quinta-feira, 30 de julho de 2009

R O D A V I V A*


gritos em plena rua
homem nu discursa
fala gritada extenua

curiosos na anatomia
do corpo decrépito
desacreditada pantomima

e a veia saltada no pescoço
inaudíveis sons despercebidos
a estourar como caroço

turba mansa aturdida
seguindo passiva
imersa em si mesma, evasiva

e os gestos tresloucados atoleimados
nada além de um contratempo
incidente de percurso, acostumados

no curso da massa caminham
seguem unidos desconhecidos
em suas rotas distraídos

metidos enfiados em si mesmos
sufocados na pressa de chegar
a algum lugar de nome lar

onde frente à televisão
vão cochilar e acreditar
esquecer se esquecendo

postergar para depois
adiando a vida
para um amanhã talvez

fazendo contas
projetando planos
dilatando sonhos

arquitetando hoje
um futuro para além
em diálogos sussurrados

comendo fatos boatos em arrotos
falas mal digeridas desatentas
confundidos em alienados apetites

como toda rotina, despertam amanhã,
reiniciam a marcha
ilhados em si, solitários na multidão

apressados compassados compenetrados
atolados nos coletivos
aturdidos em seus caminhos e destinos

roda viva
mesquinha
feroz
nesta roda
quem roda
somos nós !

8 comentários:

Blog do Ediloy disse...

PUBLICADO NO RECANTO DAS LETRAS, 25/11/2008

Anônimo disse...

que figura,hem!!!muito bom.Priscila Laura

Enviado por Priscila Laura (não autenticado*) em 25/11/2008 08:13
para o texto: RODA-VIVA (T1302001)

Anônimo disse...

Caro poeta vc descreve com muita propriedade os desmandos que estamos vendo pelos nossos políticos que salvo raríssimas exceções são em sua maioria todos hipócritas. Levantam sua voz, fazem discurso como santos, mas não passam de reliz fariseus. Infelizmente hoje em todos os seguimentos de nossa sociedade nos deparamos com fatos que nos faz perder a confiança nos indivíduos.

Parabéns pelo belo texto que nos serve de alerta e nos arremete a fazer reflexões sobre estes estados de coisas que estamos vivenciando com muita tristeza.

J.A.Botacini

Zezinho.

Blog do Ediloy disse...

publicado no site de Poesias Reescrevendo a História, 01/08/09

Anônimo disse...

Adorei a maneira que construiu seu poema, quase uma roda de palavras, de ações individuais e coletivas tão previsíveis e cíclicas, como algo que realmente gira. Parabéns! Beijos e bom final de semana!

Elisa Maria Gasparini Torres
emgari@yahoo.com

Anônimo disse...

Parabéns meu Amigo Poeta, letras produzidas de modo artesanal, trouxe algo da obra prima de Fernando Sabino, musicado na poderosa imagem de rolo compressor esmagando a liberdade de Roda Viva de Chico Buarque, ..., anos difíceis aqueles, para quem viveu e entendeu o passado, o presente é sempre menos misterioso...Belo trabalho!

Gilberto Brandão Marcon
gilbertomarcon@uol.com.br

Anônimo disse...

Grande poema!
Uma raiz de que se vai tecendo a vida,
nesses espasmos em RODAVIVA
que brotam em permanência.

Bjo,bjo

Gloria Salles
sallesgloria@yahoo.com.br
02/08/2009

Anônimo disse...

Boa tarde Poeta!

Falaste tudo!

Retrato nu e cru do mundo (dos homens) em que vivemos...

Inteligênte, super reflexivo.

maravilhoso!

Parabéns!
Bjos
Xama
xama_12@hotmail.com