MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
sábado, 27 de fevereiro de 2010
ÚLTIMA CHAMADA
imagino o apuro
se a mim fosse dado
um breve chamado
reunisse todas as coisas
pertences essenciais
uma viagem inesperada
tão pouco tenho de essencial
aturdido ficaria no ultimato
deixaria tantos trastes
e me apresentaria
de meias trocadas
camisa amassada
se não descalço
de cadarços soltos
cabelos em desalinho
se urgente fosse
às pressas
de inopino, inusitado
pobre de mim
me apresentando
desnudo, aparvalhado
nestas horas sentidas,
alheias mãos queridas,
cuida-nos na despedida...
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
PASSOS...
minudências
composição de um vitral
mosaicos de experiências
almagadas, construídas
pelas convicções,
a comporem um Todo
certezas e observações
de nossas vivências
contextos de reflexões
cimentadas nas provas
passos seguros
produtos da sabedoria
forjada em pedra bruta
nas lidas, vividas,
experimentadas, sofridas...
composição de um vitral
mosaicos de experiências
almagadas, construídas
pelas convicções,
a comporem um Todo
certezas e observações
de nossas vivências
contextos de reflexões
cimentadas nas provas
passos seguros
produtos da sabedoria
forjada em pedra bruta
nas lidas, vividas,
experimentadas, sofridas...
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
MEUS EUS
em meus passos
há dois eus
atrevido, infantil
adulto em conflitos
alguém que anseia
trava batalhas íntimas
se indigna
brada em sussurros
outro em mim
releva
apascenta a ira
sublima a dor
se digladiam
se desgastam
impotentes aos fatos
anulam-se no equilíbrio
um se tortura
na incerteza
outro aquieta
nos contrastes
não se conciliam
se aturam,
dão tréguas,
acorrentados, caminham...
há dois eus
atrevido, infantil
adulto em conflitos
alguém que anseia
trava batalhas íntimas
se indigna
brada em sussurros
outro em mim
releva
apascenta a ira
sublima a dor
se digladiam
se desgastam
impotentes aos fatos
anulam-se no equilíbrio
um se tortura
na incerteza
outro aquieta
nos contrastes
não se conciliam
se aturam,
dão tréguas,
acorrentados, caminham...
sábado, 20 de fevereiro de 2010
ENCANTADO

vou na inocência
acalentada
de um menino
desconhecendo
em dores
tantas avarezas
desdenhando
a fome em muitos
desperdícios em tantos
injustiças estabelecidas
normais, culturais,
suportadas
refugio na crença
que tudo vê
em encantos
os homens sendo irmãos
os maus em enganos
os bons na maioria
os ventos benfazejos
levando todo mal
trazendo boas novas
estradas floridas
despidas de espinhos
o clarão das esperanças
o resto, minha criança,
esqueça,
é a verdade, descrença...
Escolhido para figurar na coletânea Poetas Brasileiros Contemporâneos, editora CBJE, edição Março/2010
acalentada
de um menino
desconhecendo
em dores
tantas avarezas
desdenhando
a fome em muitos
desperdícios em tantos
injustiças estabelecidas
normais, culturais,
suportadas
refugio na crença
que tudo vê
em encantos
os homens sendo irmãos
os maus em enganos
os bons na maioria
os ventos benfazejos
levando todo mal
trazendo boas novas
estradas floridas
despidas de espinhos
o clarão das esperanças
o resto, minha criança,
esqueça,
é a verdade, descrença...
Escolhido para figurar na coletânea Poetas Brasileiros Contemporâneos, editora CBJE, edição Março/2010
DESNUDO
desamparado
certezas
em dúvidas
crenças ao vento
desalentos
balanço capenga
das convicções
arrimos bambos
castelos de cartas
refutar o embate
falsas verdades
por-se à prova
de seus dogmas
estilhaços
alicerces pífios
nada restava
estradas desertas
caminhos turvos
recomeços
claudicantes passos
que feneciam...
certezas
em dúvidas
crenças ao vento
desalentos
balanço capenga
das convicções
arrimos bambos
castelos de cartas
refutar o embate
falsas verdades
por-se à prova
de seus dogmas
estilhaços
alicerces pífios
nada restava
estradas desertas
caminhos turvos
recomeços
claudicantes passos
que feneciam...
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
A DESPEDIDA ( CONTO)*


Em frente ao espelho da penteadeira vislumbrava a sua beleza. O viço da juventude manifestava-se na tez canelada e nos cabelos de ébano escorridos sobre os ombros, no suave e enigmático par de sobrancelhas arqueados sobre os olhos graúdos e belos. Vez ou outra, traindo os pensamentos, num rito de sabor, mostrava os alvos e perfeitos dentes num sorriso velado, dissimulado.
O sobrado de n° 307 se destacava dentre os demais, ali esperava Izaura pelo amante, a visitá-la em dias determinados, nas escapulidas de seus compromissos de negócios e familiares.
As mãos, na escova dos cabelos, tornavam-se crispadas ao sabor das memórias, ora suaves, ora tristonhas...
A mente a levava de volta à fazenda, onde tudo começara. Filha de lavradores pobres, trabalhadores de seu amante, fora requisitada para os serviços domésticos, longe dos tormentos da vida roceira, castigada pelo sol inclemente e pelas más condições de trabalho. Trabalhar na casa grande era um privilégio desejado por todas as moças que lidavam com a terra. Estava entretida em sua lida quando sentiu a presença do patrão, montado em seu cavalo:
- E ai, moça, boa tarde...
( nervosa com a surpresa, a princípio sem saber o que dizer, cutucada pela mãe) - liga não , Patrão, ela é tímida...cumprimenta o dr., Izaura !
- Boa tarde ! ( respondendo avexada com a reprimenda materna)
- Izaura ? Bonito nome... quantos anos você tem ?
(a mãe tomando a frente, diante ao embaraço da filha) - Ela tá com 16 anos...
- Gostaria de ajudar na casa grande ? Precisamos de uma ajudante para os serviços de casa...
( a mãe, sempre cutucando a filha) - Responde ao dr., Izaura, que falta de modos !
- Sei não... a mãe que sabe, se ela quiser...
- Arre, claro que ela quer, dr !...
( Acertaram tudo e, dias depois, com os pertences em um pequena e simples maleta, mudou-se para a casa do patrão)
Logo se acostumou com os afazeres domésticos, sendo sempre requisitada pela patroa, pessoa fragilizada e constantemente doente. Havia no olhar daquela mulher uma certa condescendência com as atitudes do marido, mormente as que se referiam às suas conquistas amorosas, algo como resignada por não poder atendê-lo totalmente nos deveres conjugais em vista de seu estado de saúde. Homem gentil com a esposa, sempre a tratando bem, aquilo, de certa forma, a compensava, além do carinho e verdadeira paixão que ambos nutriam pelo Lauro, o único filho do casal, que vinha nas temporadas de férias escolares visitar os pais.
Izaura nutria respeito e dedicação à patroa, com quem aprendera muito, inclusive as letras, os bons modos, certo requinte aristocrático estranho à sua origem. Lauro a encantava particularmente pela beleza e humildade que transparecia tratando-a como a uma igual, apesar das diferenças sociais. Eram ambos jovens, confidenciavam-se, divertiam-se e de quem sentia saudades na ausência. Sempre recebia cartas do jovem patrão, a que respondia enternecida.
Hidalgo, o patrão. a cercava de cuidados e gentilezas, nunca forçou nenhuma situação, mas cedo ficou patente suas intenções para a jovem ama. Percebia seus olhares, a desejando, aquilo era curioso, pois não a fazia constrangida, mas desejada e querida, o que a envaidecia. Era um homem bonito, apesar da idade, tinha porte de cavalheiro, finos tratos. Era sim sedutor, amável, a cortejava em gestos, nunca se precipitando em atitudes menos confortáveis. Não se pode dizer que tenha sido enganada, gostava daquele jogo sutil de rata e gato, de certa forma, incentivava, mostrando-se mais bela e ousada nas vestes.
O tempo encarregou-se de patentear a relação extraconjugal, quase inevitável. E Izaura, como um flor desabrochada, mostrou-se uma mulher interesseira e calculista, distante daquela cabloca tímida de outrora. Sabendo-se amada, conquistou certa tranquilidade aos pais, com a doação de naco bom de terra para que trabalhassem por conta própria e tivessem melhores condições de vida. Alegando desconforto pela situação, pediu uma casa própria na cidade, para não ter que compartilhar a traição junto à esposa debilitada. Todos os seus desejos eram minuciosamente atendidos.
Mas nem tudo eram flores, ainda se sentia a outra, a amante. Queria mais, ser a dona absoluta do amante e de suas posses, mas a esposa, cada vez mais debilitada, era um empecilho. Além do que, Lauro se apresentava aos seus olhos como um homem lindo e desejado, o que a colocava em dilemas terríveis. Nutria sentimentos por Hidalgo, sempre solícito e gentil, excelente companheiro, mas o coração de jovem batia acelerado pelo enteado, quase da mesma idade, juventude excitante. E nisso era correspondida, pois o jovem também a desejava, sem conhecer a dupla vida de seu pai.
Hidalgo, o bom , o encantador, era agora algo que incomodava, que a impedia de ter sonhos maiores...por que o pai, ainda elegante, mas velho, se teria o filho, herdeiro único, belo e jovem ?
Aqueles pensamentos tumultuados vinham de forma frequentes , cobrando atitudes imediatas, tirando-lhe a paz.
Hidalgo chegaria a qualquer momento, o vinho estava pronto, as taças, tudo como ele sempre apreciava. Havia dito que passaria por breves momentos, pois estava com pressa, teria que retornar à fazenda, assuntos imediatos, acompanharia o médico para uma consulta com a esposa, que piorava dia a dia.
Ao adentrar a porta, Hidalgo, recebido efusivamente por Izaura, que era outra mulher, não mais dividida entre dois homens, mas inteira para ele, nisso não dissimulava, tinha imenso prazer com as furtivas visitas do homem que partilhava com a outra.
O brinde foi rápido,mas festivo, embora Hidalgo não escondesse suas preocupações com o agravamento do estado de saúde da esposa. Beberam alguns goles, se abraçaram, e seguiu viagem no compr0misso de retornar em breve, conforme o combinado entre eles.
Ao ficar só, Izaura tremia, em confusões mentais, em arrependimentos tardios.
Só voltou a ficar tranquila quando se anunciou Lauro, que vinha vê-la, enamorado.
Todo o desejo represado em tanto tempo, na etílica sugestão alcóolica estimulante, se entregaram em louca paixão.
No meio da noite, acordados por um emissário, levantaram-se aturdidos.
Hidalgo passara mal na fazenda, vindo a falecer. Acreditaram tratar-se de um infarto pelas atribulações com a saúde da esposa, também próxima da morte.
A sós, na pia do banheiro, Izaura esvaziava o litro contaminado com o veneno...
* texto escolhido para figurar na Antologia de Contos "Amor & Desamor" da editora CBJE, lançamento em abril 2010.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
TUDO É CARNAVAL
no cordão do desespero
enfileram-se atormentados
choram riem-se de suas desditas
no bloco dos felizes ou ingênuos
navegantes em mares plácidos
crenças cegas e filosofias leves
de entremeio entre dois grupos
os anestesiados pela euforia
e os dementados pela realidade
oscilantes, entre eles.
buscas por tênues lucidez
seguem os analíticos
enebriados nas fantasias
dos eufóricos e identificados
nas angústias dos sofridos...
enfileram-se atormentados
choram riem-se de suas desditas
no bloco dos felizes ou ingênuos
navegantes em mares plácidos
crenças cegas e filosofias leves
de entremeio entre dois grupos
os anestesiados pela euforia
e os dementados pela realidade
oscilantes, entre eles.
buscas por tênues lucidez
seguem os analíticos
enebriados nas fantasias
dos eufóricos e identificados
nas angústias dos sofridos...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
MOMENTOS EM MIM
nada há que se compare
a estes momentos
em que me visito
em sentimentos
nada há de mais intenso
refletido, curtido, imerso
do que nestes instantes
desprovido e desnudo
de minhas máscaras
carantonhas risonhas
tão aceitas no trivial
das formalidades
nada há além
que se iguale
ao presente
destes toscos versos...
VERSOS NO AR
vez ou outra
me surpreendo
sendo lido
encontro meus rabiscos
enfeitados em sorrisos
por olhos generosos
espinhos adornados
por mãos carinhosas
a florearem jardins
e me visito
como um estranho
e me brotam águas
nas íris da emoção
são filhos da vida
de instantes
se transmitem
se identificam
cumprem a missão
de colherem
em outros íntimos
mensagens do coração...
* tenho sido publicado em diversos sites,alguns de outros países de língua portuguesa e, até, em inglês e alemão, colho com alegria e emoção esses carinhos, não necessitam das digitais do autor ( embora me registrem o crédito) são palavras ao vento
que encontram ecos em outras emoções...
me surpreendo
sendo lido
encontro meus rabiscos
enfeitados em sorrisos
por olhos generosos
espinhos adornados
por mãos carinhosas
a florearem jardins
e me visito
como um estranho
e me brotam águas
nas íris da emoção
são filhos da vida
de instantes
se transmitem
se identificam
cumprem a missão
de colherem
em outros íntimos
mensagens do coração...
* tenho sido publicado em diversos sites,alguns de outros países de língua portuguesa e, até, em inglês e alemão, colho com alegria e emoção esses carinhos, não necessitam das digitais do autor ( embora me registrem o crédito) são palavras ao vento
que encontram ecos em outras emoções...
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
RASCUNHOS
há que se
falar em amor sem dizer "te amo"
sentimental sem ser piegas
de Deus sem dizer Seu nome
da dor sem comiseração
da luta árdua sem desencanto
do céu sem citar estrelas e lua
das lágrimas sem revelar razões
há que ser claro, sem ser óbvio
buscar ineditismo na mesmice
ter olhos enviesados na monotonia
mensagens desiguais sendo semelhantes
ter-se graça sem buscar o engraçado
belo sem rebuscar belezas
insinuar o não dito, mas compreendido
ver nuances de permeio,
o resto é recheio...
falar em amor sem dizer "te amo"
sentimental sem ser piegas
de Deus sem dizer Seu nome
da dor sem comiseração
da luta árdua sem desencanto
do céu sem citar estrelas e lua
das lágrimas sem revelar razões
há que ser claro, sem ser óbvio
buscar ineditismo na mesmice
ter olhos enviesados na monotonia
mensagens desiguais sendo semelhantes
ter-se graça sem buscar o engraçado
belo sem rebuscar belezas
insinuar o não dito, mas compreendido
ver nuances de permeio,
o resto é recheio...
sábado, 6 de fevereiro de 2010
CÁRCERES
invisíveis aos olhos
presentes nos atos
limites impostos
hábitos
costumes
condicionamentos
estreitos, medíocres
asas atrofiadas
banidas de voos
visões limítrofes
a outros horizontes
restritas e contritas
comedidos passos
preconceitos
julgamentos
Seres perfeitos
em confeitos
desfeitos na massa...
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
TRÔPEGA LUCIDEZ
devaneios sugeridos
ao som de uma música
tomando cervejas
masgando amendoins
a mente solta
ambiente agitado
os olhos ao derredor
colhendo atrevido cenas
a compor um cenário
detalhes se avolumam
como protagonistas
superlativando miudezas
sufoco de mormaço
chuva leve lá fora
mesa repleta de garrafas
ócio curtido em divagações
malícias sensuais
nas ancas morenas
roliças, matreiras,
convites presumidos
alheio a mim,
deserto, perdido,
sortido como bala
em baleiro colorido
alternando goles
salivando sementes
devoradas ávido,
voraz , insaciável
multiforme, distante,
inconstante, insano,
incendiado e acalmado
nos 4% etílico dos 600ml...
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
FÊNIX
nunca serão perdidas
as esperanças
renascidas, revividas,
acalentadas lembranças
ainda que marés bravias
invadam o continente
e as chagas sangrem abertas
renova-se a fé em novos dias
é a têmpera humana
desafios indomados
sofrimentos e risos
sua bagagem onde for
mal final, padecente,
crê-se eterno, vigoroso,
idealiza cenários lindos,
na crua realidade
é parte de sua história
a adversidade
aspirar voos altíssimos,
ter sonhos, mitigar a dor...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
VOOS
impotentes
na inexorável
nua realidade
no culto
das palavras
asas libertas
pássaros
em voos
Seres ao acaso
cores em matizes
reverberam leves, suaves,
sonhos nossos, pintados...
ENERGIA
faíscas do atrito
entre pedras
fazendo fogo
assa e acalenta
tochas incendidas
iluminam caminhos
reconforta
e neutraliza medos
calor que acarinha
à beira da fogueira
primeiros convívios
humanos agrupados
estabelecida confraria
ao redor das labaredas
se aquece e se alimenta
primevas raízes das tribos
tempos imemoriais
avanços, descobertas,
eurecas de delírios !
humanidade passos largos
hoje, um acender,
rápido, habitual,
chamas, calor, luz
atos corriqueiros
acendem-se cigarros
no papo trivial
água na fervura pro café
e a conversa saboreada
buscas no conforto
da energia
clarões que aquecem
clareiam nossos passos...
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