sexta-feira, 13 de junho de 2008

MANHÃS FRIAS ( sensações)



Não raras vezes sentimos, em determinadas ocasiões, uma reprise de um momento já percebido; as causas, se há alguma definição que as expliquem, ignoro.
Como a ignorância está fundamentada em todas as atitudes, deixo-me, ainda desta vez, de inquirir à respeito; contudo, levam-me a refletir numa reciclagem de sensações... parece-me óbvio o sentir, no inverno assim com em cada em estação do ano, com o passar de um ou vários, a volta de um sentimento já experimentado. Assim, a melancolia da estação fria poe-me a meditar num mosaico difuso, num emaranhado de momentos anteriores; chego à estupidez de crer que o sentimento de agora não é recente, somente uma projeção de sensações já vividas. Tese perfeitamente infundada pois seria o mesmo que afirmar uma inércia na percepção dos sentidos, limitá-la a arquivo da memória e a insensibilidade ao momento presente, ao panorama vislumbrado neste exato momento.

Descarto da possibilidade de o condicionameto de sentir, porque deles, os sentimentos, cada qual temos nossa forma idiossincrática, peculiar de apreender, de se exprimir. Resta-me absorver as sensações sem a preocupações de analogias. Talvez tudo tenha relação com os momentos vividos anteriormente. Se o inverno desperta-me a meditação, o silêncio, o recuo ao convívio com os demais e a opção pelo ostracismo, não se constitui, todavia, a regra; as pessoas, no tempo frio, aproximam-se mais, tornam-e mais aconchegantes; algumas optam pelo frio e repudiam as contrariedades do verão com seu sol tórrido...

Por certo também nos demais períodos do ano as sensações transportam-me a momentos já vividos; elas estão encravadas na alma como a inscrição feita a estilete no tronco do carvalho. Sentimos o já sentido porque o momento presente sugere esta sensação; nada em termos sensitivos é independente,nem mesmo os pensamentos estão liberados de um estímulo.

No caso de sentir o já vivido liga-se ao momento presente, não apenas pela estação fria como por todas as mudanças implícitas às inversões de hábitos; explico: o fato do ar úmido pelas manhãs, o andar atarracado para aquecer, o desdobramento sobre si mesmo como hibernação de um urso, estimula a reflexão, o mutismo; assim como uma fruta saboreada pode-nos trazer sensações de épocas determinadas, momentos específicos e particular a cada elemento, pelo próprio aroma e sabor degustado.

( jornal mural Banespa Ag.Barra Funda, 1978)

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