sábado, 19 de novembro de 2011

AMOR DE ESTAÇÃO ( conto )







Distraído no passeio da manhã, pés enterrados na fofa areia da praia, amena brisa marítima, sol despontando no horizonte, prometendo um tórrido dia ensolarado. Dorso nu, calção folgado e pensamentos soltos, desprevenidos, arrepios na pele ao contato com a umidade trazida nas ondas próximas. Uma vida para sorver, intensos dias para se viver, um gozo de existir. Pegadas marcadas, breves vestígios, sumindo na água, voos em distâncias, no corpo presente alhures venturas na mente liberta. Interação entre o humano e a natureza, suaves frescores, como serenos orvalhos das manhãs campestres em plena visão de infinito azul do mar.
Vagar alheio, despreocupado, volteios no ar no voo das gaivotas enfeitando a paisagem deslumbrante, horizontes e mares, arrebóis nascentes e poentes, instantes multicoloridos nos vaivens das marés. Íntimo em paz no êxtase daqueles momentos. Azo aos devaneios poéticos, linda vida linda, sonhos encantos,magias, flores e pássaros, oceanos profundos, inescrutáveis segredos, cores em profusão. Além do alcance da visão, campos e florestas, cantorias da passarada em alegres orquestras. Humana máquina, perfeita, divina, que tudo apreende nos sentidos da emoção e codifica na razão, vida, linda vida ! 
 Viver como se abrisse gavetas buscando abrigo em inúmeras fantasias, pegando a luneta e apreciando as estrelas, enxergando em múltiplos olhos da alma o que fenece aos estritos limites do olhar material, ver a vida na inteireza de suas luzes e sons, bebericando prazeres dosados no requinte saboroso dos detalhes e deleites que nos oferece a dadivosa e generosa oportunidade de existirmos. Olhares alheados, enviesados sentidos, ociosos momentos, bolhas de sabão, vagos pensamentos, nau sem rumo ao sabor das oscilações das ondas. Sensações oscilantes, sentimentos, apatia ou preguiça, malemolência nos passos lânguidos, indolência calma, suave como uma canção no ar...
Com a disposição e humores agradáveis fazia seu habitual passeio matinal pela orla, desatento e saboreando a beleza ambiente, absorto em si mesmo, caminhando lentamente, tendo a atenção desviada para uma banhista que se distanciava da praia, parecendo necessitar de ajuda.
 Ali estavam, ele e ela, como era ainda cedo, com poucas pessoas circulando, não havia ninguém, além dele, para socorrê-la, aquilo não poderia demorar, os gestos aflitos da moça exigiam urgência. Viu-se atirando contra as ondas em busca dela. Ainda bem que não havia se distanciado tanto, embora, de longe, parecesse que avançara muito, foi apenas um susto. A trazia rente ao peito, arfante e assustada, para a areia da praia.
Sentaram-se, lado a lado, esperando ele que ela se manifestasse, passado o sobressalto. Só então a observou atento, a beleza de seus traços faciais e de seu corpo escultural e bem feito. Os olhos dela falavam pelos lábios em agradecimento, por fim, o sorriso meigo, o encantava. Como se fossem velhos conhecidos, olhavam-se em muda cumplicidade. Todo o encanto que ambos sorviam, reflexivos e distantes, desnudos e seduzidos. Dois Seres ardentes, num verdadeiro paraíso a envolvê-los em seus desejos Dois jovens bonitos numa paisagem abençoada, corpos expostos a doarem-se, febris e insandecidos de paixão. Dispensavam palavras, entendiam-se nos olhares, estabelecia-se a magia do encontro de duas almas que se correspondiam intensamente.
Aqueles olhares insinuantes e atraentes o fiscou, dominando, invadindo a sua calma e o prostrando, vencendo resistências, inebriando-o, encantado. Momentos únicos e inesquecíveis.
Instantes mágicos, poéticos, lembrando estórias de fadas, pareceu como uma sereia a fasciná-lo e sumia sem explicações, a procurava atormentado, já não mais se comprazia com a tela majestosa daquele quadro natural em que se encontrava, a buscava apenas, desalentado.
Malogrado, a paz subvertida, subtraída. Era o refém enfeitiçado por aquela trânsfuga deusa que o hipnotizou e sumiu, tal como veio. Soberana o manietou em seu fascínio e o desprezou sem dizer palavras.
Voou longe, teria realmente existido ? Jamais seus passos seriam tranqüilos e despreocupados, enamorado da exuberante natureza, seus olhos ora tristes e saudosos, a buscavam em infrutíferas buscas.
Foi-se como uma ave de verão... 





* Selecionado para figurar na publicação em livro CONTOS DE VERÃO 2011, Editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, CBJE, Rio de Janeiro, RJ, edição Especial 2011.   Distinguido entre os autores com mais de 100 mil leituras nas antologias on line da editora.

11 comentários:

Anônimo disse...

Caro poeta belos (afrescos), bucólicas imagens nos dão as formas reais do amor e da natureza presente diante dos nossos olhos. A meticulosa façanha da alma que percebe o imperceptível e dispõe em forma de palavras, versos e sons do que há de melhor na visão atenta do poeta. Primoroso texto, meus parabéns.

J.A.Botacini.

Zezinho.
Jose Aparecido Botacini
ze-botacini@hotmail.com
25/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

26 de abril de 2011 13:44

Maravilhoso, cheio de imagens como se fosse escrito por uma lua ou uma estrela, imagens de magia e beleza perfeita! Bjsss

Elisa Maria Gasparini Torres
emgari@yahoo.com
25/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

26 de abril de 2011 13:45

27/04/2011 17:49 - Mariana Montejani

Muito bem escrito...é possível ver através das palavras o azul do mar, o frescor da manhã, e sentir atração, a decepção...

Para o texto: AMOR DE ESTAÇÃO (T2929529)

(RECANTO DAS LETRAS)

Anônimo disse...

27 de abril de 2011 18:35

Comentário de Ana da Cruz:

Que coisa mais linda!

(MURAL DOS ESCRITORES)

Anônimo disse...

29 de abril de 2011 09:51

Comentário de Albérico Silva de Carvalho:

...tua veia poética, caro Ediloy, nos proporciona grande deleite, lê-lo é adquirir conhecimentos, as filigranas feitas com as palavras me encanta, este trabalho é mais um marco, os primeiros parágrados é de uma beleza singular, e todo ele é um presente, fazes da tua trama algo que nos prende tentando às vezes adivinhar o final, e mas das vezes me surpreende o desfecho dado pelo mestre.
Abraços poético!

(VERSO & PROSA)

Anônimo disse...

29 de abril de 2011 09:52

Oi Ediloy, adorei o conto

Comentário Enviado Por: Lorena Marques Em: 02/5/2011

(BLOG DO LIMA COELHO - CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS)

Anônimo disse...

2 de maio de 2011 16:42

Muito bonito, mas pra não variar´, ser diferente da vida, há um homem inconformado porque a mulher resolveu ser a senhora do seu destino...

Comentário Enviado Por: Keila Azevedo Em: 02/5/2011

(BLOG DO LIMA COELHO - CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS)

Anônimo disse...

2 de maio de 2011 19:24

Belo texto

Comentário Enviado Por: william porto Em: 02/5/2011

(BLOG DO LIMA COELHO - CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS)

Anônimo disse...

2 de maio de 2011 19:27

Ediloy, é um conto bonito, mas a reação do rapaz ao desprezo da moça que ele salvou do
afogamento é muito machista

Comentário Enviado Por: Renata Em: 02/5/2011

(BLOG DO LIMA COELHO - CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS)

Anônimo disse...

2 de maio de 2011 20:51

É a vida, mestre. Nem sempre temos tudo o que queremos

Comentário Enviado Por: Ulisses Em: 02/5/2011

(BLOG DO LIMA COELHO - CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS)

Anônimo disse...

3 de maio de 2011 00:33

Um conto muito legal

Comentário Enviado Por: Fabiana Em: 03/5/2011

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