias fossilizadas
verdades consolidadas
para o sonho além, libertário ?...

IMORTALIDADE

voltaremos em contextos,
vindo inusitados,
ocasionais, despropositados

figurantes em  momentos,
numa conversa fiada,
num repente, acaso,

eis-nos, novamente em cena,
furtivos instantes,
revividos em lembranças 

de contemporâneos retardatários
estaremos ressuscitados
como personagens passados...

DOR & AMOR

rastros na caminhada
louvores em mel
feridas em fel

passos certos
incertos rumos
rotas imprecisas

pegadas lembradas
mágoas esquecidas
dores relevadas

vida vivida
curtida
sofrida

lições na dor
aprendizados
ensinos de amor...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ESTRANHO CONHECIDO ( CONTO)


A decisão de ali estar foi conflitante, luta íntima, inglória, um reclamo mudo, angustiante, de socorro, sem ,contudo, saber o que o esperava. Foram noites insones, avaliações da vida, sentimentos martirizados em reflexões. Um verdadeiro balanço de seus atos, um reencontro consigo mesmo, um reatar amargo com um passado que julgava superado.

Nos idos tempos, rompera com a placidez insossa de seus dias, renegando a apatia de seu cotidiano, dera uma guinada, um recomeço de rota, viagem sem espaços ao que deixava, em busca de um destino ignorado em novos caminhos. Atrás de si relembrava uma história mal vivida, angustiante, e deu asas a si próprio e ousou caminhar em novas estradas...

Mas, ali estava frente àquela casa que um dia habitou, a qual abandonou sem maiores despedidas, em uma incógnita retirada. Cansara-se de si mesmo naquelas rotinas, os papéis que a vida se lhe apresentara, uma casa para cuidar, mulher e crianças.Sentiu-se asfixiado naquele panorama, como se estivesse morto embora respirasse, refletisse, necessitava de ar puro, outros ares, novas tentativas de seguir andando, naquela situação, definitivamente, não se encontrava. Fora vencido pelo tédio do ir e vir ao modorrento trabalho e voltar para o lar em dias sucessivos e intermináveis. Lida insuportável, maçante. Rompera com isso há anos, evadira-se como um libertino, irresponsável, desatara por si mesmo os laços que o prendiam àquelas penosas obrigações, sem relevar seus compromissos assumidos com o enredo de outras vidas, esposa e filhos.
O que poderiam ter pensado de seus desatinos ? Enlouquecera, talvez, mas aonde andaria, teriam- no procurado ? Nunca soube, partira sem deixar vestígios, bilhetes, telefonemas, nada, assim fizera com a repartição em que trabalhava, simplesmente tomara outro rumo, em busca da ignota e sedutora liberdade. Na verdade procurou apagar seus próprios rastros, não se dando a pensamentos e preocupações que julgava inúteis.

Vagara por outros mundos, assumira outras funções, apenas o nome, por impossível de se mudar, continuou o mesmo.

Andara a esmo, curtindo cada aventura, sabores e dissabores de sua escolha. Mas voltava ao ponto de partida, uma bagagem apenas, uma roupa surrada, as cãs dos cabelos revelando tempos áridos e distantes, face sulcada, vitalidades pretéritas já no ocaso da existência. Um pigarrear incômodo, baços olhos a vislumbrar fronteiriço o lar , teto esquecido.

Lembrar-se-iam dele ? O casal de filhos já estavam adultos, seria a esposa ainda viva? Pensamentos a distraírem-no ante aquela casa, poucos metros o distanciavam até a porta da entrada, temores de tocar a campainha, talvez fosse melhor retornar sob os próprios passos, assumir a sua opção de ser só e independente... Fora-se ainda jovem, resoluto, por que retornar, velho, alquebrado, ao ponto inicial?

Quem levantar-se-ia para advogar suas razões existenciais, rarefeitas de responsabilidades ? Apresentava-se com uma mala, poucas roupas, uma personagem trânsfugas, não o herói que foi à luta e retorna da guerra glorioso de seus feitos, mas o pássaro que alçou alturas, desdenhou o ninho e agora implora calor,abrigo, aconchego.

Chegar até ali havia sido um avanço, ir até a porta, todavia, parecia impossível, as pernas fincadas como cimento no solo, não conseguia se mover , já não tinha as mesmas certezas de outrora, onde, resoluto, debandara. Tinha ciência de sua posição egoísta. Tivera sobre si os cuidados de uma família e não o incomodou o fardo transferido aos ombros únicos da companheira que esposara.

Sentia-se retraído, os próprios pensamentos o martelavam, a consciência o acusava de sua fuga, de sua leviana opção, talvez não resistisse às inevitáveis acusações, legítimas, guardadas em mágoas pelos entes abandonados à própria sorte, sem sequer saberem de seu paradeiro errante. Como devem ter sentido a falta de um pai à mesa, em seus momentos de inseguranças, próprios da infância e da adolescência, onde a figura paterna é um arrimo, um consolo, conjecturava amargo e culpado.


E o que dizer das necessidades experimentadas pela companheira, de repente sozinha a responder pelos deveres e compromissos de uma casa ? E aonde andava ele nesses tempos ? Voando ao léu, sem porto certo, à deriva de si mesmo. Um frio suor porejava nas têmporas, aquilo era demais para ser enfrentado, não se sentia capaz desse encontro íntimo com sua história .Mas permanecia imóvel, atado feito estátua naquele ponto fixo, frente à antiga morada, como em um tribunal sendo julgado por si mesmo.

Absorto em suas reflexões, estatelado onde estava, viu a porta abrir-se, um casal de meia idade, sorridentes, saírem abraçados, em atitudes de companheirismo e amor. Duas belas crianças despediam-se dos velhos, possivelmente os netos, em gracejos e folguedos.

Ao passarem por ele, os olhos dela, curiosos, cruzaram-se com os dele, fitaram-se; sentiu que fora reconhecido, mas ela permaneceu muda, como se questionando de onde o conhecia...instantes breves, ou longos demais, um aceno de despedidas ou a constatação de uma verdade, o casal afastou-se, tendo ela, voltando-se, num átimo, para fitá-lo mais uma vez...

Acabrunhado, encurvado sobre si mesmo, fazia o caminho de volta, rumo ao desconhecido, na esteira da aventura que o seduzira.

Retirava-se aliviado por evitar o confronto com os seus. Melhor a morte inevitável como desconhecido a expor-se diante às vítimas de suas escolhas, na caridade inoportuna e imerecida, a ser reivindicada apenas pelos laços de sangue, distantes do afeto não semeado.

Naquele ninho, outrora abandonado, existia outro pássaro ocupando o lugar negligenciado, e, por certo, assumira seus deveres e colhia o reconhecimento de seus entes familiares.

Quanto a ele, apenas uma sombra, um detalhe do passado...


*Selecionado para figurar na Antologia de Contos Criadores & Criaturas, edit. CBJE, Rio de Janeiro/RJ, edição Janeiro/2011.

VIDAS ENCENADAS

  singulares átimos
encantados momentos
  frenéticas pulsações
  um corpo em outro
 simbiose catártica
enaltecem as jugulares
  umedecem as pupilas
deblaterando no palco
    gestos dramáticos
congestos, incendidos
    figura encarnada
vivendo a personagem
semeando emoções, reflexões, 
   colhendo aplausos...

domingo, 21 de novembro de 2010

VESPERTINAS ROTINAS

entre as rotinas
manhãs apressadas
e a hora vespertina

exaurida calorenta
ou cinza  pálida
na ausência do sol

modorras da digestão
demarcando horários
meio dia já finalizado

nas tardes intensas
pulsações frenéticas
do período derradeiro

abelhas irriquietas
humanas colméias
tarefas consumidas

prelúdio da noite
movimentos
ida da vinda...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

IMÓVEIS VIAGENS

decodificando códigos
verbais sentidos
aleatórios, imaginosos

pedra a pedra
letra a letra
castelos de sonhos

descrevendo o real
no irreal das coisas
alegorias, fantasias

às avessas da ótica
enfoques inusitados
estátuas e símbolos

plasmando a tela
cultivando sensações
apreendendo emoções

presente distante
andarilho sem estradas
astronauta em terra firme...

sábado, 13 de novembro de 2010

CRIADORES DE ILUSÕES

notas evoladas do instrumento
soprando as canções no tempo
emoções, sentimentos

na pedra bruta
garimpando detalhes
figuras esculpidas



tons em pinceladas
melodias expressas
em telas oníricas

colhendo flores
nos jardins da alma
compondo versos

saudando a vida
realçando  belezas
eternizando a existência...

*Selecionada para figurar na 73° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, edição Janeiro/2011