sexta-feira, 30 de abril de 2010

CONFUSOS SENTIMENTOS

lágrimas vertidas
caprichos da posse,
sentimentos invertidos,

quando se perde
a quem se tinha,
por desamor desprezado

doe a dor da ausência,
a idéia de que está feliz
longe de seus braços,

mágoa confundida
em saudades
expressão egoísta

ilusória crença
que longe de seu domínio
inexistam luz e alegria...


MOMENTO

convite ao tempo
talvez ele páre
em sua azáfama permanente

também cristalize o momento
para que não perca este sol
intenso, esplendoroso e ardido

e todas as coisas vivas fiquem imóveis
reflitam o bem estar com a vida
antes que, trânsfugas , tudo mude...




TRANSFORMAÇÕES

mudanças
registros do tempo
arquivos na memória

casas assobradadas
janelas abertas
habitadas, ora vazias

moradores de longo tempo
incertos endereços
viajantes de épocas

demolições
novas construções
novos cenários

reminiscências
fotografias opacas
metamorfoses vividas...

terça-feira, 27 de abril de 2010

GARRANCHOS

pode ser inútil
este solilóquio
discurso íntimo

não produzirá
contendas
e nem réplicas

são gritos mudos
isentos de críticos
são ecos no silêncio

abstrações solitárias
devaneios incautos
ociosidades banais

que importa ?
cada louco com sua mania
cada menestrel com sua lira...

LUZES/TREVAS

oscilamos
entre luzes
e trevas



por vezes
magnânimos
ou mesquinhos



aborrecidos
entediados
ou sorridentes



vagamos
entre extremos
não nos reconhecemos



ora brilhamos
exultamos
ou nos amofinamos



como pirilampos
entre piscadas
ora luz, ora escuridão...

domingo, 25 de abril de 2010

VIAJANTES

nos apropriamos do universo
transeuntes desta jornada
viajantes neste tempo

apesar de megalômanos,
apenas somos
usufrutários por momentos

na bagagem
tão somente
os sentimentos...

ESPERANÇAS

dinâmica celular
substituídas
as envelhecidas

esperanças
combustíveis do espírito
fomenta passos, dá sentidos

em sua ausência
corpo sem alma
vasilhame vazio

eternas fênixes
absorvendo adversidades
reequilíbrios e anseios

cada queda
nova investida
amando, vivendo...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

LIMITES

espinhos emperdenidos
na derme, no cerne, profundos,
feitos estigmas, transcendentes

alojados no espírito
registros imemoriais
nos tempos perdidos

vivos como chagas novas
infensas às cicatrizações
partes íntimas do doente

acalentados como troféus
as honras e orgulhos
âncoras nos precipícios

aves atrofiadas
voos adiados
truncados caminhos...


terça-feira, 20 de abril de 2010

PEDRA BRUTA

fizestes de triste
em rimas persiste
o teu amargor

de seu brado enfurecido
entorpecido impotente
de tua alma indomada

cabisbaixa, vergada,
sob arreios e domos
cavalgada

aplainada feito vara
feixe de lenha arrumada
madeira prensada

estirada sobre si
amoldada
cativa de seus enganos

orgulho infeliz
falsas bandeiras
gritos insanos...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A COR DOS SONHOS


qual a cor de meus sonhos?
rubros como arrebóis no horizonte
cinzas como os dias tristes de inverno

amarelos intensos como o sol em zênite
reflexos em fogo no auge dos êxtases
melíflua como as tardes rotineiras

em nuances, alternando dores e risos,
prismas de colorações multifacetadas
minhas ilusões de ótica, devaneios...


quinta-feira, 15 de abril de 2010

MIRAGEM


pego a rabeira de meu tempo,
esbaforido, aturdido,
vivendo, sobrevivendo

e no atropelo dos dias
céleres correm no calendário
o tempo a finar na ampulheta

se paro, medito, questiono
ameno o navegar na alienação
correrias, ondas das euforias

que deter-me em pensamentos
nau à deriva em mar de enganos
assim imagino uma busca

ainda que ilusória
de um porto seguro
ao cabo da jornada...

sábado, 10 de abril de 2010

ALGEMAS DA ILUSÃO


neste labirinto
de emoções me perco
nas ilusões entorpeço

e caio em recomeços
infindos e tormentosos
esvaindo oportunidades

de encontrar a saída
salvadora e redentora
de minhas fraquezas

absorto e iludido
cometo os desatinos
que atam e escravizam

prisioneiro de mim mesmo
escanfandrista em abismos
eterno aspirante às alturas...



Poesia Selecionada para publicação na 66° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, edit. CBJE, Rio de Janeiro/RJ

MUDAS PALAVRAS


há no ar
silêncio
ouvido

transcende
a calma
explode

imerso
no íntimo
desassombro

estalidos
gemidos
sussurros

pairando
no ambiente
deste vácuo...


sexta-feira, 9 de abril de 2010

O SOFRER & A POESIA

indesejada
a dor
abominada

o sofrer
involuntário
traz nuances

encantos em dores
despercebidos nas calmarias
azo a reflexões e pensamentos

no escorrer das lágrimas,
choros insulflam paixões
que a alma poeta adorna

em ramalhetes
delicados arranjos
perfumadas flores....


VOLTA À ORIGEM

foi-se minha mãe
em breve agonia
despiu a vestimenta

ancorou-se em outro porto
distanciou-se de nós
voltou às origens

nas lembranças a recordo
não triste, mas saudoso
todos cumprem o seu tempo

nesta terra abençoada
de dor e desterros
conquistas e experimentos...


em 08/04, se encarnada estivesse faria aniversário...

O JARDINEIRO NAS MANHÃS




a imagem nos refolhos d' alma
volta-me terna, saudosa,
distantes tempos, traz-me calma

da casa de singelo jardim
hortênsias coloridas, pé de coqueiro
adunca e alta figura, amador jardineiro

meu avô varrendo nas manhãs
no pijama de listras
seu traje costumeiro

vassoura à mão
recolhendo folhas mortas
limpando os canteiros

dissipa-se da memória
como se quisesse retê-la
uma época, minha história

em que brincava sorridente
a vida, uma aventura,
o mundo um presente...



Selecionada para publicação na Antologia Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

VIVENDO / APRENDENDO

o tempo passa
e a natureza humana
leviana nas buscas de prazeres
embriagada de aventuras

sempre diante das torturas
dilemas em culpas
de malfadadas escolhas
remorsos e arrependimentos

como se a vida,
laboratório de experimentos,
nela tivéssemos antes
mergulharmos nas doçuras dos desatinos

para nos quedarmos, feitos crianças,
alvoroços e tropeços,
mãos em súplicas ao Divino
pelo resultado infeliz de tantos erros...

sábado, 3 de abril de 2010

DISTÂNCIA PRESENTE


ela se insinua,
transborda
em sedução

lascívias e carícias
delícias desejadas
além da imaginação

está presente
na ausência
de meus momentos

é tormento a apascentar
nas torturas da solidão
é imagem forte, persistente

diva, musa,
fêmea sedenta
de meus carinhos

a visitar-me
em meus solilóquios
a tisnar meu raciocínio

é anjo em veste diabólica
é insana, feroz, mesquinha
promete e não cumpre

deixa no ar vestígios
rescende luxúrias
inebriantes suspiros

evola-se como perfume
nos caprichos
de solitária ilusão...



CONVENÇÕES


tudo efêmero
orgasmo
rápido, insípido

gestos maquinais
frugais
alimento trivial

prato feito, convencional
servido como no menu
preço acertado, combinado

regalo instantâneo,
momentâneo como raio
descarregado fulminante

um homem, uma mulher
um pacto comercial
anseios animais

compensados
automatizados
identidade apenas

na solidão...


O REAL E AS APARÊNCIAS

veste branca
imaculada
depósito de máculas

enxovalhadas
em contraste
com o alvo traje

pureza diversa
com o íntimo
túmulo caiado

podridão oculta
nas farsas
das aparências

satisfeitas exigências
sociais conveniências
hipocrísias custeadas

compensadas
nos confessionários

no pagamento das indulgências...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

ONTEM / HOJE


ah, encontro,
em esboços,
me acho

num velho caderno
enrugado, amarelado,
sinalizando observações

tempo que vai longe
menino ainda, abismado,
com coisas já habituais

e inocente
cultuava flores de esperanças
num mundo próximo e possível

em carinho preservo do descarte
da lata de lixo,
para o arquivo dos sonhos

o que restou
incorruptível
de mim em enganos...