domingo, 29 de abril de 2012








ODE  AO  FALSO

Imagens tantas nascem do discurso
Criados fatos nas palavras brotam
Por escassas virtudes, mero, obtuso
As inverdades na leniência exaltam

O homenageado antes um decrépito
De qualidades raras o seu currículo
Jactava-se, todavia, em falso mérito
Malsã modéstia em arroubos, chulo

Um brinde antes à falácia
De escusos atos, a contumácia
Partilham a corja, em festim ridículo

À sorrelfa a malta clama
Benesses na ambição reclama
Do falecido as sobras rente ao túmulo


    * Poema selecionado para figurar na 90° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, CBJE, Rio de Janeiro/RJ, abril de 2012.  Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.


    sábado, 28 de abril de 2012

    OUTONO / INVERNO


    vai-se aos poucos
    saudades
    do calor nos dias



    poucas vestes
    trajes soltos
    prenunciadas ancas


    femininos charmes
    decotes e pernas
    agora ocultas nas roupas


    sisudas, temerosas do frio,
    gelo que nos faz tímidos
    ensimesmados e calados


    além da melancolia
    a hibernação pesada
    de volta a nostalgia...


    (07/04/2010)

    sexta-feira, 20 de abril de 2012

    RECORRÊNCIAS


    Imagens buscadas
    Desiderato de temas
    Palavras rebuscadas
    Em velhos dilemas

    Repetitivas batidas
    Diversas sintonias
    Emoções perseguidas
    Em ecos, algaravias

    Turbilhão de impressões
    Em códigos, entonações,
    Cantilenas, monotonias

    Insossas sensaborias
    Luz às trevas, imprecações,
    Recitando as mesmas canções...

    quarta-feira, 18 de abril de 2012

    REDEMOINHO




    Bateu asas assustada
    Alçou voo a ilusão
    Um sopro, um nada
    No ar uma canção


    Força de vendaval
    Indômita, inopinada
    Despedida inusitada
    Imprevista, acidental  



    Sem bagagens, tudo levou
    Tristeza, surpresa, restou
    Na ausência, dor letal


    Viva, intensa, na lembrança
    Revivida na esperança
    Ave que voou, e não voltou...


    *Selecionada para a publicação em livro na antologia BRASILIDADES N° 4, homenageando o poeta MÁRIO QUINTANA, editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, CBJE, Rio de Janeiro/RJ, Maio de 2012.   Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.






    segunda-feira, 16 de abril de 2012

    A volta







    Nos passos dados, já distantes no tempo, ora retomados, vagando alheio, percorrendo devagar, perscrutando reminiscências. Era o retorno a uma terra amada, agora estranha, de pessoas diferentes, para quem era um estrangeiro a vagar em pegadas e olhares abismados.
    Os olhos percorreram a paisagem, parecendo afoito a buscar vestígios, reconhecendo o território. A expressão do rosto denotava seus sentimentos, sim, nada mais reconhecia... Até a si próprio percebia-se distinto daqueles moradores, nenhum rosto familiar, ninguém para perguntar de alguém, nenhuma referência a ser lembrada como pista...
    Foram quatro décadas passadas, um mergulho no tempo, no passado, tentando recriar um cenário já diluído, consumido, alterado pela modernidade ditada pelas necessidades da agora média cidade, não mais tão pequena como já o fora...
    Ausentes entes contemporâneos, correrias e folguedos na infância evolada nas espirais rememoradas em tempos idos, lembranças pessoais esvaídas, marcas apagadas, esmaecidas, nada mais lembrando o que foi um dia...
    Sofrida sensação de se sentir um visitante naquilo que lhe pertenceu, cenários de seu passado, nas mais ternas das recordações, parecendo ainda ouvir o som do alto-falante anunciando eventos, noticiando óbitos, comercializando produtos e tocando músicas que ainda vibravam vivas, intensas, nos ouvidos. Sons que, ouvidos ocasionalmente, traziam vivas as emoções da infância e pré adolescência naquela terra vividas.

     E o velho casarão, o cinema da cidade, onde assistia às matinês nos duros bancos de madeira ? Eram filmes registrados na memória, com suas canções, personagens, estórias latentes, que emergiam criando um cenário justaposto ao visto, apenas imagens , inexistentes na atualidade, imaginárias, palco único mantido em sua memória, na solidão de suas lembranças.
    A luz dos postes de madeira, clarões foscos, amarelados, no início de sua chegada, fornecia energia elétrica até as vinte e três horas, através de um gerador, depois apenas a bruxuleante iluminação das lamparinas de querosene ou lampiões a gaz , as ruas eram iluminadas pelas noites de lua em um céu em que reverberavam constelações de estrelas...
    Nítidas as imagens da comemoração da estréia da luz elétrica, com seus postes de cimento, o cortejo de carros barulhentos, com suas buzinas acionadas, comemorando o advento da modernidade que surgia...
    No passado, uma avenida principal, demarcada nas extremidades pela igreja católica, então de madeira, a cruz enorme, o átrio e o coreto, a missa da primeira comunhão, os flertes inocentes durante os sermões do padre, cabelo escovinha, alemão austero...
    As procissões dos fiéis em filas indianas, com velas à mão, em cânticos saudando os Santos, levados pelos párocos sobre os ombros em altares suspensos, quem não participava, acompanhava das calçadas, mobilizando todo o povo.
    No outro extremo da extensa via de duas pistas, a escola estadual.
    Além do educandário público, adentrando nas quebradas do matagal, conhecido como Picadão, por ser uma verdadeira clareira cercada pela mata, ocultava um conjunto de casas de madeira, onde hospedavam as mulheres que recepcionavam os casados em suas escapulidas extraconjugais, e os solteiros. Aos meninos restavam as curiosidades de saber o que se escondia naquele conjunto habitacional tão procurado e comentado.
    Celeiro de escândalos, as "moças" adentravam a cidadela em charretes cobertas, despertando comentários e chamando a atenção dos transeuntes. Mulheres vestidas com roupas ousadas e vistosas nas padronagens dos tecidos, além das maquiagens fortes e acentuadas.
    Moradoras exóticas ao ambiente, com meios de locomoção próprios, tocados por cavalos. Volta e meia, os noticiários febricitantes das línguas do vulgo davam contas de que fulano ou sicrano foi recebido a pauladas por suas dignas esposas, após inconfessáveis aventuras. Engraçado era vê-los, contritos, se penitenciando nas missas domingueiras das façanhas mundanas da semana... Nada que passasse despercebidos pelas antenas falantes das eméritas filhas de Maria...
    Por vezes, amargava a sensação de também ele ser uma personagem irreal em busca de uma realidade inexistente, plasmado no seu ´íntimo, um outro mundo, diverso do que via naquele retorno...
    Voltava a uma terra estranha que julgava ter conhecido, página virada de sua vida pessoal, onde vivera parte de seus principais anos, mas não mais se reconhecia, estava deslocado, desalojado de suas origens.
    Sentia-se como alguém sem história, sem raízes, um viajante jovem que dali partiu um dia para uma cidade imensa, cosmopolita, onde, com os anos, foi perdendo suas características interioranas, seu jeito peculiar de falar, eventuais expressões idiomáticas ou sotaques, pulverizados na miscelânea aculturada da megalópole, mãe hospedeira de milhões de filhos, de diversos estados do País, num emaranhado de culturas diversas...
    Por certo, os registros da escola pública atestavam sua existência passada por lá, apenas papéis não desmentindo ser ex-habitante, confirmando suas reminiscências e lucidez...
    Quanto ao mais, até a rua que tanto lhe pertencia em suas aventuras e afetos, restava um número, a ele se figurava como um estranho...

    (Di Magalhães, Largo do Chafariz, cidade de Goiás)
    Selecionado para figurar na Antologia Contos de Outuno, editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro/RJ, edição abril de 2011-
      Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora. Ilustrações MEL ALECRIM, blog do LIMA COELHO - Contos, Crônicas, Poesias e Artigos - São Luiz/MA
     

    domingo, 15 de abril de 2012

    CRONOLOGIA DO TEMPO

    ontem era presente

    agora já é distante
    folhinha descartada


    nesta hora momento
    em breve será virado
    e o hoje será passado


    a notícia tem vida curta
    tempo exato do anúncio
    mas logo depois mutável


    fato ocorrido comprovado
    longevidade finita duração
    em nova versão renovada


    nova, oposta ou remendada
    atualizada acrescida alterada
    matéria velha vencida mudada

    antes que sejamos páginas viradas
    lembranças amareladas esquecidas
    vivamos no hoje o amanhã sonhado...



    (13/08/2008)

    segunda-feira, 9 de abril de 2012

    C A R R O S S E L

    Jogando com as palavras
    Dadas asas à imaginação
    Sons em imagens cifradas
    Compondo sonhos e ilusão


    Sol em noite estrelada
    Lua banhando o dia
    Partida e chegada
    Sorrisos e simpatia


    Dois mais dois dando cinco
    Gargalhadas no circo
    Vida vivida, ciranda rotina


    Coração de papel crepom
    Sorvete, como é bom !
    Saudosa matinê vespertina...



    sexta-feira, 6 de abril de 2012

    VIVENDO...

    V I V E N D O...


    Cativo das fantasias
    Quimeras cultivadas
    Nas dores anestesias
    Feridas cicatrizadas

    Barco solto na imensidão
    Menino colhendo sonhos
    Nos Jardins da imaginação
    Vencendo dias tristonhos

    No balanço das águas
    Distribuindo sorrisos
    Afastando as mágoas

    Saudades, coisas passadas
    A vida, momentos vividos,
    Ao ontem, lembranças levadas...