quarta-feira, 17 de dezembro de 2014






Publicado em livro na antologia MISTICISMO e FANATISMO no CONTO BRASILEIRO - editora CBJE - Rio de Janeiro-RJ, lançamento fevereiro de 2015.


*Selecionado como um dos melhores contos da editora publicado entre out/2014 a set/2015



L A B I R I N T O S






Pela janela avistava-se a silhueta, indo e vindo, perambulando, luz acessa demonstrando  a vigília e ausência de sono. Destoava o brilho  na torre de um mar de janelas obscuras, escuras na noite, onde todos dormem, menos aquela figura, destacando-se naquele edifício, pequeno farol no escuro da madrugada. Sua imagem se agigantava com o esvoaçar das cortinas, diante a janela aberta.
Lampejo persistente, alerta nervoso, meio da noite, de repente, chamando a atenção pela luminosidade destoante do restante, estrela solitária realçada como um ponto na escuridão. Faísca em detalhe no todo de um edifício dormente.
Insone, andar impaciente, passos consumidos, o que ocorria com aquele homem, num vaivém constante e ininterrupto, sombra babélica a andar à esmo, destacando-se do breu do anonimato como um vaga-lume? 
Indolente ente, na solidão  em ânimo doente, ou de si ausente, na saudades de alguém, na distância presente, será?
Apenas cogitações alheias, buscando razões para se entender aquela situação atípica e preocupante. O certo é que se encontrava sozinho naquela cena destacada contra a luz, entre as esvoaçantes cortinas. Não se percebia outra presença, tampouco parecia conversar com outro alguém. Apenas os cigarros acendidos um após o outro. Clarão que evidencia a dor de um Ser aparentando sofrer em solilóquios, indiferente ao cansaço da vigília prolongada na madrugada. Em que mares navega aquele barco à deriva, em tormentos íntimos?  Donde viria a extenuante ida e vinda, em rápidas pausas, onde debruçava-se  no parapeito alheio a fitar o nada. Estremecimento, tentaria contra si  jogando-se daquela altura?. Não se saberia, pois voltava a andar sempre indo e vindo. Suas mãos tentava deter os cabelos volumosos a teimarem  cair pela testa, fustigados pelo vento da noite amena.
Gesticulava, andando pelos cômodos, sua sombra em contraste com a luz se desenhava pelas cortinas, denotando agitação, retornando sempre à sala, apenas uma imagem de um homem só em suas aflições. Nos gestos  transpira sua dor em gritos mudos, imagem fantasma com a mente inquieta, talvez doidivanas, quem saberia? .
Camundongo de laboratório em experimentos, labirintos em intramuros, guerreando consigo mesmo, duelos íntimos. Ecos mudos, irreais, sopitando especulações de sua causa, leme e norte, folha ao vento, barco à deriva, desatinos?. Quantas impressões passavam aquela visão, na impotência da interferência de estranhos, restava o assistir, compungido, o embate surreal de alguém consigo mesmo. Cinema mudo, ator em alucinante monólogo, visto por outros olhos à distância, observando seu andar tresloucado, suas dores presumidas. Enredo funesto,  questionado ao sabor de quem o assistia, impassível, tentando entendê-lo naquela  encenação. No reflexo de suas inquietações, a compreensão de alguns, inspirando compaixão, e de tantos a desmerecê-lo, julgando-o levianamente sem atinar com suas razões.
Mundo íntimo, conflitos em aflitivos gritos reprimidos, alucinados gestos, desconexos a terceiros e impotentes espectadores de sua angústia e desditas. 
Postado na janela, a retina como a registrar o movimento das ruas, pausas raras entre o repetitivo ir e vir, na impassível postura de desatento observador. Vislumbrado, parecendo atento e a um só tempo alheio, à vida que acontecia além.
Da janela, via-se a rua e dela se vislumbrava o homem, debruçado no parapeito, a tudo assistia parecendo nada ver...Como do convés de um navio, na altivez de um comandante e na distância da indiferença. Nos vagos gestos, olhos distantes, parecia absorto em devaneios, entre um cigarro e outro.
Seria um tresloucado, prestes a algum ato suicida? Tênues fios delimitam a sanidade. Do sano, certezas, convicções. Do insano, desvarios, alucinações,  Ser que vagueia entre duas estações, obscuras e claras, na mente açodada, estreitos caminhos, desvios trilhados em ilusões e enganos...
Mente desprevenida, desatenta, fisgada pela depressão, inoculada, sutil como um ofídio, insinua e abocanha, leva a paz, é tristonha. Descolore a luz, embaça, tira a graça é enfadonha, suga energias e exaure,aproxima-se  malsã imperceptível, esgueira-se e domina. Abismos em dores, anônimos sintomas, diagnósticos e cismas. Diáfana e maléfica, contaminando, virulentas chagas na alma. Entorpece, anestesia em profunda melancolia, trevas em profusão. Achega-se à vítima, a doença a entrelaça, são duas e únicas, numa conjunção simbiótica, hospedeiro e parasita. Cadafalso e verdugo, no fio da navalha, sanidade em risco.
Um solitário na imensidão de semelhantes, ilha na multidão, caminhos iguais, destinos diversos, caminhantes do mesmo tempo, em mundos paralelos, experiências e dores,  cicatrizes e crescimentos...
Quedará vencido pelo torpor do sono e cansaço antes do raiar do dia, para viver  no amanhã  nascente a sua história de pacato cidadão no emaranhado das funções que a vida coloca neste palco de inúmeros papéis a serem vividos e desempenhados,  entre atos sucessivos e intermináveis... Até o fim!


* Publicado no BLOG DO LIMA COELHO - Contos, Crônicas, Poesias e Artigos Literários - São Luiz/MA ( perto dos 7 milhões de acessos na internet)

17 comentários:

Anônimo disse...

Sem dúvida. não posso deixar de ler os seus trabalhos. Meus parabéns.

Zé Gaiola
gaiolalmeida@terra.com.br
31/03/2011

(SITE DE POESIAS)
27 de novembro de 2012 20:20

Anônimo disse...

Anônimo disse...

Ediloy!
Teu conto , magnífico, reflete a solidão instalada na grande selva de pedra e os tormentos de uma mente insone que vaga solitária pelos labririntos da mente debatendo-se com as lembranças e ilusões de um mundo incompreensível !

P A R A B É N S !!!!!!!!!!!!!!

bj Taís
Taís Vargas Mariano
taismsdos@hotmail.com
31/03/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

27 de novembro de 2012 20:21
Anônimo disse...

30/03/2011 22:38 - Capitão Anilto

Esse cara é nóia... Amanhã leio de novo esse texto...

Para o texto: L A B I R I N T O S (T2880357)

(RECANTO DAS LETRAS)

Anônimo disse...

27 de novembro de 2012 20:21
Anônimo disse...

Olá Poeta!

Tem hora que me sinto assim. Gostei muito! Parabéns! abçs!

Lucélia Lima
lualmarques@hotmail.com
01/04/2011

(SITE DE POESIAS)
27 de novembro de 2012 20:22

Anônimo disse...

aaaaah!!! Que coisa instigante me deixou aquele personagem!?!?! Em cada entrelinha fiquei ansiosa por ele. Minha imaginação não queria parar nas vírgulas querendo sorver as letras rapidamente para saber da narrativa no que lhe ia acontecer...srsrsrs. Se o personagem não gritou no vácuo eu gritei para ele!
........
Parabéns pelo conto Ediloy, magnífico. Acho que deveria ter labirintos II .
Jane Cris Ѽ
janedireitopenal@hotmail.com
01/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...


1 de abril de 2011 15:34

OLA MEU CARO POETA!!!!

SIMPLESMENTE DIGNO DE REVERÊNCIAS,,,


ABRAÇOS....
lucineia lima
nattneia@yahoo.com.br


(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

27 de novembro de 2012 20:23
Anônimo disse...


como sempre meu amigo está simplesmente lindo! meus parabéns!!!

Pastor
altair.poesia@hotmail.com
01/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

27 de novembro de 2012 20:24

Oi, Ediloy,

A solidão é uma espécie de terapia perigosa porque o indivíduo fica a mercê do ser que pode destruí-lo, ou seja,
ele mesmo e o pior de tudo, não há como fugir da própria consciência. Foi por isso que Deus nos colocou lado a lado na jornada da vida, para nos ajudarmos, quem se esquece disso, irá aprender através do pranto e do sofrimento, infelizmente... devemos nos esforçar para que o amor tome conta do nosso coração e não a angústia e o rancor...
Um conto maravilhoso que serve de alerta às pessoas que só enxergam os negativos do colorido filme da vida...mil aplausos

Grande abraço...
Pedrinho Poeta
pedro.poesia@hotmail.com


(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

27 de novembro de 2012 20:25

Um conto de solidão.

Comentário Enviado Por: Joice Carvalho Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

27 de novembro de 2012 20:28
Gostei muito, pois disseca a solidão.

Comentário Enviado Por: Érica Carvalho Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

27 de novembro de 2012 20:29
Anônimo disse...
Fico com uma inveja danada dos textos de Ediloy. Às vezes tenho até que dar uma cafungada na bombinha de asma.

Comentário Enviado Por: william porto Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
27 de novembro de 2012 20:29
Anônimo disse...
Parabéns, Ediloy !

Comentário Enviado Por: Rita Teixeira Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 10:49
Anônimo disse...
Beleza de conto, embora intimista e triste.

Comentário Enviado Por: Eulina Chaves Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 17:50
Anônimo disse...
Oi Ediloy, muito bom o seu conto.

Comentário Enviado Por: Wanice Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

28 de novembro de 2012 17:50
Anônimo disse...
Parabéns. leio sempre seus contos.

Comentário Enviado Por: Jorgiana Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 17:51
Anônimo disse...
Tá valendo Ediloy.

Comentário Enviado Por: Eleuza Xavier Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 17:51
Anônimo disse...
Pura solidão.

Comentário Enviado Por: Zulmira Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...


Fico com uma inveja danada dos textos de Ediloy. Às vezes tenho até que dar uma cafungada na bombinha de asma.

Comentário Enviado Por: william porto Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
27 de novembro de 2012 20:29
Anônimo disse...
Parabéns, Ediloy !

Comentário Enviado Por: Rita Teixeira Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 10:49
Anônimo disse...
Beleza de conto, embora intimista e triste.

Comentário Enviado Por: Eulina Chaves Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 17:50
Anônimo disse...
Oi Ediloy, muito bom o seu conto.

Comentário Enviado Por: Wanice Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

28 de novembro de 2012 17:50
Anônimo disse...
Parabéns. leio sempre seus contos.

Comentário Enviado Por: Jorgiana Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 17:51
Anônimo disse...
Tá valendo Ediloy.

Comentário Enviado Por: Eleuza Xavier Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)
28 de novembro de 2012 17:51
Anônimo disse...
Pura solidão.

Comentário Enviado Por: Zulmira Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...


Parabéns, Ediloy !

Comentário Enviado Por: Rita Teixeira Em: 27/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...


Beleza de conto, embora intimista e triste.

Comentário Enviado Por: Eulina Chaves Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...


Oi Ediloy, muito bom o seu conto.

Comentário Enviado Por: Wanice Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...


Parabéns. leio sempre seus contos.

Comentário Enviado Por: Jorgiana Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Tá valendo Ediloy.

Comentário Enviado Por: Eleuza Xavier Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...


Pura solidão.

Comentário Enviado Por: Zulmira Em: 28/11/2012

(BLOG DO LIMA COELHO)