domingo, 31 de janeiro de 2010

QUIMERAS


ande, que tenho pressa !
uma doideira de avançar
não me segure os passos



tenho ânsia de chegar
a algum lugar
como um alpinista



que se arrasta no grotão
desafiando perigos
para o prazer momentâneo



de ver do alto da montanha
os vales,as nuvens, o céu
gozando a ousadia da chegada



arre, corra, tenho urgência
de estar em meu destino
não há penhascos a transpor



nem desafios
só a ira
dessa pressa



sem saber
doidivanas
onde vai dar...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MATURIDADE


bravias ondas das tempestades
batem nas rochas,
invadem a praia,
aterrorizam

altas, impetuosas, ameaçadoras
forças incontidas da Natureza
insegurança aos homens
céus crispados em raios vivos

vendavais dominados, serenados,
apascentadas iras em descontroles
as àguas mansas beijam o continente
e a paz, antes turbada, sorri

nada como o tempo
que serena todas as mágoas
acomoda todos os dissabores
e nos dispõe a seguir jornada...



segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

AVE EMPLUMADA*



planta tenra
nascida
criada
sob cuidados

choros e febres
carícias
noites indormidas
preocupados

seus braços
abertos
cobertos
de beijos

anseios desejos
aspirações
figura amada
trôpegos passos

seu crescer
infância relembrada
adolescência
traços do tempo

vê-lo hoje
canudo na mão
esperanças e luzes
caminhos na estrada

lágrimas que inundam
relembram e nos traz
certezas e alegrias
vida que se perpetua

teus amplos horizontes
opções e escolhas
nascentes nos ímpetos
da vigorosa mocidade...

* ao meu filho, Caio Cândido Ferraro, pela sua graduação em História, Unesp Franca-SP
* agradeço minha ex-companheira e esposa , Terezinha Cândido, por este presente compartilhado.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

TRANSCENDÊNCIA


solidão
paz
devaneios

baú descerrado
de surpresas,

lembranças

acalentados,
no viver presente,
anseios de outrora

arquivos, labirintos,
inúmeras imagens
gavetas da memória

voar além, distante.
pausas para depois
alheio ao instante

no ontem emoções
ressurgidas, emotivas,
revividas no agora...


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

VISÃO ÍNTIMA



visão de si
estranha
da imagem
vertida no espelho

lá está refletida
a ação do tempo
cicatrizes, marcas
cansaço, desalento

na íntima noção
de nós imaginada
nutrida, sentida
difere da espelhada

cristalizada, idealizada
aberta às cogitações
mocidade preservada
imorredouras luzes

vitalidades, esperanças
anseios acalentados
sonhos preservados
distantes da cronologia

enxerga-se no íntimo
a criança atrevida
adulta não assumida
ânimos que nos refaz...

POESIA ESCOLHIDA PARA PUBLICAÇÃO
NA 63° ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS
CONTEMPORÂNEOS, DA EDIT CBJE, EDIÇÃO FEV/2010


REENCONTRO


do estupor
a um susto
despertou
abespinhado
para a vida

sonolento,
vago,
descortinou
o que via

em suas parcas
palavras ocas
tentou expressar
o que sentia

e nos sussurros
de suas dores
íntimas
brotaram lágrimas

filetes d´àgua
não comoviam
os que passavam
dele riam

e a necessidade,
real, dolorida,
presente, intensa,
cobrava atitudes

e numa folha
rascunhou anseios
desejos e medos
brotou sentimentos

emoções não vendem
apascentam
a escassez da alma,
não trazem alimentos

o corpo reclama
mais que lamentos
tem sede, tem fome,
delírios em tormentos

ineficaz temática
lavras soltas
versos rotos
não bastavam

pôs a indumentária
socialmente aceita
fêz-se compenetrado
seguindo a multidão

conseguiu uma vaga
um título, profissão
da janela do edifício
vê as coisas, em asas

e na imaginação
recupera a sua lira
há tempos desprezada
pelo terno e a gravata

em sonhos,
devaneios,
reencontra
sua jornada...




quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

COMPASSO DA ESPERA



tempo que se esvai
miúdo, devagar,
finando na areia
da ampulheta

lembrando vigores
cansados, sonhos
desenganados,
folheios no calendário

vindo no real dos dias
toda melancolia
abatida nos fracos
prenhes de esperanças

no alcance do improvável
na aquiescência cordata
insanos e oscilantes humores
cai aos poucos, vai-se a vida...


* Selecionado para ser publicado na 65° Antologia de Poetas Contemporâneos, edição abril/2010, editora CBJE.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ESQUECIDAS MUSAS


nas nuances sombrias
acho minhas musas
em soluços melancolias 

entedia-me noites plácidas

céu de estrelas, lua cheia,
dos pântanos as visões ácidas



obscuridade dos labirintos
buscas insanas e vãs
inebriam-me os sentidos



dos jardins multicoloridos em flores
apraz-me o cheiro das pétalas caidas
renego frescores de vivas cores



nas telas surreais de pavores
planto minha bandeira
de desconfortos e dores



nem arco-íris pós vendavais
anima-me mais que as tormentas
nas imprecisões dos temporais



atino dos becos, berros,
fujo dos clarões
de abismos clamam ecos



anseio, demente,
realçar luzes
onde há trevas, somente...


domingo, 10 de janeiro de 2010

ESPINHOS


flores semeadas
em solo árido
de desencantos

coleta de frutos
em ressequidas
estéreis árvores

insuficientes
as lágrimas
regando este chão

nem o humo
para o fertilizar
só há de frutificar

ervas daninhas
cactos sedentos
clamores em espinhos...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

DIVAGAÇÕES


os íntimos conflitos
dispensam bandeiras e acólitos
luta travada na arena íntima
intensa, perturbadora, insana

singular em nuances múltiplas
buscas, fotos sem enquadramentos
sem hinos, antes sussurros, silêncios
reflexões que transcendem ideologias

solilóquios, pensamentos, conclusões
sem o coletivo, opinião da maioria
incertezas certezas, asperezas, vivências
arrimo edificado em castelos de areia

em face de contrariedades, amuos, resmungos
silente,desempolgado, a falas a grande público
obviedades, leviano clamor dos sons das palavras
desnudo de verdades e de convicções

sabedoria dos anos ou a imersão interna
encarecida de respostas mais reais ?...
manuais para se viver melhor
ensinamentos embrulhados em rotos rótulos

bastam os infernos pessoais, cíclicos e oscilantes
despido de discursos nestes íntimos encontros,
onde, só, transcendo à mim
sem a preocupação de convencer a ninguém...


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

TIMONEIRO DE MEUS ATOS


sou a massa a ser trabalhada
minhas próprias experiências
a dor e a delícia de me encontrar



a argila, matéria a ser moldada,
expressão de meus encontros
desencontros, desenganos



o sofrer e a alegria das conquistas
a exatidão de minhas medidas
limites e fortalezas de meus passos



imprecisos , vacilantes,
titubeios de minhas decisões
horizontes tão pertos longes



miragens e sonhos
fracassos e vacilos
quedas e avanços



em minhas mãos
meu destino
minha rota



opções
atalhos
caminhos...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

OSTRACISMO


das fantasias
que tenho renegado
talvez para parecer
sério, firme

não ceder às euforias
trazidas em magias
nas festividades do ano
revivido, intenso

como se ser feliz
fosse piegas
romântico
tolo

e negar-me a deleites
fosse estar imune
aos sonhos
que me felicitam

tantos momentos
magias dos tempos
trazidas em épocas
revividas infâncias

o brindar das festas
o sorriso descompromissado
o enebriar-me em coisas banais
como me policiando, me contendo

temor de ser ingênuo
seguir a correnteza
desdenhando alegrias
sorvendo sozinho o fel

enfurnado, taciturno,
ostra hermética
fechado para a vida
despido de encantos...


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

INSEPARÁVEIS


meus fantasmas
não são medonhos
nem tristonhos


são criações
infernais
de uma mente



doente em sonhos
agitada
maltratada em cismas



são indagações imprecisas
irriquietas e incomodadas
sem respostas



eles me acompanham
estão no íntimo
navegam em oscilações



entre extremos
em delírios
andam comigo...

sábado, 2 de janeiro de 2010

ESPERANÇAS VÃS


de tantas erradas
certezas
restaram pífias

amarguras de nada
esvaindo em sangue
vitimando em dores

cadafalsos, emboscadas
ciladas em cada passo
arraso em cada intento

enfileirando atenuantes
hipotecas de esperanças
fortalecido em quimeras

dando troco, de ombros,
aos desenganos
caminhando trôpego

oscilante, vacilante,
na roda viva
na corda bamba

em busca, sempre,
de renovados
improváveis sonhos...

VISÃO POÉTICA


há quem decifre
exorbite dos códigos
de enfileirados versos

outros universos
na leitura mágica
retinas sensíveis, além

vislumbram órbitas
alheias ao texto
rescendem a flores

trazem leituras
em entrelinhas
sensações captadas

são almas sintonizadas
cristais tênues, voláteis
despertas em quimeras

sinceras, despojadas
versões encantadas
nuances em outras luzes...