quinta-feira, 30 de julho de 2009

R O D A V I V A*


gritos em plena rua
homem nu discursa
fala gritada extenua

curiosos na anatomia
do corpo decrépito
desacreditada pantomima

e a veia saltada no pescoço
inaudíveis sons despercebidos
a estourar como caroço

turba mansa aturdida
seguindo passiva
imersa em si mesma, evasiva

e os gestos tresloucados atoleimados
nada além de um contratempo
incidente de percurso, acostumados

no curso da massa caminham
seguem unidos desconhecidos
em suas rotas distraídos

metidos enfiados em si mesmos
sufocados na pressa de chegar
a algum lugar de nome lar

onde frente à televisão
vão cochilar e acreditar
esquecer se esquecendo

postergar para depois
adiando a vida
para um amanhã talvez

fazendo contas
projetando planos
dilatando sonhos

arquitetando hoje
um futuro para além
em diálogos sussurrados

comendo fatos boatos em arrotos
falas mal digeridas desatentas
confundidos em alienados apetites

como toda rotina, despertam amanhã,
reiniciam a marcha
ilhados em si, solitários na multidão

apressados compassados compenetrados
atolados nos coletivos
aturdidos em seus caminhos e destinos

roda viva
mesquinha
feroz
nesta roda
quem roda
somos nós !

terça-feira, 28 de julho de 2009

ANDARILHO *


colhendo espinhos
nas asperezas do mal
carências de maltrapilhos

ao léu em devaneios
torturas insanidades
nesgas de luz e anseios

sóbrio alcoolizado
passos incertos
senso desatinado

uma tela nua crua
traçados indefinidos
ausentes estrelas e a lua

brados mudos
ao infinito
gritos surdos

espaços e retas
caminhadas
estradas desertas

um número, um ente,
alguém em súplicas,
alheio, indiferente...


...em metáforas, a mente, em desatinos...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

INCERTAS CERTEZAS*


nas forças das correntezas
abro a guarda,desiludo,
tampouco desconheço
seus enredos e certezas

navegante na contra mão
sobrevivente do movimento difuso
maduro entendo seus contornos
estigmas, auto-críticas, negação

lições, há, na trajetória fria
não velejo, nem me anulo,
solto rédeas, me preservo,
toque a vida a sinfonia...

... observar com olhos críticos, caminhos bifurcados em desvios...

sábado, 25 de julho de 2009

SANIDADE INSANA*


tênues fios
sanidade
insana

do são
certezas
convicções

do insano
desvarios
alucinações

ser que vagueia
duas estações
obscuras e claras

mente açodada
incomodada
fio da navalha

estreitos caminhos
desvios trilhados
ilusões enganos...

...tênues véus delimitam o real do irreal, a sanidade da insanidade...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

I N C Ô M O D O S*


se não rimar, encantar,
não é lindo, repelimos
se tudo difere

do que queremos
é maldito, não lido

renegamos o além
da roda viva
na insania cômoda,
fácil, das aparências

questionar...?
não diverte,
não entretém,
desserve !

é estorvo
faz pensar
atrapalha
incomoda

entendimentos
afrontam dogmas

entretenimentos
deleites que anestesiam

brindamos o ópio das ilusões,
altares às divindades idolatradas,
filosóficas frases feitas de folhetins
na travessia alienada da viagem

narcisos nos espelhos maqueamos
imagens que nos exponham

frente à frente a nós mesmos

e, satisfeitos, adormecemos...

...padronizamos a estética nas conformidades de nossas conveniências, em nome do "positivo", rechaçamos reflexões e massificamos conceitos
de belezas poéticas...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

À FLOR DA PELE*


mundo íntimo
conflitos aflitos
gritos reprimidos

insanos
alucinados gestos
desconexos desenganos

erupções
lavas incandescentes
externadas emoções

dores vertidas
atritos transbordados
mágoas incontidas

tremores vacilantes,
encoléricas verdades
à tona, em instantes...



...à flor da pele emoções subjacentes, epidérmicas, afloradas...explode coração !


sábado, 18 de julho de 2009

GRITOS NA NOITE *

...restam a nós apenas os apelos íntimos...


gritos quebram a calma
no meio da noite mansa
arrepios gelam as almas

o sono abalo brusco
momentos de apreensão
de onde barulho intruso ?

silêncios questionadores
lamúrias repetidas
clamores perturbadores

acordados melindrosos
olhares sob cortinas
em altas horas medrosos

de onde viriam os lamentos
secos sofridos angustiados
lentos e insistentes tormentos ?

passado o susto recuam cômodos
ecoam inúteis os pedidos
retraem-se todos de incômodos

luzes se apagam indiferentes
janelas fecham sonolentas
surdos apelos estridentes...


quarta-feira, 15 de julho de 2009

NO AVESSO DA APARÊNCIA*

.....exercício de nos vermos além do que somos vistos, no mergulho em nós mesmos...

sou o que querem que eu seja
amável cortez simpático bom
nem sempre cumpro tudo bem

as vezes sou eu mesmo nas sombras
ignoto de meu eu em escombros
ironizo as conveniências sociais

mesclo atitudes ora aceitas noutras não
panela de pressão artista em frangalhos
nesta barafunda a minha personalidade

toda a humanidade de meu Ser aflora
dual e magnífico sobranceiro e tímido
menino às vezes e adulto em conflitos

nesta confusão de minha alma inquieta
plasmo a matéria habito me apresento
às platéias represento e engulo o grito

levo os dias sucessivos datas agendas
proscrito de outras terras sigo o rito
dançando música conforme o ritmo

mas por dentro atento ebulição
a aparência socialmente aceita
aflito Ser em busca de caminhos...

domingo, 12 de julho de 2009

L A B I R I N T O S *

...em´nós os próprios enigmas...


as trevas não são externas

as de fora apenas ausência da luz

as internas labirintos exigindo soluções


no exterior convive-se com naturalidade

temos um arsenal de disfarces convincentes

e escamoteamos perturbações


os ecos ecoam de dentro assustadores

reivindicam saídas respiram agônicos

turbilhonam as entranhas


os desafios não se alteram com a paisagem

são perenes e constantes buscas

não importa onde nos encontremos


somos o nosso próprio enigma a ser decifrado

tal é a nossa sina consciente ou não

o fio da meada está em nós:


incrustado indelével

a expor suas armas

esculpindo em dores...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

D E S A F I O*


diante à folha alva
um desafio
preenchê-la no vazio

da alma que se nega
a ceder-me voos
alçando-me além...

pequeno meio restrito
prisões, receios
e labirinto

insisto, preciso, necessito,
portas a escancarar
do meu eu mais aflito

enfrento as brumas
arrisco-me em gritos
dos becos nas escuras

liberte-me, medíocre vivência,
me devolva a vestimenta
de minha real aparência

visto o disfarce e descontraio
nas vestes parvas de um pândego
ensaio gargalhadas me distraio

corda bamba vacilos desengonçados
enredos trôpegos desandados
entes desatinados e alvoroçados

rol de horrores, desenganados,
cantarolando canções vulgares
antro de suplícios desgraçados

num tropel desabrido
coreografias sensuais
em fugas de si, ao desabrigo.

urgem ensolaradas manhãs luzíveis
entardeceres sem melancolias
e noites sem enfados previsíveis

sabores requentados
de discursos corroídos
e aplausos esperados

gentilezas cordatas
gestos ensaiados
mensagens enlatadas

devolva minhas dores
tremores e medos
do inusitado brindo o fel

renego o fácil
convencionado
do bem estar e seu papel...


...escrever, como ficção, criação é um desafio...o de se expressar buscando o novo, fugindo de fórmulas que deram certo...busca-se o insano, meandros, que possam nos trazer algo inédito, nem sempre conseguimos, mas as tentativas são também desafios...

terça-feira, 7 de julho de 2009

A P R E N D I Z E S *

.....pensando em palavras a serem ditas ao meu filho, Caio, talvez para expressar nossos desencontros e que não chegaram a ser ditas...





como te falar de sonhos
se os próprios me enganam
quando não são estranhos ?


te cobrar coerências
se minhas vivências
desacertos e desenganos ?

te mostrar a vida, seus caminhos
se meu aprendizado e passos
são dados imediatos, imprevistos ?

se as minhas certezas
eivadas de incertezas
certezas únicas são dúvidas ?

te ofereço minha companhia
nas descobertas e estradas
nesta caminhada aprendizes...



sexta-feira, 3 de julho de 2009

LIÇÕES *

...lições doloridas, inadvertidas, aprendizados pela dor, a vida sempre jogando, escola-mestre, em nossos passos...

mensagens doloridas
chegam e maltratam
incompreendidas

desafios que educam
como ferro na forja
cicatrizes e feridas

vida escola
tempo mestre
lições sofridas

relapsos seríamos
ouvidos moucos
mentes inadvertidas

nos assovios dos ventos
viajantes neste Mundo
crianças distraídas...