domingo, 28 de dezembro de 2014


REVELAÇÃO

O amor tira a venda
Desvenda
O que importa
Escancara a porta

E nos apresenta
A nós, assenta
Poeiras e fumaça,
E a tristeza rechaça ...

MOMENTOS DE PAZ...


Por que a emoção
sufoca em orações
devoção evocativa
luz, paz, compreensão ?

Invisíveis, sensíveis
Seres nos visitam
Nestes solilóquios,
Unindo nossos corações

E a dor sentida
Lágrima furtiva
Esvai-se
Na face iluminada
Esperanças e Paz...

JANELAS



Cenários se mostram
Sentidos transportam
Asas às reflexões
Alcançam distâncias
Infinitas lembranças
Reais ou imaginárias
Abertas no íntimo
Aladas em sonhos
A paz sonhada
Rostos amados
Saudosos, lembrados,
Presentes na ausência


Momentos vislumbrados
Atuais ou passados
Sensações que comprazem


Alegrias em cantilenas
Pardais em arruaças
Sorrisos inocentes
vida tão simples
Multicolorida
Instantes desejados...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014






Publicado em livro na antologia MISTICISMO e FANATISMO no CONTO BRASILEIRO - editora CBJE - Rio de Janeiro-RJ, lançamento fevereiro de 2015.


*Selecionado como um dos melhores contos da editora publicado entre out/2014 a set/2015



L A B I R I N T O S






Pela janela avistava-se a silhueta, indo e vindo, perambulando, luz acessa demonstrando  a vigília e ausência de sono. Destoava o brilho  na torre de um mar de janelas obscuras, escuras na noite, onde todos dormem, menos aquela figura, destacando-se naquele edifício, pequeno farol no escuro da madrugada. Sua imagem se agigantava com o esvoaçar das cortinas, diante a janela aberta.
Lampejo persistente, alerta nervoso, meio da noite, de repente, chamando a atenção pela luminosidade destoante do restante, estrela solitária realçada como um ponto na escuridão. Faísca em detalhe no todo de um edifício dormente.
Insone, andar impaciente, passos consumidos, o que ocorria com aquele homem, num vaivém constante e ininterrupto, sombra babélica a andar à esmo, destacando-se do breu do anonimato como um vaga-lume? 
Indolente ente, na solidão  em ânimo doente, ou de si ausente, na saudades de alguém, na distância presente, será?
Apenas cogitações alheias, buscando razões para se entender aquela situação atípica e preocupante. O certo é que se encontrava sozinho naquela cena destacada contra a luz, entre as esvoaçantes cortinas. Não se percebia outra presença, tampouco parecia conversar com outro alguém. Apenas os cigarros acendidos um após o outro. Clarão que evidencia a dor de um Ser aparentando sofrer em solilóquios, indiferente ao cansaço da vigília prolongada na madrugada. Em que mares navega aquele barco à deriva, em tormentos íntimos?  Donde viria a extenuante ida e vinda, em rápidas pausas, onde debruçava-se  no parapeito alheio a fitar o nada. Estremecimento, tentaria contra si  jogando-se daquela altura?. Não se saberia, pois voltava a andar sempre indo e vindo. Suas mãos tentava deter os cabelos volumosos a teimarem  cair pela testa, fustigados pelo vento da noite amena.
Gesticulava, andando pelos cômodos, sua sombra em contraste com a luz se desenhava pelas cortinas, denotando agitação, retornando sempre à sala, apenas uma imagem de um homem só em suas aflições. Nos gestos  transpira sua dor em gritos mudos, imagem fantasma com a mente inquieta, talvez doidivanas, quem saberia? .
Camundongo de laboratório em experimentos, labirintos em intramuros, guerreando consigo mesmo, duelos íntimos. Ecos mudos, irreais, sopitando especulações de sua causa, leme e norte, folha ao vento, barco à deriva, desatinos?. Quantas impressões passavam aquela visão, na impotência da interferência de estranhos, restava o assistir, compungido, o embate surreal de alguém consigo mesmo. Cinema mudo, ator em alucinante monólogo, visto por outros olhos à distância, observando seu andar tresloucado, suas dores presumidas. Enredo funesto,  questionado ao sabor de quem o assistia, impassível, tentando entendê-lo naquela  encenação. No reflexo de suas inquietações, a compreensão de alguns, inspirando compaixão, e de tantos a desmerecê-lo, julgando-o levianamente sem atinar com suas razões.
Mundo íntimo, conflitos em aflitivos gritos reprimidos, alucinados gestos, desconexos a terceiros e impotentes espectadores de sua angústia e desditas. 
Postado na janela, a retina como a registrar o movimento das ruas, pausas raras entre o repetitivo ir e vir, na impassível postura de desatento observador. Vislumbrado, parecendo atento e a um só tempo alheio, à vida que acontecia além.
Da janela, via-se a rua e dela se vislumbrava o homem, debruçado no parapeito, a tudo assistia parecendo nada ver...Como do convés de um navio, na altivez de um comandante e na distância da indiferença. Nos vagos gestos, olhos distantes, parecia absorto em devaneios, entre um cigarro e outro.
Seria um tresloucado, prestes a algum ato suicida? Tênues fios delimitam a sanidade. Do sano, certezas, convicções. Do insano, desvarios, alucinações,  Ser que vagueia entre duas estações, obscuras e claras, na mente açodada, estreitos caminhos, desvios trilhados em ilusões e enganos...
Mente desprevenida, desatenta, fisgada pela depressão, inoculada, sutil como um ofídio, insinua e abocanha, leva a paz, é tristonha. Descolore a luz, embaça, tira a graça é enfadonha, suga energias e exaure,aproxima-se  malsã imperceptível, esgueira-se e domina. Abismos em dores, anônimos sintomas, diagnósticos e cismas. Diáfana e maléfica, contaminando, virulentas chagas na alma. Entorpece, anestesia em profunda melancolia, trevas em profusão. Achega-se à vítima, a doença a entrelaça, são duas e únicas, numa conjunção simbiótica, hospedeiro e parasita. Cadafalso e verdugo, no fio da navalha, sanidade em risco.
Um solitário na imensidão de semelhantes, ilha na multidão, caminhos iguais, destinos diversos, caminhantes do mesmo tempo, em mundos paralelos, experiências e dores,  cicatrizes e crescimentos...
Quedará vencido pelo torpor do sono e cansaço antes do raiar do dia, para viver  no amanhã  nascente a sua história de pacato cidadão no emaranhado das funções que a vida coloca neste palco de inúmeros papéis a serem vividos e desempenhados,  entre atos sucessivos e intermináveis... Até o fim!


* Publicado no BLOG DO LIMA COELHO - Contos, Crônicas, Poesias e Artigos Literários - São Luiz/MA ( perto dos 7 milhões de acessos na internet)