MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
domingo, 29 de junho de 2008
A VINGANÇA *
Ágeis como feras
da necessidade a astúcia
velho tomba na calçada
vítima incrédula
62 anos calvície acentuada
óculos partidos chapéu ao lado
monte impotente estarrecido
cônscio da fragilidade perigo
da impossibilidade de defesa
corpo desajeitado deprimente
decúbito dorsal e estendido
coração em síncope iminente
feito bêbedo qualquer
filetes rubros nas narinas
face e camisa azul manchadas
em suspense esperava o saque
uns poucos reais na carteira
a foto da neta o velho relógio
Nada restava a fazer
feito fantoche inativo
à vontade dos algozes
não concatenava os fatos
audição falhava indistinta
imundícies da via pública
Jovens no máximo três
falas lacônicas rápidas
gírias grosseiras cifradas
em crise mergulhado
julgamento insano
na espera imprevista
desejou morrer
se reteve assustado
reflexões da vida fausta
Inerte infeliz animal acuado
mãos lhe apalpando o corpo
virando bolsos intimidades
Não reteve as lágrimas
mescladas à poeira e suor
garganta seca saliva grossa
Num ato conjunto
o viraram de frente
opróbrio estampado
cara-a-cara
meninos meliantes
donos de sua sorte
existência fragmentada minutos
reflexão lúcida o orgulho ferido
final dos deserdados sem chances
garotos personagens párias sociais
vivos protagonistas dramas lidos
manchetes nos jornais matutinos
leitura saboreada com o café matinal
aconchego do lar imune ao submundo
desprezos e ditos jocosos à ralé miúda
derradeiro juízo pavor
a sangrar como suíno
na lâmina do canivete
grito seco suplicante piedade
.desventura desmessurada
envergonhado clamou perdão
as faces mutiladas
infâncias abortadas
os sonhos desfeitos
arrogâncias endossadas
entranhas da consciência
casta renegada vil e cega
escárnios ao desgraçado
o líquido acre e fétido
urina arde nas escoriações
o revide e o pagamento
dramas lidos prazeirosos
folgosas manhãs saboreados...
( publicado como crônica no jornal Novíssima Gazeta Renana, na PUC-SP, em 1984)
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2 comentários:
Publicado no Recanto das Letras, as 8.54 hs do dia 03/09/08
Comentários
03/09/2008 10h08 - Marcio Reis:
Excelente texto. O mais detalhista que já li neste site, que já e nossa segunda casa. Parabéns pelo grande talento! Abraços...
Demais mano, sinto como estivesse a acontecer ao vivo e a cores, penso em que escrevo sôbre a velhice neste mesmo recanto. Penso no rei Pelé em seus mil gols o apelo as crianças e a juventude abondonada à época, que hoje são os mestres atrás da carceragem usando e ensinando aos nossos garotos. Penso que a salvação pela educação está tardia. E nossos brasileirinhos não se levantam para dar lugar aos idosos, fazem lavantar isso sim, as mãos em rendição. Das lições hum,anitárias de todos os tempos, sobrou só o egoísmo e a desumanidade odienta. Valeu mesmo mano, que Deus te conserve lúcido assim. autores/supertor4
Enviado por José Torquato (não autenticado*) em 03/09/2008 11:55
para o texto: A VINGANÇA (T1159362)
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