Costumo comparar a vida em São Paulo como uma droga, que entra na composição do sangue de quem nela habita e que, embora querendo libertar-se,fica refém...
Quando aqui cheguei me assustei com tudo. Garoto caipira, criado em pequenos vilarejos, nascido em uma cidade, Echaporã/SP, que não tem mais que 3 ruas centrais e onde o tempo não passou... e depois vivenciado a maior parte da infância em outra cidadela, Mariluz/PR, de que guardo na lembrança a inauguração da rede de energia elétrica, nos idos dos anos 60, do serviço de difusão por alto-falantes, precursor da rádio, que tocava músicas, divulgava o comércio e noticiava os óbitos, dos ensolarados domingos que todos se concentravam no estádio de futebol ou dos sermões domingueiros dos padres católicos... era uma melancolia imensa aquele zumbido de radinhos portáteis narrando as pelejas futebolísticas, o mormaço escaldante refletido nas telhas de barro das casas, as ruas desertas, os cães vadiando preguiçosos, galos, galinhas, eqüinos, caprinos, suinos...
Parte de minhas férias passava em Marília/SP, terra dos avós paternos, para mim a maior cidade que existia... como eram lindas as decorações natalinas em suas vitrines e saborosas as mangas rosas ou coração de boi, a jabuticabeira no quintal e o pé de uvas...
Uma vez em Sampa, há 37anos, de assustado com a atabalhoada metrópole,percebi que sou essencialmente urbano e que paisagens bucólicas, com gado pastando e ermos a perder de vista, apenas em telas e quadros, que tédio me inspiram !!!
Dentro dessa megalópole babélica,imensa, cruenta e desigual, às vezes bela, onde as pessoas vivem em seu cotidiano, geralmente apressadas, entulhadas nos vagões de metrô e CPTM, nos ônibus, nos carros, na algaravia de múltiplos sons: sirenes, buzinas, gritos e estampidos (terríveis!)...
É também, no fervilhar de sua movimentação que a vida acontece, os fatos se sucedem e alimentam notícias, a febricitante bolsa de valores, os camelôs em vai-vens, os repórteres registrando o pulsar de cada novo flagrante surgido de suas entranhas alimentando a mídia de novidades, gerando pautas de jornais e revistas, tomadas de cenas inusitadas pelos canais de televisão...
Perto de 11 milhões de habitantes, retrato sintético de um´país inteiro... todas as regiões e nacionalidades, mansões e favelas, ostentação e misérias...
Continuo assustado com tudo e com todos, mas, como um dependente,não creio que sobreviveria ausente à tanta balbúrdia cotidiana...
Foi aqui que, a duras penas, entendi que a solidão existe, mesmo rodeado de milhões de solitários a vagarem pelas ruas e avenidas, anônimos e discretos...
Sem essa faina alucinada ficaria a sós com os meus fantasmas e angústias...
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