cenários mutáveis
tardes solarentas,
dormentes, acaloradas
ou incruadas, cinzas
atarracadas,
no frio ranzinzas
ou demasiadas,
molhadas,
em chuvas incomodadas
testemunha vivente
de panoramas mutantes
a espiar o tempo, ausente...
MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
terça-feira, 29 de junho de 2010
sábado, 26 de junho de 2010
MATÉRIA & ESSÊNCIA
restam-nos, decompostos,
ávidos, ansiosos,
gulosos dos prazeres
alimentos consumidos,
deglutidos, esfomeados
intermitentes, insaciados
voragens apetites,
lascívos, profanos,
sensuais, mundanos
raros momentos,
intensos, sublimes,
ascensos além
emoções extravasadas
imateriais sons d`almas
espirituais encontros...
ávidos, ansiosos,
gulosos dos prazeres
alimentos consumidos,
deglutidos, esfomeados
intermitentes, insaciados
voragens apetites,
lascívos, profanos,
sensuais, mundanos
raros momentos,
intensos, sublimes,
ascensos além
emoções extravasadas
imateriais sons d`almas
espirituais encontros...
sexta-feira, 25 de junho de 2010
A DAMA E O VAGABUNDO ( CONTO)
Sentou-se estirando as pernas, relaxado na posição de descanso. Os olhos injetados denotando noites insones e irregulares pareciam vagar alheios aos burburinhos das ruas e aos alaridos dos transeuntes e biscateiros. Os cabelos revoltos jogados para trás displicentemente, como a impedir que cobrissem o rosto, marcado e sofrido.
A cabeça tomba, aos poucos, cedendo ao cansaço. o peito inundado pelo suor, transpirando no tecido da camisa, imprópria para o calor da tarde.
Acorda sacudido pela algazarra de uma briga entre dois moleques; discutem pela gorjeta de um senhor, que se afasta em passos rápidos. Espreguiça-se ignorando o resultado da peleja e atendo-se à pequena multidão estarrecida frente às vitrines de uma grande loja, esperando, ao que tudo indicava, pela remarcação de preços anunciada em placas luminosas, de liquidação.
Pronto estava a retornar ao sono, ausentando-se da pândega que animava os consumidores, quando deteve-se ao se sentir observado. Era uma moça loura, de corpo esguio, maneiras delicadas, olhos grandes e claros, a fitá-lo com insistência, numa ternura a que não estava habituado.
Puxou a gola do paletó surrado e ocultou-se fugindo do olhar tão insistente e incômodo. Sentiu-se oprimido naquela situação, como envergonhado de si mesmo.
Não compreendia como a sua andrajosa figura despertasse a atenção de tão meigo olhar. Irritou-se. Mostrar-lhe-ia as faces intumescidas e maceradas pela vida errante, os sapatos mastigados, o hilariante traje que o cobria... ela haveria de repudiá-lo com terror até às náuseas. Deixá-lo-ia esquecido, imerso em seu mundo, na sua intimidade.
Reluta no seu íntimo e arrisca um furtivo olhar; ela lá estava, insistente. Novas tentativas, o mesmo quadro, a mesma postura atenta. Vencido, baixa os olhos querendo sumir dali, não se move. O medo de ser repelido arrefece. Ganha coragem e a fita, tal como é, embevecido, num transe hipnótico...
Absorto ao rítmo tresloucado do centro nevrálgico da Paulicéia, um homem ama. Namora à distância aquela fada, que não o renega e lhe endereça tanta atenção e graça.
A tarde se finda. O movimento dos que retornam à suas casas, transeuntes, balconistas do comércio e bancários, vai se escoando, a cidade vai diminuindo o seu fluxo humano. Os coletivos trafegam, sentido centro subúrbios, lotados.
O fascínio do mendigo desconhece o tempo. Nos olhos o brilho da intensidade dos que têm sede de viver. Sua musa permanece inalterável, a olhá-lo fixamente. Ele, extasiado com a expressão desperta num sorriso inédito naquele semblante cético, é feliz. Já não é o mesmo que buscava na letargia do sono o engano do estômago faminto. Percebe-se cantarolando uma canção, a princípio tímida, depois ousada, em bom tom.
Levanta-se, chega perto dela, a voz rouca enchendo as ruas adjacentes semi-desertas despertando a curiosidade de alguns retardatários, a olha detidamente, querendo aprisionar na memória aquele encanto, depositando naquele último olhar de despedida todo o carinho, de que jamais supusera possuir.
Afasta-se, resignado, em passos largos.
Um vendedor, trajando uniforme laranja, adentra a enorme vitrina e começa a desmontar a manequim.
(publicado no jornal literário "Mosaíco", n° 01, abril de 1985, na PUC/SP)
* texto selecionado para figurar na Antologia de Contos Ab-Absurdo da CBJE, Rio de Janeiro, edição Junho/2010
A cabeça tomba, aos poucos, cedendo ao cansaço. o peito inundado pelo suor, transpirando no tecido da camisa, imprópria para o calor da tarde.
Acorda sacudido pela algazarra de uma briga entre dois moleques; discutem pela gorjeta de um senhor, que se afasta em passos rápidos. Espreguiça-se ignorando o resultado da peleja e atendo-se à pequena multidão estarrecida frente às vitrines de uma grande loja, esperando, ao que tudo indicava, pela remarcação de preços anunciada em placas luminosas, de liquidação.
Pronto estava a retornar ao sono, ausentando-se da pândega que animava os consumidores, quando deteve-se ao se sentir observado. Era uma moça loura, de corpo esguio, maneiras delicadas, olhos grandes e claros, a fitá-lo com insistência, numa ternura a que não estava habituado.
Puxou a gola do paletó surrado e ocultou-se fugindo do olhar tão insistente e incômodo. Sentiu-se oprimido naquela situação, como envergonhado de si mesmo.
Não compreendia como a sua andrajosa figura despertasse a atenção de tão meigo olhar. Irritou-se. Mostrar-lhe-ia as faces intumescidas e maceradas pela vida errante, os sapatos mastigados, o hilariante traje que o cobria... ela haveria de repudiá-lo com terror até às náuseas. Deixá-lo-ia esquecido, imerso em seu mundo, na sua intimidade.
Reluta no seu íntimo e arrisca um furtivo olhar; ela lá estava, insistente. Novas tentativas, o mesmo quadro, a mesma postura atenta. Vencido, baixa os olhos querendo sumir dali, não se move. O medo de ser repelido arrefece. Ganha coragem e a fita, tal como é, embevecido, num transe hipnótico...
Absorto ao rítmo tresloucado do centro nevrálgico da Paulicéia, um homem ama. Namora à distância aquela fada, que não o renega e lhe endereça tanta atenção e graça.
A tarde se finda. O movimento dos que retornam à suas casas, transeuntes, balconistas do comércio e bancários, vai se escoando, a cidade vai diminuindo o seu fluxo humano. Os coletivos trafegam, sentido centro subúrbios, lotados.
O fascínio do mendigo desconhece o tempo. Nos olhos o brilho da intensidade dos que têm sede de viver. Sua musa permanece inalterável, a olhá-lo fixamente. Ele, extasiado com a expressão desperta num sorriso inédito naquele semblante cético, é feliz. Já não é o mesmo que buscava na letargia do sono o engano do estômago faminto. Percebe-se cantarolando uma canção, a princípio tímida, depois ousada, em bom tom.
Levanta-se, chega perto dela, a voz rouca enchendo as ruas adjacentes semi-desertas despertando a curiosidade de alguns retardatários, a olha detidamente, querendo aprisionar na memória aquele encanto, depositando naquele último olhar de despedida todo o carinho, de que jamais supusera possuir.
Afasta-se, resignado, em passos largos.
Um vendedor, trajando uniforme laranja, adentra a enorme vitrina e começa a desmontar a manequim.
(publicado no jornal literário "Mosaíco", n° 01, abril de 1985, na PUC/SP)
* texto selecionado para figurar na Antologia de Contos Ab-Absurdo da CBJE, Rio de Janeiro, edição Junho/2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
NA CORRENTEZA...
mansa segue a vida
resumida, mal vivida,
jamais refletida
mansa e imaculada
feito uma folha alva
boiando insana, vazia.
mansa e descuidada, vadia,
desde que não se cobre
sentidos, não cutuque feridas
mansa, sonsa, libertina,
saciada em risos amarelos
vai na correnteza dos fatos
nau solta, barquinho frágil
a sonhar com o grande mar
mansa segue a vida, iludida...
Poesia selecionada para figurar na 67° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos,
editora CBJE, Rio de Janeiro, edição junho/2010
resumida, mal vivida,
jamais refletida
mansa e imaculada
feito uma folha alva
boiando insana, vazia.
mansa e descuidada, vadia,
desde que não se cobre
sentidos, não cutuque feridas
mansa, sonsa, libertina,
saciada em risos amarelos
vai na correnteza dos fatos
nau solta, barquinho frágil
a sonhar com o grande mar
mansa segue a vida, iludida...
Poesia selecionada para figurar na 67° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos,
editora CBJE, Rio de Janeiro, edição junho/2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
SINAIS
como bula de remédio
posologia e indicações
cura-se enfermidades
culinária apetitosa
ingredientes seletos
têm-se uma iguaria
existir, contudo,
não há manuais,
aprende-se vivendo
se no viver
vem o sofrer
temos a dor
a sinalizar,
como na febre,
o alerta da alma enferma...
posologia e indicações
cura-se enfermidades
culinária apetitosa
ingredientes seletos
têm-se uma iguaria
existir, contudo,
não há manuais,
aprende-se vivendo
se no viver
vem o sofrer
temos a dor
a sinalizar,
como na febre,
o alerta da alma enferma...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
NO DRIBLE DAS FANTASIAS, A COPA DO MUNDO.
no silêncio das ruas,
plena tarde de dia útil,
suspense no ar...
grupos calados
como em oração
facies contorcidas
de repente, dique extravasado,
urros, algaravias indistintas,
crianças em arruaças
bom ver as gentes
nas suas alegrias
sentimento coletivo
País de contrastes
e de belezas naturais
um povo alegre, confraterniza...
plena tarde de dia útil,
suspense no ar...
grupos calados
como em oração
facies contorcidas
de repente, dique extravasado,
urros, algaravias indistintas,
crianças em arruaças
bom ver as gentes
nas suas alegrias
sentimento coletivo
País de contrastes
e de belezas naturais
um povo alegre, confraterniza...
segunda-feira, 14 de junho de 2010
NUA REALIDADE
como ausentar-se em devaneios
se mãos em súplicas nos trazem
à nua realidade,
apesar de tantos progressos,
vagam tantos em busca do pão
são mãos e olhares suplicantes
como a exigirem de cada qual
um grito justo de indignação
ao ver um semelhante,
deliciando-se com uma fruta
em dejetos, no lixo encontrada
e como o esfomeado se comprazia
e degustava ávido
e aos meus olhos rasos d´água,
mágoas, feridas abertas, opróbrio vil
impotente, mudo, pasmo, da humana condição...
se mãos em súplicas nos trazem
à nua realidade,
apesar de tantos progressos,
vagam tantos em busca do pão
são mãos e olhares suplicantes
como a exigirem de cada qual
um grito justo de indignação
ao ver um semelhante,
deliciando-se com uma fruta
em dejetos, no lixo encontrada
e como o esfomeado se comprazia
e degustava ávido
e aos meus olhos rasos d´água,
mágoas, feridas abertas, opróbrio vil
impotente, mudo, pasmo, da humana condição...
REFLEXÕES MOMENTÂNEAS
se pudéssemos,
cristalizar instantâneos momentos
em que o sublime atinge píncaros
e alma, exuberante, se altaneia
ah, se possível fosse,
alçar asas além do mediano,
suster em vibrações sonoras
a orquestra doce ouvida
em haustos, a respiração serena,
marcando compasso no imaginário
por vezes, prelibando venturas,
num ensaio para a grande viagem...
cristalizar instantâneos momentos
em que o sublime atinge píncaros
e alma, exuberante, se altaneia
ah, se possível fosse,
alçar asas além do mediano,
suster em vibrações sonoras
a orquestra doce ouvida
em haustos, a respiração serena,
marcando compasso no imaginário
por vezes, prelibando venturas,
num ensaio para a grande viagem...
sábado, 12 de junho de 2010
ODE À VIDA
na leveza de um olhar
na presunção de um beijo não dado
na fluidez de uma canção orquestrada
no balouçar das folhas em calmarias
nas alegorias que enfeitam o viver
a alma se distancia de suas amarras
em mares azuis e ondas mansas
aventura-se a nau prenhe de esperanças
balança a rede nos vaivéns
e a vida cristalina e pura
dourada pelo sol do entardecer
convida-nos ao banquete de existir
na persistência e indolência
flutuante e diáfana como bolhas de sabão...
na presunção de um beijo não dado
na fluidez de uma canção orquestrada
no balouçar das folhas em calmarias
nas alegorias que enfeitam o viver
a alma se distancia de suas amarras
em mares azuis e ondas mansas
aventura-se a nau prenhe de esperanças
balança a rede nos vaivéns
e a vida cristalina e pura
dourada pelo sol do entardecer
convida-nos ao banquete de existir
na persistência e indolência
flutuante e diáfana como bolhas de sabão...
DIA FRIO
tempo seco
frio nos dias
encasacados
passos rápidos
enviesados
restritos
narizes vermelhos
em poucas falas
vidas encolhidas
recolhidos
ensimesmados
caminhantes mudos...
frio nos dias
encasacados
passos rápidos
enviesados
restritos
narizes vermelhos
em poucas falas
vidas encolhidas
recolhidos
ensimesmados
caminhantes mudos...
quinta-feira, 10 de junho de 2010
AVENTURAS
na abstração
não se veem os voos
alçando as estrelas
nas asas da imaginação
não são ouvidos
os gritos e os ecos
indefinidos, ecoando,
mudos, presumidos
na vestimenta
apenas se apresenta
alguém mediano,
nas letras aventurando
no universo das alegorias
pinçando palavras,
a pérola no âmago da ostra,
viajando nas fantasias...
não se veem os voos
alçando as estrelas
nas asas da imaginação
não são ouvidos
os gritos e os ecos
indefinidos, ecoando,
mudos, presumidos
na vestimenta
apenas se apresenta
alguém mediano,
nas letras aventurando
no universo das alegorias
pinçando palavras,
a pérola no âmago da ostra,
viajando nas fantasias...
quarta-feira, 9 de junho de 2010
BOM DIA, SOL !
hálito tépido
luz incipiente
réstias douradas
vencendo resistências
pelas frestas da cortina
acarinhando as faces
convidando para a vida
de mais um dia...
luz incipiente
réstias douradas
vencendo resistências
pelas frestas da cortina
acarinhando as faces
convidando para a vida
de mais um dia...
terça-feira, 8 de junho de 2010
VOLTEIOS
no afago
do abraço
ou do trago
lenitivos
aos espinhos
abrandados
risos tristes
debochados
malamados
uns goles
um papo
amargurado
presente
passado
ressuscitado...
do abraço
ou do trago
lenitivos
aos espinhos
abrandados
risos tristes
debochados
malamados
uns goles
um papo
amargurado
presente
passado
ressuscitado...
OBLÍQUO OLHAR
o oblíquo olhar
traiu a sisudez
naquele semblante
pousou nos seios tesos
de vida e juventude
da fêmea próxima
nu os pensamentos
ágeis e expostos
ruborizou as faces
envergonhado
atraiçoado
surpreendido
afastou-se
no seu receio
de viver sua paixão...
traiu a sisudez
naquele semblante
pousou nos seios tesos
de vida e juventude
da fêmea próxima
nu os pensamentos
ágeis e expostos
ruborizou as faces
envergonhado
atraiçoado
surpreendido
afastou-se
no seu receio
de viver sua paixão...
domingo, 6 de junho de 2010
OBSTINADOS
ao ponto de partida
retornamos persistentes
aliviando dores, feridas
retomando os lemes
na nau dos sonhos
o barco a navegar
cicatrizes, tatuagens
superadas mágoas
estigmas das viagens
lágrimas enxugadas
sorrisos e anseios
obstinados nas caminhadas...
retornamos persistentes
aliviando dores, feridas
retomando os lemes
na nau dos sonhos
o barco a navegar
cicatrizes, tatuagens
superadas mágoas
estigmas das viagens
lágrimas enxugadas
sorrisos e anseios
obstinados nas caminhadas...
sexta-feira, 4 de junho de 2010
VIAGEM IMAGINÁRIA
o viajante desceu das estrelas
visitou os planetas
cochilou nas nuvens
brincou com a lua
e do alto viu a Terra azul
depois, satisfeito em sua solidão,
releu seus sonhos, sorriu com sua ficção
guardou seu relato
apagou a luz e descansou...
visitou os planetas
cochilou nas nuvens
brincou com a lua
e do alto viu a Terra azul
depois, satisfeito em sua solidão,
releu seus sonhos, sorriu com sua ficção
guardou seu relato
apagou a luz e descansou...
INTERVALOS
ativos no dia
recessos na noite
ligações entre espaços
projetos de ontem
batalhados no hoje
finalizados no amanhã
intervalos de tempo
na cronologia das horas
nos anseios do futuro...
recessos na noite
ligações entre espaços
projetos de ontem
batalhados no hoje
finalizados no amanhã
intervalos de tempo
na cronologia das horas
nos anseios do futuro...
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