quinta-feira, 14 de abril de 2011

M E T A M O R F O S E (CONTO)





Ao entrar, a moça seminua, em gestos, insinuou que o jovem se despisse e ficasse à vontade, embora delimitado o tempo, o pagamento dava-se por intervalos preestabelecidos. Pacientemente, esperava-o, tenso pelo inusitado de ver-se nu diante a uma mulher, a primeira de sua iniciante vida sexual , atrapalhava-se com o despir-se, enredado nos cadarços do sapato, envolvido com as calças presas às pernas. Displicentemente, olhando evasiva pela janela, cigarro acesso à mão, aguardava paciente o cliente atrapalhado desembaraçar-se.

 Aquele talvez fosse o maior dos constrangimentos experimentados por aquele rapazote, as faces ruborizadas lembrando um menino encrencado. Por que, raios, tinha sempre que se atrapalhar para tirar as roupas, e por que ela não o ajudava, ao invés de permanecer impassível, distante, olhando por aquela janela, como se ele não estivesse ali ?  Afinal, por que não poderiam começar assim mesmo, o importante não era tirar os sapatos, eles não iriam participar do romance, bastaria abaixar as calças...

Enfim, despido, de meias, parecia um frango novo e depenado, envergonhado de sua inexperiência, observado por aqueles olhos vivazes e displicentes, como se ele estivesse disponível e não ela. Queria terminar o quanto antes e sumir dali, cheio de pejos e autocensuras, as emoções desencontradas não demoraram a se manifestar, arrefecendo os desejos do cliente, ainda mais envergonhado de sua visível impotência. 

Algo haveria de quebrar o gelo, senão seria perda de tempo, dinheiro gasto à toa. Será que ela não lhe daria uma ajuda, o carinho de uma carícia, algo que reativasse seu desejo maculado pela timidez ?  
O que estaria ela pensando a seu respeito, um frangote inexperiente, abatido pelas circunstâncias, ferido de morte antes da batalha ?

Os olhos desesperados falavam tudo, um mudo pedido de socorro. Nem poderia imaginar um eventual fiasco de sair dali sem concluir seu intento, seria uma derrota, um trauma inesquecível, sua falência masculina, um duvidar de sua capacidade sexual.

Um meneio de sorriso dela, entendendo o embaraço, nem precisava perguntar se era a primeira experiência, estava evidente que sim. Não seria o primeiro de seus clientes novatos, alunos de sua maestria profissional, tinha a malícia e vivências necessárias para levá-los ao paraíso, no divisor de águas entre a inocência infantil  à fase adulta, liberta e libertina de aventuras.

  Aproximou-se daquele  jovem  arrepiado, uma criança crescida e assustada. Onde os desejos misturavam-se com o terror de ser visto em pelo,  exposto e envergonhado. Tantas confusões mentais o atormentavam naqueles minutos decisivos, o temor de ser julgado um fraco na sua primeira tentativa, vencendo a si mesmo, se conhecendo.

O calor da proximidade, o hálito de canela da cigarrilha, misturado ao perfume suave, o contato da pele feminina e quente, quebravam resistências, fazendo-o renascer nos anseios que o trouxeram ali.

Como um boneco, sem saber exatamente como agir, cedeu ao abraço da meretriz, enlaçando-a, também, como se dançassem, embora não tivesse nenhuma música sendo ouvida.

 Nus, enlaçados, a suavidade da fêmea encostada em seu peito, justaposta a ele, dando-lhe um abrasador desejo de possuí-la. Derretia-se o gelo, incendiava-se a luxúria, despertava o homem no menino.

Ato contínuo, lição assimilada de imediato, assumia o controle da situação, despida de vez a incômoda timidez, na posição viril de macho, tomando a dianteira, apertando-a freneticamente.
Vulcão em erupção em lavas incandescentes lábios que  buscam, insaciáveis,  correndo dos seios, ao ventre, buscando senti-la inteira , sedento de incontrolável desejo, como degustando, literalmente, aquele momento tão aguardado, cheio de mitos e fantasias.

Acompanhou-a deitando-se ambos, embrenhados, como se fossem antigos amantes, na volúpia do prazer. Ela o conduzia pela experiência e ele sentia-se no maior dos gozos, como em um parque de atrações de brinquedos radicais.

 Os doces seios da  fêmea, enriçados e túmidos de tesão,antes apenas imaginados, alimentavam os apetites com os cheiros dos suores dos corpos, nas mãos atrevidas, curiosas, devassando em incursões íntimas as genitálias. A mente juvenil alçava voos, na conquista da sereia idealizada. Era toda sua, um brinquedo interativo, a responder lascivamente as carícias, num mergulhar de sensações...

Paraíso profano, impudico, sem censuras e limites, apenas o deleite de corpos tensionados em desejos, êxtases, sonhos, delírios...
Quatro paredes como testemunhas do intercâmbio entres Seres que se roçam, entrelaçam, permutam fluídos, transpirações, odores, se acoplam, completam, se inteiram.

Entes no cio, em gemidos, sussurros, entregues se deixam sem pudores. Se  desejam, se comem, se mexem, invertem, inventam,
 se consomem, deleitam-se, aproveitam e compartilham.

 Embolam-se, mesclam-se, deliciados, exaustos, satisfeitos, em delíquios palpitantes, adormecem...

O despertar da breve prostração reparadora, letárgico, as mãos sobre o corpo feminino e quente, o fez feliz, satisfeito. Antes, estar com uma fêmea era apenas imaginação na masturbação freqüente, suavizando as exigências hormonais da idade, em rebuliços. Deixara atrás de si medos e receios, vencera o tabu da timidez de ver-se  nu diante a uma mulher, no anseio de possuí-la, estágio que divisava fases de sua vida, do menino curioso ao homem ousado, conquistador.

 Semelhante a um  laboratório de experiências, por aquela porta entrou um garoto assustado e tímido, por ela sairia um homem realizado e confiante...


17 comentários:

Anônimo disse...

Sim caro poeta só a vida é dona de tais peculiaridades, a transformação do menino em homem só foi possível diante de alguém que lhe deu algo que até então nem mesmo vida lhe tinha dado.Por vezes é preciso contarmos com a experiência alheia para podermos gozar a vida em toda a sua plenitude. Belíssimo texto, meus sinceros aplausos.

J.A.Botacini.

Zezinho.
Jose Aparecido Botacini
ze-botacini@hotmail.com
14/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

Comentário de Arlete Brasil Deretti Fernandes:

Muito interessante a descrição psicológica do fato e também ótimo o desenvolvimento literário. Parabéns!

(MURAL DOS ESCRITORES)

Anônimo disse...

14/04/2011 21:28 - Capitão Anilto

Esse texto é uma verdadeira cópula poética! Abraços.

Para o texto: M E T A M O R F O S E (T2906482)

(RECANTO DAS LETRAS)

Anônimo disse...

Oi, Ediloy, Bom Dia

A primeira vez a gente nunca esquece, independentemente de como tenha sido é inevitável a metamorfose... brilhante e muito esclarecedor...parabens, meu amigo...

Gde abraço
Pedrinho Poeta
pedro.poesia@hotmail.com
15/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

Acabou-se o tempo da inocência, o que era um ato cheio de encanto e emoção esta agora conspurcado e não carrega mais com ele a fantasia nem o peso do pecado. Tornou-se uma ato vulgar sem a emoção da conquista e desnudo de carinho.
Teu conto remete-nos a um passado romantico.

Mais uma vez parabéns!!!
ubirajara
caravanapoeta@yahoo.com.br
15/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

Olá Poeta,

Tudo que é novo assusta, mas desvendar os mistérios da primeira vez é algo inesquecível, mesmo sem o calor da paixão. Parabéns!

Abçs!
Lucélia Lima
lualmarques@hotmail.com
15/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

... o primeiro contato é realmente amedrontador, geralmente traz lembranças boas unidas as coisas que queremos esquecer. Porém, esta passagem contada com suas palavras, trazem magia ao tempo que se passa, espelhadas com sua maestria...

adorei!!!
Marcella Barbosa
marcella_bbs@yahoo.com.br
15/04/2011

(SITE DE POESIAS)

Anônimo disse...

07/09/2011 10:48 - Amigaço

Excelente!Tal como acontece na realidade de muitos de nós! Um abraço.

Para o texto: M E T A M O R F O S E (T3203853)

(RECANTO DAS LETRAS)

Anônimo disse...

Malvado! A descrição do pobre coitado tentando livrar-se das roupas e denominação de frango novo e depenado, um frangote, cristalizou uma imagem triste em minha mente. Ainda bem que ele conseguiu. Ví-me atrás da cortina, torcendo para que desse certo.
Parabéns. Muito bem desenvolvido.

Comentário Enviado Por: Ivette Gomes Moreira Em: 07/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Bem filosófico. Mas gostei

Comentário Enviado Por: Bruno Rocha Em: 05/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Muito bom !

Comentário Enviado Por: Mateus Ferreira Em: 05/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Caro Ediloy, gosto do teu estilo: mais denso, mais profundo, porém bem escrito

Comentário Enviado Por: Ivan Gabriel Monteiro Em: 05/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

E aí, beleza?

Comentário Enviado Por: Janaína Em: 05/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Achei ótimo

Comentário Enviado Por: Vitória Caldas Em: 04/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Um contaço mesmo

Comentário Enviado Por: Geni Em: 04/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

Escreves bem e conhece os segredos da escrita.

Comentário Enviado Por: william porto Em: 04/10/2011

(BLOG DO LIMA COELHO)

Anônimo disse...

10/10/2012 10:09 - Doce Tentação:

Nossa!!! Viajei...

Para o texto: M E T A M O R F O S E (T320385

(RECANTO DAS LETRAS)