MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
domingo, 31 de janeiro de 2010
QUIMERAS
ande, que tenho pressa !
uma doideira de avançar
não me segure os passos
tenho ânsia de chegar
a algum lugar
como um alpinista
que se arrasta no grotão
desafiando perigos
para o prazer momentâneo
de ver do alto da montanha
os vales,as nuvens, o céu
gozando a ousadia da chegada
arre, corra, tenho urgência
de estar em meu destino
não há penhascos a transpor
nem desafios
só a ira
dessa pressa
sem saber
doidivanas
onde vai dar...
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
MATURIDADE
bravias ondas das tempestades
batem nas rochas,
invadem a praia,
aterrorizam
altas, impetuosas, ameaçadoras
forças incontidas da Natureza
insegurança aos homens
céus crispados em raios vivos
vendavais dominados, serenados,
apascentadas iras em descontroles
as àguas mansas beijam o continente
e a paz, antes turbada, sorri
nada como o tempo
que serena todas as mágoas
acomoda todos os dissabores
e nos dispõe a seguir jornada...
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
AVE EMPLUMADA*

planta tenra
nascida
criada
sob cuidados
choros e febres
carícias
noites indormidas
preocupados
seus braços
abertos
cobertos
de beijos
anseios desejos
aspirações
figura amada
trôpegos passos
seu crescer
infância relembrada
adolescência
traços do tempo
vê-lo hoje
canudo na mão
esperanças e luzes
caminhos na estrada
lágrimas que inundam
relembram e nos traz
certezas e alegrias
vida que se perpetua
teus amplos horizontes
opções e escolhas
nascentes nos ímpetos
da vigorosa mocidade...
* ao meu filho, Caio Cândido Ferraro, pela sua graduação em História, Unesp Franca-SP
* agradeço minha ex-companheira e esposa , Terezinha Cândido, por este presente compartilhado.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
TRANSCENDÊNCIA
solidão
paz
devaneios
baú descerrado
de surpresas,
lembranças
acalentados,
no viver presente,
anseios de outrora
arquivos, labirintos,
inúmeras imagens
gavetas da memória
voar além, distante.
pausas para depois
alheio ao instante
no ontem emoções
ressurgidas, emotivas,
revividas no agora...
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
VISÃO ÍNTIMA

visão de si
estranha
da imagem
vertida no espelho
lá está refletida
a ação do tempo
cicatrizes, marcas
cansaço, desalento
na íntima noção
de nós imaginada
nutrida, sentida
difere da espelhada
cristalizada, idealizada
aberta às cogitações
mocidade preservada
imorredouras luzes
vitalidades, esperanças
anseios acalentados
sonhos preservados
distantes da cronologia
enxerga-se no íntimo
a criança atrevida
adulta não assumida
ânimos que nos refaz...
POESIA ESCOLHIDA PARA PUBLICAÇÃO
NA 63° ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS
CONTEMPORÂNEOS, DA EDIT CBJE, EDIÇÃO FEV/2010
REENCONTRO
do estupor
a um susto
despertou
abespinhado
para a vida
sonolento,
vago,
descortinou
o que via
em suas parcas
palavras ocas
tentou expressar
o que sentia
e nos sussurros
de suas dores
íntimas
brotaram lágrimas
filetes d´àgua
não comoviam
os que passavam
dele riam
e a necessidade,
real, dolorida,
presente, intensa,
cobrava atitudes
e numa folha
rascunhou anseios
desejos e medos
brotou sentimentos
emoções não vendem
apascentam
a escassez da alma,
não trazem alimentos
o corpo reclama
mais que lamentos
tem sede, tem fome,
delírios em tormentos
ineficaz temática
lavras soltas
versos rotos
não bastavam
pôs a indumentária
socialmente aceita
fêz-se compenetrado
seguindo a multidão
conseguiu uma vaga
um título, profissão
da janela do edifício
vê as coisas, em asas
e na imaginação
recupera a sua lira
há tempos desprezada
pelo terno e a gravata
em sonhos,
devaneios,
reencontra
sua jornada...
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
COMPASSO DA ESPERA

tempo que se esvai
miúdo, devagar,
finando na areia
da ampulheta
lembrando vigores
cansados, sonhos
desenganados,
folheios no calendário
vindo no real dos dias
toda melancolia
abatida nos fracos
prenhes de esperanças
no alcance do improvável
na aquiescência cordata
insanos e oscilantes humores
cai aos poucos, vai-se a vida...
* Selecionado para ser publicado na 65° Antologia de Poetas Contemporâneos, edição abril/2010, editora CBJE.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
ESQUECIDAS MUSAS
nas nuances sombrias
acho minhas musas
em soluços melancolias
entedia-me noites plácidas
céu de estrelas, lua cheia,
dos pântanos as visões ácidas
obscuridade dos labirintos
buscas insanas e vãs
inebriam-me os sentidos
dos jardins multicoloridos em flores
apraz-me o cheiro das pétalas caidas
renego frescores de vivas cores
nas telas surreais de pavores
planto minha bandeira
de desconfortos e dores
nem arco-íris pós vendavais
anima-me mais que as tormentas
nas imprecisões dos temporais
atino dos becos, berros,
fujo dos clarões
de abismos clamam ecos
anseio, demente,
realçar luzes
onde há trevas, somente...
domingo, 10 de janeiro de 2010
ESPINHOS
flores semeadas
em solo árido
de desencantos
coleta de frutos
em ressequidas
estéreis árvores
insuficientes
as lágrimas
regando este chão
nem o humo
para o fertilizar
só há de frutificar
ervas daninhas
cactos sedentos
clamores em espinhos...
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
DIVAGAÇÕES
os íntimos conflitos
dispensam bandeiras e acólitos
luta travada na arena íntima
intensa, perturbadora, insana
singular em nuances múltiplas
buscas, fotos sem enquadramentos
sem hinos, antes sussurros, silêncios
reflexões que transcendem ideologias
solilóquios, pensamentos, conclusões
sem o coletivo, opinião da maioria
incertezas certezas, asperezas, vivências
arrimo edificado em castelos de areia
em face de contrariedades, amuos, resmungos
silente,desempolgado, a falas a grande público
obviedades, leviano clamor dos sons das palavras
desnudo de verdades e de convicções
sabedoria dos anos ou a imersão interna
encarecida de respostas mais reais ?...
manuais para se viver melhor
ensinamentos embrulhados em rotos rótulos
bastam os infernos pessoais, cíclicos e oscilantes
despido de discursos nestes íntimos encontros,
onde, só, transcendo à mim
sem a preocupação de convencer a ninguém...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
TIMONEIRO DE MEUS ATOS
sou a massa a ser trabalhada
minhas próprias experiências
a dor e a delícia de me encontrar
a argila, matéria a ser moldada,
expressão de meus encontros
desencontros, desenganos
o sofrer e a alegria das conquistas
a exatidão de minhas medidas
limites e fortalezas de meus passos
imprecisos , vacilantes,
titubeios de minhas decisões
horizontes tão pertos longes
miragens e sonhos
fracassos e vacilos
quedas e avanços
em minhas mãos
meu destino
minha rota
opções
atalhos
caminhos...
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
OSTRACISMO
das fantasias
que tenho renegado
talvez para parecer
sério, firme
não ceder às euforias
trazidas em magias
nas festividades do ano
revivido, intenso
como se ser feliz
fosse piegas
romântico
tolo
e negar-me a deleites
fosse estar imune
aos sonhos
que me felicitam
tantos momentos
magias dos tempos
trazidas em épocas
revividas infâncias
o brindar das festas
o sorriso descompromissado
o enebriar-me em coisas banais
como me policiando, me contendo
temor de ser ingênuo
seguir a correnteza
desdenhando alegrias
sorvendo sozinho o fel
enfurnado, taciturno,
ostra hermética
fechado para a vida
despido de encantos...
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
INSEPARÁVEIS
meus fantasmas
não são medonhos
nem tristonhos
são criações
infernais
de uma mente
doente em sonhos
agitada
maltratada em cismas
são indagações imprecisas
irriquietas e incomodadas
sem respostas
eles me acompanham
estão no íntimo
navegam em oscilações
entre extremos
em delírios
andam comigo...
sábado, 2 de janeiro de 2010
ESPERANÇAS VÃS
de tantas erradas
certezas
restaram pífias
amarguras de nada
esvaindo em sangue
vitimando em dores
cadafalsos, emboscadas
ciladas em cada passo
arraso em cada intento
enfileirando atenuantes
hipotecas de esperanças
fortalecido em quimeras
dando troco, de ombros,
aos desenganos
caminhando trôpego
oscilante, vacilante,
na roda viva
na corda bamba
em busca, sempre,
de renovados
improváveis sonhos...
VISÃO POÉTICA
há quem decifre
exorbite dos códigos
de enfileirados versos
outros universos
na leitura mágica
retinas sensíveis, além
vislumbram órbitas
alheias ao texto
rescendem a flores
trazem leituras
em entrelinhas
sensações captadas
são almas sintonizadas
cristais tênues, voláteis
despertas em quimeras
sinceras, despojadas
versões encantadas
nuances em outras luzes...
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