terça-feira, 28 de abril de 2009

DIVAGANDO...


o que nos faz humanos
o sentir
e expressar

os irracionais
sentem
e se expressam a seu modo

mas é dado ao homem
o xeretar nas miudezas
trazer à baila sutilezas

enaltecer o pálido
dar cores à morte
fortaleza ao esquálido

vivificar em sentimentos
colorir de versos
tornando belos

mesmo tristes
seus momentos...


segunda-feira, 27 de abril de 2009

NA REAL*


poupem-me de cenas irreais
super-heróis homens de ferro
cataclismos e efeitos especiais

quero a placidez dos campos
as paisagens mansas
bucólicas e melancólicas

o cotidiano de uma crônica
a jornada seccionada em horas
o calendário preso na parede

os dias sucessivos das semanas
o alcance do possível e exato
num viés de sentir alguma poesia

alegrias e esperanças
alimentando a vida
alados... só os pássaros !

IMPROVISOS


...como que vestes te apresentas
que disfarces a vestimenta
a nu te expões ?...

pouco importa as ruas desertas
as portas entreabertas
o furor dos vendavais

os arrebóis no horizonte
réstias filtradas nas nuvens
deleites em nuances de sentimentos

se as palavras que cabem numa folha
escassas de sentidos e significados
é tudo o que tens para se explicar...

para montar o cenário tosco improvisado
com o pouco que te resta de recursos:
um banco, uma peneira, uma rede puída...

talvez deitado no pano surrado entre estacas
num arremedo de assento de madeira
e o arco concêntrico... desenhes o mundo

em versos mudos
em cenas mortas
em sussurros...


domingo, 26 de abril de 2009

DEPRESSÃO


sutil como um ofídio
insinua e abocanha
leva a paz é tristonha

descolore a luz embaça
tira a graça enfadonha
suga energias e exaure

chega-se e aproxima
malsã imperceptível
se esgueira e domina

abismos em dores
anônimos sintomas
diagnósticos cismas

diáfana e maléfica
contamina espalha
cicatrizes na alma

entorpece anestesia
profunda melancolia
trevas em profusão

apegada à vítima
doença entrelaça
são duas e únicas

cadafalso verdugo
no fio da navalha
sanidade em risco...

sábado, 25 de abril de 2009

APELOS EM ORAÇÃO *


não se permita o desespero
acalente sonhos e sorria
mantenha o leme do seu barco

recicle se o panorama é tedioso
volte-se e busque novos olhares
sinta-se capaz de pelo menos sentir

acredite que tudo é efêmero
dores e desilusões
agudas hoje amainadas amanhã

reaja e não se abata
há sempre soluções
não se maltrate tanto

se a dor for inevitável
a curta com seu fel
e cresça com sua lição

e, mesmo só,
há milhões de seres
que palpitam e sofrem

que amam e sorriem
anseiam e acreditam
há vidas, enfim...


A UM DESTINATÁRIO IMAGINÁRIO

...olha, eu quero me confidenciar contigo, falar de coisas que as pessoas em suas pressas não me ouvem... mas que tu, que não existe,portanto, tens todo o tempo do mundo e a paciência que só mesmos os pacientes teriam comigo...

...apraz-me descrever imagens, algo insólito e difícil só mesmo em metáforas, ou seja, comparações, me faço entender... é que a linguagem escasseia do universo
que quero apreender no restrito alfabeto que disponho...

...feliz é a possibilidade da escrita, pelo menos fugimos aos escárnios de loucos, os que falam sozinhos por falta de interlocutores... quem haveria de ouvir relatos sem pés
e nem cabeças, entrecortados por pausas e reticências num retalho/mosaico de entrecortadas pausas ?...

...me cansa as tardes, melancolias, me salva os dias pelas manhãs promissoras e me rendem as noites no torpor dos sonos ou na inquietude das insônias...

...não quero somar lágrimas ao mar melancólico e estéril dos tristes e deprimidos, creio que neste sentido seja até otimista, o que me angustia é esta rebeldia de não ceder aos fatos tampouco saborear as frases feitas de eternos incentivos viver é remar, indiscutível, rememos, rememos...

....algo há a mais que nos distinga da animal condição de sobrevivência nos alimentarmos,procriarmos, defecarmos e esperarmos as coisas em calmarias,
ou ainda, amontoarmos moedas na esperança de mansa velhice...

...mas ainda me entontece tanta certeza, tantos manuais e filosofias,
tantas crendices, resta-me, para ser ouvido, tentar ser lido, em sintéticas palavras...

...não lhe tomei o seu tempo, aturdido como todos, nos torvelinhos de suas rotinas,
como cães correndo atrás do próprio rabo,elencando fetiches para dar rumo e sentido...

afinal, você é apenas um pretexto para não me chamarem de louco que fala sozinho...





sexta-feira, 24 de abril de 2009

PORTAS


móveis divisórias
acessos
e partidas

divide espaços
calor interior
frieza das ruas

reserva intimidades
em suas faces
limítrofes realidades

entradas receptivas
e acenos de despedidas

saídas em breves retornos
ou ausências indefinidas

entre marcos
distintos cenários
são fronteiras...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

EMBALAGENS DE SONHOS


somos embalagens
em desgaste no tempo
armazenando lembranças

sinais inexoráveis nas faces
nas cãs dos cabelos ou ausências destes
tesouro de memórias

registros particulares em óticas únicas
detalhes peculiares esmiuçados ocultos
no enorme baú em que nos confundimos

quem somos ? reservados de reminiscèncias,
olhares perdidos e solitários dentro de nós mesmos
histórias em folhas arquivos na mente guardadas

testemunha ocular e protagonistas de nossos enredos
única e preciosa certeza de nossas vivências
olhares em prismas singulares e exclusivos

as imagens e reportagens de nós mesmos
nossos passos registrados na multidão de outras
embalagens com suas bagagens

suas coisas particulares e íntimas
alegrias e tristezas
estigmas de vidas e sentimentos...



segunda-feira, 20 de abril de 2009

GUARDIÃO DO TEMPO


dias em sumidouro, frenéticos, passantes
parece que ainda era ontem mas no hoje
prestas horas será amanhã...

os meses se sucedem, se atropelam,
a vida escorre breve por entre os anos
tudo corre insano em tropel de pressas...

angústia das tardes solarentas insípidas
a se arrastarem comendo as horas tediosas
lá fora regurgita a lida da massa atribulada

cismarento, fico baldio em pensamentos,
cavocando idéias e tecendo loas no tempo
escoando como areia na ampulheta lenta...




sexta-feira, 17 de abril de 2009

ENTRE ESTAÇÕES


estares...bem ou mal,
nuances de momentos,
azul ou cinza no firmamento

como coisa leviana
no pêndulo me oscila
a minha mente doidivana

como se amarrado me houvera
confunde-me sensações difusas
no outono sentires de primavera

trae-me os faros desadormecidos
em aromas confusos envolvidos
memórias de tempos idos

de histórias mal vividas
ainda assim saudosas
requentadas e sofridas

como por necessidade
mesmo banalidades
cultivo de saudades...



FRENTE A FRENTE


versos em palavras lágrimas
impressões apreendidas sentidas
olhares desfechados sobre os dias

um achar-se diferente,
agruras não únicas exclusivas,
sentimentos não sentidos unicamente

cosido o tecido fino e tênue das dúvidas,
registros inócuos ecos mudos intramuros
retalhos de emoções, esponja absorvente

a batalha cobra resultados

desconhece sensíveis fracos
na lei da seleção olvidados

ser lobo na alcateia
ter armas ocultas,
sagaz nas ideias

sinais pusilânimes
lamentos vãos
só sobras na fortuna...


terça-feira, 14 de abril de 2009

NUANCES DA DOR


Dor sentida,
acabrunhada,
ressentida !

Dor burilada
iluminada
mesmo dolorida

Reluz lapidada
esculpida
é dor, por certo,

não desviada
sufocada
recalcada

lágrimas
versificadas
acalentadas

Joia purificada
transmitida
em palavras ofertada...

AS FACES DA MOEDA


das palavras, polidez,
disfarçam em atos
intenções e acidez

plácidas imagens
retratos mortos
altivas morbidez

nem o que se vende
verdades se depreende
em rótulos a sordidez

e o alvo sorriso
reflete o externo
do maculado íntimo

seguem-se os enganos
elos que se perpetuam
hipocrisias e desenganos

nem é vero ouro
o que reluz
passível de desdouro

caminhos e desvios
desencontros
desatinos...





domingo, 12 de abril de 2009

VERSO & REVERSO


restos, sobras, o que ofertas
àquele que usastes e feristes
a quem nada mais interessas

desferes à esmo, imprudente,
menosprezos azedumes letais
migalhas de afeto e atenção

traes no âmago acalentado brando
quem te carregastes nos ombros
e te erguestes do rés-do-chão

soterras sob pés inclementes
martirizas com crueldades
inoculas o fel da ingratidão

saes inteira em teu orgulho
pouco importas e te negas
a dar um adeus, compaixão.

segue teus caminhos,
em desatinos,
semeando dores...

...colherás espinhos !



sábado, 11 de abril de 2009

DESEJO & AMOR *



vi-me no antes
desejando
êxtases delirantes

seu corpo
prazer
gozo e conforto

outro momento
a tenho agora
em sentimento

ouço seu ressonar
e acarinho seus cabelos
branda canção de ninar

bem mais que ânimos desenfreados
todo o meu deleite se decomponhe
em carícias e afagos

aconchegos
delícias

mansidão

flores em jardins
suavidade e ternura
paz na imensidão...



Selecionado na Antologia os mais Belos Poemas de Amor, edição maio/2010, edit. CBJE.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

GRITOS VÃOS *


Terra, meu lar e prisão,
sítio de desatinos e crueldades
e de belezas ímpares !

seus filhos equivocados
duelam se rebelam se alvoroçam
presos a falsos conceitos sem ideais

rastejam sobre teu solo
perdidos e carentes de sentidos
mortos-vivos desenganados

constroem e se destroem em sucessivos erros
malogros e desdouros para sua própria raça
rechaçam a Natureza e te desperdiça

elencam fetiches e se aprisionam atrás de mitos
seus gritos e sussurros amortecidos reprimidos
a parte escura planetária seus fantasmas...

habitantes errantes perdulários
assassinos em nome da honra e da moral
acintes travestidos de bons comportamentos

seus filhos, nobre Terra, não te honram
não se veem não se entendem estão moribundos
cegos em labirintos descrentes de valores reais

nestes ermos padecemos nossas incúrias
purgamos as loucuras e vagamos alheios
erguendo fortalezas e acalentando os inimigos...

...tão íntimos !

quarta-feira, 8 de abril de 2009

LÁGRIMAS


traem-me os olhos chorosos
diante à vida e seus conflitos
a me constranger lacrimosos

gritos e súplicas carentes
uma criança um desvalido
ou uma canção pungente

tento disfarçar
encolho-me alheio
meios para não sufocar

mente doidivanas
afoga-me em lágrimas
entregas me abandonas

quisera ser normal
reter o desconforto
ver como natural

visão piegas
escandaliza
prega peças

me desnuda
martiriza
me deixa mal...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

RÉSTIAS DA TARDE


o que é feito de inspirações
lavadas lástimas de um poetar
em tardes cinzas esmaecidas...

flores murchas em vasos secos
poeiras nos vãos das prateleiras
sol refletindo fraco no verniz

nem mesmo uma desilusão
para se cantar um amor
impossível enlouquecido...

tudo apascentado morno
rotineiro sonolento
nem crime que escandalize

nenhum deslize que envergonhe
vidas comportadas previsíveis
diferenças entre dias só no calendário

se tanta paz desejada for assim
a desejam quem quer morrer antes da hora
no silêncio dos sussurros em melífluas rezas

viver emoções só nos cinemas em vídeos
de outras vidas e estórias inverídicas
mas que quebram a monotonia do deserto

ressequido este solo onde me planto
feito cacto isolado em tempo árido
meus espinhos, defesas e solidão...


sábado, 4 de abril de 2009

ADEUS, ÍDOLOS E MITOS ! *

Creio que amadurecer seja ter o exato sentido onde ídolos e mitos se desmontam, restam admirações por alguns gestos, apenas momentos, não endeusados.
Vê-los em sua dimensão humana, frágil e verdadeira, não estátuas inflexíveis, lembrando dogmas e certezas irrefutáveis... bom vê-los distante de pedestais que os imortalizem, distantes do simples mortal, inatingíveis.
Feita as salvaguardas que os distinguam dos meros humanos ai sim, podemos cultuar seus ensinamentos, sorver-lhes o que nos legou, sem distanciá-los de nós em suas fragilidades de viventes...
Gandhi em sua postura pacífica significou mais que muitas guerras que dizimaram milhões e bestializaram a condição humana. Mas ainda assim se sentia um ser em transformação, capaz de rever posições e de negar o que antes pensava em função de um novo entendimento atual... uma metamorfose permanente.
Cristo em suas parábolas inacreditáveis parecia um sonhador pregando no deserto em sua época, suas idéias e mensagens perpetuaram, incomodam os desatentos, alimentam os mais afoitos fanáticos distanciandos da natural pureza, e acalenta a maior parte deste planeta...
Assim tantos e tantos com suas contribuições, atos e pensamentos, nos deixaram marcos para construirmos os pilares de nossa civilização...
Contudo, o mais significativo, é destroná-los de ídolos, tirá-los da distância de mitos, vê-los como seres que aqui passaram, sentiram as dores, circunstâncias comuns a todos, e, então, apreciá-los, e, até, segui-los em seus ensinamentos, sem perdê-los de vista como parceiros nas descobertas... pois no dizer do próprio Messias: Somos deuses !

sexta-feira, 3 de abril de 2009

FELICIDADES, MINHA MENINA !



boneca pequena
a vida me trouxe
meio inesperada

nos braços de um querer
ganhei duas
joías raras



e juntos somos três
pequena turma
nesta viagem

resta um outro passageiro
neste trem descarrilado
descendo dos despenhadeiros

que aparece vez ou outra
mas lembrado todo dia
como meu menino grande

e assim a vida escreve
desconhece roteiros
as coisas acontecem

no palco no improviso
somos aprendizes
artistas no viver

para a menina-moça
ontem tão criança
entrego-lhe flores

em um beijo
na alegria
de suas 19 primaveras...

( para a Carolina, hoje, 19 aninhos...)


quarta-feira, 1 de abril de 2009

EM TECNICOLOR


vi-me em cenas mil vezes
beijei tantas lindas fêmeas
que disputavam a sua vez

sobrevoei alturas
mares bravios sobracei
escalei escarpas duras


encarnei personagens
mudei tantas vestes
vi-me em tantas paragens


gritei em altos brados
protestei para descansar
extenuei-me de cansado

no ato acordado
sonolento a dar passagem
para o parceiro ao lado

o filme de ação acabado
vagava pelas ruas aluado
na modorra da rotina entediado...


SEM INSPIRAÇÃO...

elaborei textos
ranços choramingas
meio fora de contexto

vi que nada tinha
farejei pretextos
e as dores minhas

não enalteciam versos
lamentos mudos
antes controversos

e em minhas dúvidas
gritos inaudíveis
me puseram imerso

e, perplexo,
levianos
meus enganos

enxertos
dores para sofridos
enredos medianos....