MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
domingo, 31 de maio de 2009
MUSAS & LIRAS
aos que se deleitam em versos
artífices de inspiradas visões,
estrofes, desejos controversos
às divinas divas inspiradas
poemas,inflamadas paixões,
tantas quimeras desvairadas
feitos muitos estragos em vidas,
içados em cadafalsos consumidos,
são os náufragos em desditas
suícidas amantes lunáticos,
por megeras reduzidos,
zumbis nas noites erráticos
em suas temáticas rimadas
sofridos em gritos e medos,
suas súplicas decantadas
talvez, nos meus arremedos,
sensível aos seus apelos,
os inveje por terem enredos
ranzinza, sem emoções,
liras tristes, desafinos,
sem musa a me pôr louco
delírios e alucinações
- meus desatinos -
de doido falta pouco...
...nos torvelinhos das verves inflamadas, loas às amadas, alucinadas narrativas, desterros e desesperos, líricas e entristecidas histórias, de Musas & LIras...
MÃOS EM SÚPLICAS *
pungentes retratos
momentos comuns
Seres em destratos
em cada esquinas,
mãos em súplicas,
pães escassos
quadros frequentes,
triviais e até banais
vidas indiferentes
cenas normais,
almas dormentes
não se ressentem mais
...banalizamos alheias dores, como partes de nosso cotidiano...
sábado, 30 de maio de 2009
F A N T A S M A S *
diáfanos, invisíveis,
um sopro seremos,
aos olhos imperceptíveis
inebriem os sentidos,
alentos doces,
brisas suaves, emotivos
fragrâncias que enalteçam,
perfumem e aromatizem,
em luzes apareçam
balsamizadas nos ares,
evoladas sintetizem
nossas presenças
saudosas, emocionadas,
imensuradas, insinuadas,
nossas essências
sejam lembradas,
sentidas, acalentadas,
nossas ausências...
...que na inexorável distância possamos ser lembrados com saudades, nas vezes em que nos evocarmos sejamos brisas suaves, fragrâncias aromáticas, nossas essências...
quinta-feira, 28 de maio de 2009
LIRA ENVERGONHADA*
destituída de alegorias
anêmica, lira pobre,
nua de encantos e magias
falas inviesadas
um tímido sofrer
dores engasgadas
nem é canto
um sussurro
mudo pranto
um nada especial
arte envergonhada
de ser tida como tal
descerra cruas
friezas, asperezas,
negras brumas
é um penar melancólico
sem amores para louvar
um sóbrio alcóolico
sem jamais ter bebido
a seiva que devaneia
amantes embevecidos
nem lembranças fortes
que robusteça, enriqueça,
narrativas de importes
o que é, me pergunto,
um brado inúteis atos,
um sopro,sem assunto,
a escrever miúdo
a observar pasmo,
aterrado, este Mundo...
GUARDADOS *
mania de juntar, colecionar
tampas de garrafas, figurinhas
santinhos da igreja, selos...
guardados caríssimos
envoltos em sigilos
tesouro oculto
no tempo, sempre ele...
do depósito bem amado
restou-me lembranças
perdidas, extraviadas,
reavaliadas, esquecidas
do mel das coisas queridas
vaga-me em memórias
afetos, sinceras imagens,
heranças que a infância me traz...
domingo, 24 de maio de 2009
I N S Ô N I A*
destoa a luz nas escuras
na torre de um mar
de janelas obscuras
lampejo persistente
alerta preocupante
meio da noite, de repente.
chama a atenção no breu
faísca em detalhe no todo
de um edifício dormente
sonos indormidos
andar impaciente
passos consumidos
indolente ente
na solidão
ânimo doente
ou de si ausente
na saudade de alguém
na distância presente
clarão atesta
a dor acesa
e se ressente
gesticula, vaga
pelos cômodos,
silhueta frágua
nos gestos mudos
transpira sua dor
seus gritos surdos
vagando insana
imagem fantasma
mente doidivana
insônia sofrida
sentida, amuada,
na espera de algo
talvez de nada
ou refem
pelo fim da madrugada...
quinta-feira, 21 de maio de 2009
O QUE MANTÉM UM HOMEM VIVO ? *
bem além do alimento,
satisfeito os instintos,
é o arrimo que te mantém
o que te ergue, te sustenta,
fortalece, aquebranta medos
dores e lamentos
justifca teus dias, te faz prosseguir,
certezas, verdades e crenças
o que te põe de pé e te orienta
nas veredas, nos becos,
nas dúvidas cruciantes,
rinhas disputas perenes
no que te faz conciliar o sono
enganos sumidoro de cismas
inatingíveis em devaneios
a carpintaria, o arcabouço,
de suas convicções irrefutáveis,
ideologia que te domina passos
estruturas, disfarces, que te sustém
- afinal, Homem, Ser das existências-
unicamente a fé é o que te mantém ?
segunda-feira, 18 de maio de 2009
PAIXÕES INTERMITENTES *
pantanoso solo o dos incautos
eufóricas ilusões, exastasiados,
apaixonados respiram em haustos
na fantasia de sentimentos puros
pobres seres imaturos
breve veem-se em dilemas duros
agarram-se à paixão ligeira
efêmeras estações do tempo
deleites no fel da dor falseira
que da realidade em pinceladas
brilho falso que o verniz traz
todos traem-se em emboscadas
Oh, doces divas idolatradas !
e também aos seus pares divinos,
dançam todos na felicidade achada
castelos e formosos ideais
belezas dúbias, irreais,
não resistem a temporais
que a brisa doce dos encantos
no correr dos dias, redemoinhos,
desabam sonhos em desencantos
e o perene, infinito,
deixa estigmas, espinhos,
e o para sempre... finito !
domingo, 17 de maio de 2009
ENCANTO
que enlevo empresta
o poeta à narrativa,
que flana, desliza,
seu canto, no encanto que irradia,
sua branda e cálida poesia...
de sua janela vê a lua dúlcida
encoberta nas fuligens da cidade
e os miseráveis em bandos,
nas arruaças impertinentes,
nada o tira do fitar ausente...
e na indolência das visões belas
a crueza tisna-se das mazelas
e o bolor das coisas prútidas
se purifica em um alvo cetim
e no olhar solitário ele sorri
na distância de seus pensamentos
espirais de longas ausências
no torvelinho das cogitações
a vida malsã e crua
ganha luz e pinta multicores telas
e garimpa nos senões da realidade
docilidades ocultas aos apressados
e tecendo nas palavras sua lira
perfuma e clareia noites escuras...
na visão alvissareira
seu prisma, seu cantar,
ainda que triste,
inflama e eleva
nas suas dores
bálsamos lenientes
imagens surreais,
medonhas até,
tiradas sabe-se lá de onde,
enfeita de alegorias
as mais sentidas agruras
magias às pungentes desventuras...
sábado, 16 de maio de 2009
O FEL DAS LIÇÕES
insano, em círculos,
remando contra,
exaurido, me expus
visões em alheios olhos
incondicional confiança
a outros, ao léu, dispus
o que me era
compartilhei
ideais puros, nus
vagas me dragam
marés bravias, e só,
colho as asperezas
ingentes provas
a mim cabidas,
amargas certezas !
a ninguém é dado
caminhos outros
passos, ensinamentos
cada Ser caminhadas
histórias e vivências,
encantos e tormentos...
quinta-feira, 14 de maio de 2009
LIRA TRISTE *
tento há muito despir-me
tirar como óleo impregnado
as carrancas de taciturno
tento fugir dos becos
dos loucos das loucuras
ver horizontes tardes mansas
curtir sorrisos inocentes de crianças
escrever e descrever sobre a luz
olhar a imensidão cimo das montanhas
meu eu em brigas com seus humores
desprazeres que insistem a incomodar
trevas obscuras em minha tela colorida
lembranças de dores inesquecidas
brasas ocultas mas vivas
de volta retorno minhas escritas
resvalo de soslaio meus labirintos
sem saídas atordoam os sentidos
macambúzio recupero as mazelas
e uno minhas lástimas
com as dores do mundo
em enxurradas de lágrimas
canto minha lira
sofrida indignada
tão triste...
quarta-feira, 13 de maio de 2009
AS PUTAS DO CAIS *
corpo alugado alivia
angústias carentes
marinheiras euforias
módica retribuição
acolhe na carne
anseios em combustão
aplacando as fúrias
contidas nas ganas
anseios, luxúrias
depois as águas lavam
as impurezas dos atos
e nas águas viajam
outras ânsias aplacadas
além, em outros portos,
satisfeitas, lavadas
nas águas que lavam,
trazem, levam,
carências e mágoas...
terça-feira, 12 de maio de 2009
URGE A LUZ
antes que tude finde
sentidos não divisem
a mente não focalize
arrede das lembranças
em brumas espessas
ecos risos das crianças
nada mais seja
fugaz na estrada
figura andeja
amigos e desafetos
erros e acertos
sonhos inconcretos
migalhas, tão pouco,
lembrado,
amado, não louco,
em chinfrins versos
inacabados,
mancos,controversos
antes que amortecido,
esvaindo, sumindo,
nas cinzas putrecido
urge a luz na escuridão
calor, aconchego, acalanto,
ideais ressurgindo na emoção...
sábado, 9 de maio de 2009
RAÍZES DE AMOR
brotado em teu interior
fruto amadurecendo
sugando e crescendo
aconchego na quente bolsa
sentires de proteção
ilhado do externo, aquecido
embalado nos teus passos
acomodado e nutrido
em tuas entranhas tépidas
o mundo limitado
ilimitado de amor
parte intrínseca de teu Ser
partícipe de tuas emoções
junto ao pulsar do coração
parte indissociada de ti...
alma querida
coisa bendita,
chamada Mãe !
quinta-feira, 7 de maio de 2009
APRENDIZ DE SER FELIZ *
ladainhas lamentos
são os mesmos
temas de poemetos
mas que fazer
se a dor cutuca
leva a escrever ?
não animam escritas
as alegrias efusivas
vividas insofridas
apreender o riso
narrar o belo
artes do improviso
quietas as reflexões
circunspectas ocultas
embalam inspirações
são versos caindo
chuvas temporais
nuvens se abrindo
matutando solitário
introspecção mansa
no pêndulo binário
ida e vinda
nos extremos
buscando vida
faro de poeiras
buscas invisíveis
asas altaneiras
mero pretexto
inusitado irado
findo fica o texto
...zangado !
terça-feira, 5 de maio de 2009
SEM CULPAS
importa desnudarmos
as roupagens múltiplas
estarmos nu diante a nós
extirpar espinhos
sorrateiros ocultos
a ferir e incomodar
sonhos alegrias
humores variados
altos e baixos
despido de alegorias
desnudo de disfarces
encontro sincero
repaginando conceitos
se vendo por dentro
eliminando fantasmas
acalentando a criança
carente de colo
abrigada em nós
nos perdoarmos
nos entendermos
como aprendizes na jornada...
as roupagens múltiplas
estarmos nu diante a nós
extirpar espinhos
sorrateiros ocultos
a ferir e incomodar
sonhos alegrias
humores variados
altos e baixos
despido de alegorias
desnudo de disfarces
encontro sincero
repaginando conceitos
se vendo por dentro
eliminando fantasmas
acalentando a criança
carente de colo
abrigada em nós
nos perdoarmos
nos entendermos
como aprendizes na jornada...
segunda-feira, 4 de maio de 2009
SAUDADES DA DOR
por tempos aquele abcesso me incomodava, doía,
mas, através da chaga exposta, fui tirando lições
reflexões a me fazerem melhor em meus juízos
coisas da dor a cutucar humores e nos fazer mais humanos com menos orgulho,
há dores que ensinam bem mais que maltratam...
cuidar da pústula vertida na pele,
assepsia d'alma curativos todos os dias,
lembranças presentes da vulnerabilidade
somos doloridos e nos inibem voos ousados
alados pela soberba e pelas incríveis leviandades
que a mente nos transporta quando nada incomoda...
e como somos sofridos e gememos dengosos !
a criança desponta no adulto e mimados ficamos
quando o infausto nos visita abrem-se portas antes inauditas, inusitadas e inesperadas e crescemos nas observações jamais percebidas...
ah, se pudesse dizê-lo, por bizarro que pareça, que saudades daquela ferida !...
mas, através da chaga exposta, fui tirando lições
reflexões a me fazerem melhor em meus juízos
coisas da dor a cutucar humores e nos fazer mais humanos com menos orgulho,
há dores que ensinam bem mais que maltratam...
cuidar da pústula vertida na pele,
assepsia d'alma curativos todos os dias,
lembranças presentes da vulnerabilidade
somos doloridos e nos inibem voos ousados
alados pela soberba e pelas incríveis leviandades
que a mente nos transporta quando nada incomoda...
e como somos sofridos e gememos dengosos !
a criança desponta no adulto e mimados ficamos
quando o infausto nos visita abrem-se portas antes inauditas, inusitadas e inesperadas e crescemos nas observações jamais percebidas...
ah, se pudesse dizê-lo, por bizarro que pareça, que saudades daquela ferida !...
ECLÉTICA SALADA DE LETRAS
renego o óbvio
mas repugno
malabarismos
o belo a ser dito
possa ser traduzido
na pureza de Coralina (*)
matuta matreira
anciã sábia
sertaneja guerreira
ou ainda no enigma
da Lispector, (**)
no íntimo angustiado
Hilda Hilst
me lembra adorável
bruxa velha
também recorro
às cenas secas
de Leminsky (***)
ou mesmo
as do Gullar (****)
num poetar sagaz
Drummond solta rédeas (*****)
Pessoa em heterônimos (******)
Cecília em intimidades (*******)
guardo recitado de memória
um único poema amado
Guilherme de Almeida e sua Rua,
"minha rua era tão minha..."
sirvo-me desta salada
às vezes àspera, amarga,
ferindo em espinhos e vertendo lágrimas...
* - Cora Coralina - ** Clarice Lispector - ***Paulo Leminsky-****Ferreira Gullar
*****Carlos Drumond de Andrade-******Fernando Pessoa-*******Cecília Meirelles
domingo, 3 de maio de 2009
LUSCO-FUSCO
mutáveis instáveis
abertos como botões
fechados enigmáticos
como ostras
humores alterados
influências dos astros?...
nuances delicados
bruscas mudanças
passos lerdos
apressados
num canto
ou ilhado de pessoas
reveses em ondas
maremotos íntimos
discrepâncias de cores
instantes dispersos
certezas e enfados
fuga estratégica
para o nada de si
imerso, amuado...
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