quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

B A L A N Ç O


continue conosco
momentos bons
emoções sinceras

o mais esqueçamos
tudo perece,estraga
não nos estraguemos

sentimentos contraditórios
- quem não os têm ? -
descartemo-los nas lixeiras

o que não faz bem
faz mal, empaca
lembranças de mágoas

ao nosso íntimo
bem além da embalagem
vale o que se sente fundo

não mudaremos
o mal feito
já não dá jeito

mudemos nós
repaginando
alterando conceitos

fiquemos mais leves
ergamos os ombros
deixemo-nos viver

tudo passa
é efêmero
inclusive esta passagem

abra mão do orgulho
soterre-o profundo
alivie-se, voe, sorria

o mais e tudo o mais
são algemas, correntes,
externas indumentárias

sofrimentos...

sábado, 26 de dezembro de 2009

À DERIVA


de todas as riquezas
moedas guardadas
nada há que valha

sonho satisfeito
riso no peito
amor bem vivido

silêncio contrito
satisfação em paz
no íntimo restrito

a mente ociosa
bailando leviana
boiando à deriva

neste deixa estar
deixa fazer
ir onde sopra o vento

nas ondas surfando
no val de momentos
poupando braçadas

buscando regaços
sombras das árvores
voar em pensamentos...


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

FRAGMENTOS


decomposto em partes
dissociadas diversas
de um todo atônito

vasculho e me procuro
vestígios do que sou
nas incertas certezas

e vou navegando
o barco à deriva
sem um porto à vista

e os dias se sucedem
na panacéia das esperanças
na trilha dos desafortunados

risos e justificativas
meios de ir levando
a nau nas correntezas

em desenhos toscos
de frações desarranjadas
insana sanidade oscilante

continuo nos trilhos
desajustados dos caminhos
vivendo trôpego, errante...



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

EM BUSCA DO NADA


o que leva alguém
distanciar-se de si
presente

buscar no ausente
em procuras
ecos para entabular

versos miúdos
imprecisos
sussurrados

como miados
de gato esfomeado
raquíticos, anêmicos

insular-se de seu meio
corriqueiro atribulado
para colher frutos

imaginários
produtos da evasão
olhares que se dilatam

flores idealizadas
poemas intentados
enredos inacabados

momentos de divagações
contra a correnteza dos dias
parva, insana...poesia ?



C I R A N D A N D O






vamos dar as mãos
nesta roda imensa
tão intensa quanto os sonhos

de ver a Paz
da Luz na compreensão
dos homens

superando ganâncias
arrogâncias e atrocidades
prosperando a irmandade


que cada teto humilde
seja visitado e acalentado
cada criança ninada

cada irmão assistido
em suas carências
morais e materiais

vamos dar as mãos
c i r a n d a n d o
unindo os corações


no natal
em tudo
o mais


e no ano novo
não seja apenas
sucessão de dias

mas de muitas alegrias !

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

OMBRO AMIGO


sorrateiro, oportuno,
seus desenganos
e martírios
brotando lágrimas
de desafogo
em seu desgosto

matreiro como um lobo
espreitando sua presa
oferecer meu ombro
para debelar suas águas
pretexto para tê-la
próxima e intensa
e da sua dor
fragilizada
fazê-la amada por instantes

esquecida por momentos
de suas dores e tormentos
enfraquecida na sua angústia
aos meus braços oferecidos
e dela, sedentos,

entregue às suas desventuras
na imagem de outro alguém
ao meu calor enlouquecida
amá-la em insaciáveis intentos...

domingo, 20 de dezembro de 2009

NA HORA DO ADEUS


certo é
que nada é eterno
tudo efêmero

por que, pergunto-me,
tantos castelos erguidos
se o tempo arrasa ?

riquezas e falácias
orgulhos e caprichos
se o tudo é nada

das erigidas construções
restarão escombros,
dos cadáveres, cinzas.

nada se leva
tudo se deixa
ambições e intrigas

se tiver um só sussurro
sincero e contrito
seja prece na despedida

despida de mágoas
isenta de desforras
florida de ternuras...


sábado, 19 de dezembro de 2009

ESPANTALHO


farrapos em ventanias
homem de palha
espantalho

preso em cruz
sobre madeira
riso escárnio

abertos braços
não para recepcionar
mas espantar

atrevidos pássaros
esquecido na vasta
imensa plantação

na solidão do tempo
dias e noites
sol,chuvas e ventos...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SENTINELA


da janela descortina
ruas e gentes
vidas em pressas

da retina que registra
capta a mente vaga
em torvelinhos absorta

cada qual em sua lida
vidas fugidias
cada cabeça um universo

em seus mundos
anseios e desejos
alegrias e tormentos

passam e se perdem
nas esquinas
da vista que os acompanha

novas personagens
despontam na passagem
olhos atrevidos as seguem

até perderem-se
nas curvas
onde já não se alcança...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O FEIJÃO E O SONHO

estagno diante a mim
folha alva, virgem,
a ser maculada
com meus rabiscos
chuviscos de lágrimas
embotadas no fel
reais ou fictícios
ritual de magias,
garimpando palavras
expressando sensações

reverberações de um espírito
traquinas petiz ousado
na vestimenta sóbria
disfarce necessário

e me alço na imaginação
distante realidade
nos ponteiros do relógio
que me chama a atenção
pois de sonhos se deleita
mas necessita de pão...

FILHO PRÓDIGO


se me entregar ao Teu porto
seguro, amável, encantado,
deixo o humano pelo Divino

meu barco perderá sentido
na falta de rumo em que se lança
e minhas dúvidas acalentadas,
razões de aflitos cultuados,
serão debaldes meus escritos´
anêmicos de motivos, que não seja
a louvação de Seu nome a que me
reservo em orações...

mas, blasfemo, insisto em inquirir
das coisas, omisso como Pedro

antes do cantar do galo,
em torvelinhos angustiantes
nego o regaço fraterno e certo
pelos mares bravios em ondas indômitas
que me fazem sofrer, mas não me deixam
confortável, e, assim, teimoso, visito zonas
perigosas, pondo-me desnudo diante a este
universo imenso, infinito, de um filho renegado
que insiste na aventura à volta aos braços
de um Pai venturoso que o espera...

lanço-me, em cismas, em buscas intermináveis,
quimérico como Quixote em seus moinhos de ventos

curto a sensação de um náufrago à deriva, mente oscila
entre extremos com suas crises e lamentos,
colho versos quebrados, sem rimas,
como quem espera aplausos para sua vaidade insana

recuso meu regresso Te renegando, e Te venero em minhas preces,
me espere, na sua imensa paciência, este filho desnaturado,
deslumbrado com as incertezas profanas que produzem as reflexões
e se nega a entregar os pontos e vaga ao léu como um órfão descrente...


sábado, 12 de dezembro de 2009

JUNTOS & DISTANTES


fenece a primavera
entre paredes
exílios involuntários

a rotina se arrasta
domina maltrata
holocausto de almas

castelos na areia
varrido pelas águas
alegrias esquecidas


o fogo apagou
a magia se foi
desencantos

vagam alheios
se ressentem
se anulam

coabitam o teto
em frios olhares
se aturam


por imposições
ou desleixos
das situações

cada qual
em sua solidão
indiferentes

próximos
juntos
distantes....



terça-feira, 8 de dezembro de 2009

AVENTURA PESSOAL


ótica desfocada
das imagens corriqueiras
busco nas entrelinhas
o que se presume
ou se adivinha

nestas viagens
saltam-me cenas
desfiguradas, bizarras,
gargalhadas sem sons

maneiras de se conviver
comigo mesmo
neste enredo coletivo
em alhures plagas oníricas

deleites d'alma
jamais fugas
visão íntima
inconcebível nas formas

Alice nas maravilhas
seu coelho apressado
homem de lata
espantalho

assim me distancio
me aproximo
na distância
da essência esquecida...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

INTIMIDADES


mergulhos em nós
universos múltiplos
essências e carências

crianças risonhas
adultos confusos
conflitos e arrimos

nos afagos essenciais
acalentando o sofrer
ninando as angústias

rejuvenescidos sonhos
sábias ponderações
petizes aquietados

doses de lucidez
no val da valsa
de doces insânias

luzes nos labirintos
estrela guia
em noites escuras

encontros afáveis
íntimos em brilhos
regaços de afetos

canções elevadas
súplicas divinas
lágrimas de alívios...




quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

UTOPIAS EM DEVANEIOS

acordei antes de mim
estive em sonhos
irreais realidades

não era pesadelo
belo cenário de paz
as pessoas se amavam

cumprimentavam-se efusivas
abraçavam-se incontidas
sem falsas amabilidades

não havia diferenças
nem a fome aviltava
a condição humana

tudo era farto
de todos
iguais

sem a égide da força
impondo regras
dividia-se como natural

cenário onírico
utopias espirituais
voltei constrangido

era lindo
mas despertei
já não mais queria acordar...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A VOLTA



nos passos dados
já distantes
no tempo
ora retomados

avenidas modernas
construções novas
escondem vestígios
de um tempo esquecido

retomo a uma terra estranha
de pessoas diferentes
a quem sou um estrangeiro
a vagar em pegadas e olhares

perscrutando reminiscências
lembranças pessoais esvaídas
marcas apagadas esmaecidas
nada mais lembra o que foi

ausentes entes contemporâneos
alegrias correrias e folguedos
da infância evolada nas espirais
rememoradas em tempos idos

apenas o endereço
permanece na rua
que já foi minha,

hoje, sou um estranho...


* POESIA CLASSIFICADA PARA PUBLICAÇÃO NA 61° ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS - EDIÇÃO JAN/2010 EDIT CBJE.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

OLHAR VADIO


retina atrevida
enxerida nas vidas
de entes semelhantes
passantes

de cada janela
assomam figuras
despercebidas
nas lidas
que as ocupam

nas calçadas
passos rápidos
cada qual
enfurnado em si

vidas que se encontram
rentes indiferentes
histórias diversas
perdidos nas pressas

viventes no mesmo solo
viajantes no mesmo tempo
solitários nas mesmas companhias
transeuntes de momentos

universos condensados
identidades transcendentes
contemporâneos na jornada
estranhos conhecidos...