No obscuro dos desejos

Nem precisava vê-lo para sentir-se afogueada, intranqüila e lânguida. Para tanto bastava lembrar –se de sua figura, do cheiro de seu perfume, ou ouvir a sua voz máscula, segura, a chamando pelo interfone.
Pensou em demitir-se, arrumar uma desculpa qualquer e buscar outro serviço, o que precisava, com urgência, era manter-se longe da sua presença, sob pena de não conseguir mais se controlar. Era um homem mais velho que ela, a razão de sua incontrolável insegurança e desejo. Temia confessar a alguém o que sentia, poderia parecer um ato condenável de uma jovem sedenta de uma experiência íntima, ousada.
Naqueles momentos de suplícios pessoais, sonhava em tê-lo de forma mais impudica e sacana, desconhecendo a si mesma, até então reservada e tímida. Numa metáfora, via-se como um vulcão prestes à erupção, à deriva da razão e dos bons costumes, a verter lavas incandescentes e devastadoras. Surpreendia-se no banheiro apalpando-se lascivamente, tendo-o no imagináriocomo companhia. Circunstância em que obtinha relativa paz, lavando o rosto, retocando a maquiagem leve, retornando a seuposto, a escrivaninha de secretária.
Ela buscava entreter-se naqueles papéis, digitando compassadamente no computador, mas a mente, não raro, voltava-se para o patrão. Seu aroma no ar a embevecia, esforçava-se para identificar o nome da colônia preferida por ele. Pensou em adquirir um frasco para aspirá-lo em sua ausência.
Ao levantar a cabeça, desatenta, cruzou os olhares com o jovem que a assessorava, sentiu que ele queria lhe dizer algo, e que não conseguia. Instantes de hesitação. Teria esquecido de lhe transmitir alguma coisa, por que estava plantado em sua frente a olhando daquela forma, embaraçado e confuso ?
O chamado pelo interfone a tirou do impasse, voltando-se para resolver à voz que a chamava.
Dona Verônica... ( voz sôfrega, angustiada, indecisa do mancebo tímido, ainda bem que ela não percebera a mancha aparente em sua calça,na altura das genitálias)
Levantando-se para atender o chamado, parecendo não ouvi-lo.
Assim transcorriam os dias, cada qual imerso em seus desejos inconfessáveis.
Fim de expediente. O rapazote desejando a colega e esta inebriada pelo chefe.
Em uma esquina, um carro pára, o magnético desce o vidro e uma mulher loura, de saltos altos, roupa colada e luminescente, seios fartos e batom vermelho carmim, obedece ao chamado pelo olhar, sai da calçada, cabeça imersa dentro do veículo, sussurrando alguma coisa, como combinando detalhes...
A andrógina figura em sorriso debochada e matreira entra no carro e partem...
O desejado homem pela jovem moça, vai em aventuras com sua passageira ou passageiro, enquanto o pobre rapaz sonha com a iludida colega...

15 comentários:
Meu jovem se tantos desejos contidos fossem gritados, já imaginastes o que seria de nossos ouvidos!
Muito bom!
ubirajara
caravanapoeta@gmail.com
09/10/2012
(SITE DE POESIAS)
É nessa rede sutil, no obscuro dos desejos,
que os corações querem se prender.
Ainda que no final sejam grandemente surpreendidos.
Senti saudades de te ler, Ediloy.
Bj
Gloria Salles
sallesgloria@yahoo.com.br
09/10/2012
(SITE DE POESIAS)
Caro poeta mais um conto onde as nuances da vida se apresentam de forma cristalina, nua e crua em todos os sentidos. Os desejos mais profundos descritos na mais pura das realidades. Meus sinceros aplausos.
J.A.Botacini.
Zezinho.
Jose Aparecido Botacini
ze-botacini@hotmail.com
08/10/2012
(SITE DE POESIAS)
Ediloy como sempre um conto muito intressante, que a gente nunca sabe como vai acabar. Cheio de climax e ante climax. A história podia até se desenvolver de outra maneira, da seguinte forma: O boy aranjava uma namorada, que acabava se apaixonando pela secretária. O chefe briga com o traveco e se apaixona pelo boy. Como já era perto do Natal, o chefe dá uma festinha de fim de ano e aí todo mundo fica com todo mundo, trocando de parceiro. É claro que o nome teria de mudar pra "Éramos quatro", mais aí seria outra história patrocinada pela cerveja Devassa. Mas valeu Ediloy, muito legal seu conto. Bravo!!!!!!!!!!!!!
Fred DeMenezes
fredbut@oi.com.br
08/10/2012
(SITE DE POESIAS)
Sensualidade plena
numa escrita sem rodeios
que fala de sonho e seios
contando de forma amena
essa história serena...
Pobres jovens em lampejos
abrasando-se em ensejos
sem desconfiar de nada,
pois a vida é uma piada
no obscuro dos desejos.
Ronaldo Rhusso
RONALDO RHUSSO
ronaldo.rhusso@gmail.com
08/10/2012
(SITE DE POESIAS)
12/10/2012 14:12 - Miguel Carlos Comp
Belo e bem construido seu conto, parabéns sempre!
(RECANTO DAS LETRAS)
Muito legal, adorei
Comentário Enviado Por: Zilá Em: 15/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Putz! Muito legal.
Comentário Enviado Por: Rosa Amélia Em: 15/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Um arraso de narrativa.
Comentário Enviado Por: Carla Porto Em: 15/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Ferraro está extrapolando na beleza dos seus escritos. Dá uma inveja...
Comentário Enviado Por: william porto Em: 16/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Demaaaaaaaaaaais!!!
Comentário Enviado Por: Larissa Dias Em: 16/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Arre, que nervoso! Quanta ansiedade e amores não correspondidos. Em qualquer dos teus contos, o uso de adjetivos me encanta. Abração
Comentário Enviado Por: Ivette Gomes Moreira Em: 16/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Faço minhas as palavras da Ivette
Comentário Enviado Por: Hilda Canário Em: 16/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
Ediloy, arrasou meu!
Comentário Enviado Por: Martha Vilarinhos Em: 16/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
beleza de conto cheio de amarras ehehheeh
Comentário Enviado Por: Lelena Em: 17/10/2012
(BLOG DO LIMA COELHO)
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