sábado, 29 de janeiro de 2011

POEMAS E FLORES

poemas são flores
nos jardins da escrita
cultuadas palavras
em bençãos a outros

despreendidos
humildes
nada cobram,
são lágrimas, por vezes.

participam emoções
de um autor desencantado
esmerando em seu pranto
por um apreciável canto

são atos marcados,
na necessidade de falar
exteriorizar sentimentos
em murmúrios, sozinho...

CANTO SOLITÁRIO

sem louvor às amenidades
nem enaltecer em versos
o que de si já é belo

para tal, há tantos,
mais sensíveis, talentosos,
talvez mais puros e credos

lira que canta os monturos
não altaneia estrelas
visita brejos, chora a dor

são musas desprezadas
no intento tresloucado
de levar luz à escuridão

é canto monocórdio
sem aplausos e ecos
adereços e flores

são gritos mudos
surdos aos mundos
blasfêmias na solidão...

C A T A R S E

no palco, a verdade,
a representação real
da vida fingida
amarga, disfarçada
do dia a dia

sob refletores
encarnando outros
sente-se absolvido
da falta de motivos
da própria existência

nos ecos dos aplausos
a vitalidade efêmera
de um Ser abatido
sem encontrar-se consigo
em nada vendo sentido

expressando conflitos alheios
expurga seu próprio azedume
curtindo o fel de outros entes
no choro das personagens
lágrimas de suas próprias dores...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

NA SUPERFÍCIE DE SI MESMO

quis a essência, mergulhou,
e emergiu na superfície
não gostou do que viu

melhor enfeitar a paisagem
do que a busca no insólito
nos precipícios de si mesmo

aterrado por ter se encontrado
repudiou a si  próprio sem máscaras
teve medo, pudor, receios, horror

refeito, voltou às fantasias,
embriagou-se nas palavras frívolas
e desenhou seu arco-íris de ilusões...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DESAFIOS ÍNTIMOS

buscou suas defesas
precaviu-se de traições
mediu palavras nos convívios

evitou embaraços
tomou precauções
furtou-se aos excessos

tentou ser cordial
aceitável, amistoso,
educado, bom moço

para depois perceber
os óbices não são externos,
mas arraigados no íntimo

nada tinha a provar a ninguém
além de vencer a si mesmo,
entender-se, e crescer como gente...

domingo, 23 de janeiro de 2011

PROMESSAS NO TEMPO

depois...
tempo vago, promessa,
intenção

sem poder asseverar
de cá estarmos, dúvida,
vontade

se tudo der certo,
condicionante,
de nada der errado

então tudo bem,
condicionalmente acertados,
no amanhã, sem talvez...

HUMORES II

dos semelhantes,
convivo com os tolos
divertidos e otimistas

os intelectuais dão azia
 fazem me ver minhas tolices
e esmurram meu estômago

não os encontro nas esquinas
os leio a contragosto
me reviram do avesso

dão sempre a sensação
de que nada sei
estão certos, incomodam

os ingênuos me falam amenidades
do tempo, das mulheres, de futebol
contam piadas manjadas

dos pensadores e analistas,
aos meros mortais, festejos e crenças,
sigo iludido, rindo e vivendo...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AUSÊNCIA DE SENTIR



vaga sensação nula,
irreal, presumida,
ou deveras sentida

visitante intrusa
atrevida, abortiva,
inoportuna repulsa


tisnando argumentos
malogrando enlevos
estéreis momentos

sem azo a  enredos
reflexões, devaneios,
sem ritmos e segredos

debalde a  busca
da lira ausente
frustrando ofusca

no vazio, nada a dizer,
sufoca, maltrata, instiga,
encuca neste sofrer

pior do vácuo  no sentir,
na ausência imaginada,
é nada ter para refletir...

Selecionada para figurar na 75° Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, edição abril/2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PROCURANDO ESTRELAS




bom seria, abrindo as gavetas,
buscando abrigo
sumindo do mesmo de cada dia
em inúmeras fantasias
pegando a luneta vendo estrelas
ofuscadas nas nuvens carregadas
ameaçadoras no fel das melancolias


ah, como seria,
enxergar em múltiplos olhos
o que fenece os estritos limites
desse meu olhar simplório
e, antenado além, muito,
ver a vida em outras luzes e sons,
bebericando prazeres, dosados,
aos poucos, no requinte saboroso,
nos detalhes e deleites que a vida
generosa oferece, e  meu pranto,
de tolo, não consegue alcançar...


*escolhida para figurar na Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos, editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, edição junho/2011

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

GRITOS NO VÁCUO

ilusões
saciando anseios
de ser ouvido

além das paredes
circundantes
limítrofes de sentidos

gritos espalhados
múltiplas direções
alcançando alhures

almas afins
em seus delírios
coral distante

uníssonas vozes
no deserto
cantando em silêncio...

VIAGÉNS

avestruzes, por vezes,
a cabeça no buraco
fugindo do perigo

a alma rebela,
à volta nada revela,
de prazeroso ou belo

no universo onírico
compensações em cores
para o tédio dos dias

não parte física do corpo,
a mente em transporte,
vencendo barreiras, levitando

além do tacanho, das hipocrisias,
mesmices da sensaboria,
nave em espaços infindos, sorrindo...

domingo, 9 de janeiro de 2011

SENSAÇÕES DA CHUVA

a água sôfrega,copiosa,
ao encontro com  o solo
beijo molhado no início
depois intrusa, esbanjada.

na descida das nuvens escuras,
tetas inchadas desenhadas no céu,
acompanhada das trombetas
raios rasgam a paisagem enegrecida
(onde andará o astro rei ?)

tantas coisas trazidas neste frescor
imagens de agora, com outras,
pintando a tela do momento com os onténs
misturas de sensações varando horizontes

bem mais que chuva intensa
inundando as ruas molhando gentes
transportes para o além,
respingos em lágrimas sentidas...

sábado, 8 de janeiro de 2011

LANÇAMENTO DO LIVRO " VINGANÇA, PRATO QUE SE COME FRIO ?" 

LOCAL: SEDE DA SEÇÃO REGIONAL DA OAB - NITERÓI / RJ 

DATA: 18 DE JANEIRO DE 2011

MINHA PARTICIPAÇÃO:  CONTO  "A MEIA VERDADE"  COM 19  PÁGINAS (TEXTO PUBLICADO NESTE BLOG, EM 25/08/2010)

DESABAFO

erupções emotivas
à flor da pele, hostis,
emergem dejetos, 
mágoas, desatinos

revolvendo das entranhas
lavas incandescentes
sulfurosas, cancerígenas,
pústulas abertas, libertas

dores desafogadas,
expostas, amenizadas,
panacéia dos males,
tensões aliviadas...

VÉUS DE ALEGORIAS

julguei possível
retirar as cores
ilusões dos dias

encarar a realidade,
sem adereços, requintes,
despida das alegorias

ornamentos frívolos
purpurinas e neons
nua a verdade crua

arrepia, amendronta,
apavora suas feridas,
volto às máscaras

cara pintada, roupa larga,
palhaço ocultando as lágrimas,
sorrindo a todos,  chorando no íntimo...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O MAIS DO MESMO

iludido, poderia pensar:
as letras amenizam a vida
a floresça apesar dos dissabores

mas, nem sempre ou nunca é,
apenas gritos mudos no infinito
coisas remoídas, indigestas

assim não se produzem ilusões
douram os amargos dos dias
pondo contextos ao absurdo

os doidivanas ensandecidos
aferram-se como lunáticos
nós em pingos d´água

subvertendo a situação
monótona e ordinária
ritmos ao inflexível

buscas incompreensíveis
sem causas ou sentidos
para se continuar igual...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

DESCRIÇÃO DE UMA GRAVURA

codifico o que veem os olhos
na leitura única de meu universo
sensações, emoções, tão minhas

conferindo à figura visada
nuances imperceptíveis a outros
povoadas apenas no meu íntimo

assim as tonalidades visíveis
assumem derivadas cores
em devaneios próprios

talvez seja o mistério
de iguais diferentes
no padrão dos costumes

o belo pode estar no feio
a felicidade no triste
e na tela alva o arco íris...~


* poema publicado na Antologia Versos/Reversos, no 1° prêmio do site Mar de Letras, editora Sapere, setembro/2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MANHÃS CINZAS

manhã despida
do calor e luzes
do sol, é cinza

molhada em lágrimas
asfaltos, vielas de terra,
chora desamparada

dama abandonada
sem atavios e magias
sofre e lastima nas águas

nem nuvens
azul celeste
ou poente promissor

é única,deserta,
arrasta-se nos ponteiros
agoniza o findar das horas

necrológico de um dia
sem serventia, apetite,
inundado em mágoas...

domingo, 2 de janeiro de 2011

DUELO ÍNTIMO

momentos há
ancorada na razão
algemas aprisionando
as asas da emoção

retendo em raciocínios
os anseios do sentir
aprisionando o barco
de rumar mares infindos

de vagar, deixar de ser,
de ter sentido,
surfando nas ondas
à deriva do destino

vigilante, acessa,opressa,
esquadrinhando argumentos
retendo a linha da pipa
de soltar-se nos ventos

vencendo  pelo medo
enredos fantasiosos
tênues à insanidade
trazendo, ciosa, a realidade...