se roçam
entrelaçam
permutam
fluidos
suores
odores
se acoplam
completam
se inteiram
gemidos
sussurros
se soltam
entes no cio
se entregam
sem pudores
se mexem
invertem
inventam
se querem
se comem
consomem
se deleitam
se aproveitam
compartilham
se embolam
se mesclam
se extasiam
exaustos
satisfeitos
adormecem...
MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
domingo, 31 de agosto de 2008
ACASALAMENTO *
sábado, 30 de agosto de 2008
CICATRIZES
temos cicatrizes
aprendizes
neste caminhar
quedas amadurecem
desafios fortalecem
alentos para lutar
caminhos e espinhos
escolhas vivências
experiências e dores
vamos nos construindo
pouco-a-pouco
estruturas e arrimos
caindo levantando
sorrindo chorando
aprendendo crescendo...
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
DOIDIVANAS IMAGINAÇÃO
desatenta indiferente
náufraga sem socorro
a mente viajante
flutua sobre a goiabeira
acima do meu quintal
parece que não percebe
a tarde que se finda
a hora do banho
momento de recolher
menino de calção
pés desnudos
camisa aberta
na gaiola vazia
gralha azul que fugiu
e pombal desabitado
matos ervas daninhas
junto às hortaliças
e quarador de roupas
ave arredia rebelde
insiste em vôos
piruetas arremessos
noite se avizinha
sem divagações
descanso calmaria...
domingo, 24 de agosto de 2008
MUNDO FANTÁSTICO ( Olimpíadas)
emocionou a festa
confraternizações nações
enlevos e comemorações
solos de povos irmãos
asiáticos negros brancos
todas as etnias reunidas
lágrimas de alegrias
bandeiras hasteadas
hinos entoados
por dias e momentos
congraçamento amor
mundo sem fronteiras
sonhos embalados
humanidade irmanada
diferenças resolvidas
como toda a aspiração
em todas as canções
a Paz estabelecida....
sábado, 23 de agosto de 2008
RUAS...
espaços em que vivemos
lembranças andanças
registros de nossos passos
do triciclo rondando a praça
amorosa vigilância materna
na pequena Echaporã natal
a Sergipe de terra batida
nos confins do Paraná, Mariluz
transversal da avenida principal
via longa exaustiva
palco de todas as cenas
sul prostíbulo norte a igreja
em Marília a Catanduva
férias escolares nos avós
gostosa sombra do abacateiro
dezembro temporada
mangas uvas nas parreiras
e os pés de jabuticabas
na rua que hoje habito rondas
mansões decadentes cortiços
cedem lugares a espigões de luxo...
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
A VIAGEM NA VIAGEM *
na viagem entre árvores
cheiro terra vento na cara
na fm música orquestrada
raios solares brilho nas folhas
reluzentes gerando sombras
pássaros silvos e cantorias
a tarde inteira pela frente
íngremes caminhos solavancos
a aventura perto da metrópole
rescende floresta frescores
misto de matos e heras
narinas aguçadas aromas
já me esqueço da tarefa
que a empreitada me leva
sigo morros e estradas
emoção de parque infantil
deleites montanha russa
horizontes na roda gigante
contradigo-me rotinas se alteram
mente viajante plasma panoramas
e a imaginação pinta novas telas...
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
PRESENÇA AUSENTE
enquanto o corpo jazia
inerte venerado velado
e lágrimas derramadas
cúmplices nas dores
luto e solidariedades
mágoas amenizadas
quanto tudo se consumou
despedidas condolências
rotina na segunda brava
e o fone taciturno não tilintou
tua voz monocórdia conhecida
nossas diferenças polemizadas
intuitivamente já te exclúi
o medo de ferir-me assusta
não te imaginava presente
tua presença na ausência
castiga e maltrata mais
aflição solitária amarga
o silêncio incomoda e reclama
indiferente mudo alheio além
conjecturas crenças filosofias
tudo apascenta amortece
ecos distantes lembranças
anelos suaves das saudades....
NO JORNAL..
são fatos narrados estampados
escritos falados televisionados
gente conhecida que morreu
dos preços que ameaçam subir
de temporais vendavais tufões
cenas violências e nascimentos
balbúrdia cotidiana em seções
para todos os gostos humores
no rádio tv e na folha dobrada
flagrantes e repentes denunciados
um incêndio de grandes proporções
assassinatos inusitados e singulares
a crônica policial e política
intrigas de personalidades
previsão do dia horóscopos
fotos mostram jogadas espetaculares
resultados do futebol e comentários
a vida acontecida horas antes e agora
e na indolência de meu caminhar
busco pães para o café da manhã
encurto passos sem pressa de chegar...
domingo, 17 de agosto de 2008
CRIAÇÃO...
eu cobaia de mim
percepções sentir
poros abertos
sons aromas sabores
engavetados ocultos
memórias arquivos
prazeres e desatinos
doces e amargos
paisagens passagens
esponja absorvente
mosaicos de detalhes
colchas de remendos
parte de mim absorve
outra atenta presente
juntas se mesclam
se a sensível alerta
desatenta a visível
divorciam entre si
mas reunidas
atenção e sintonia
traduzo em grafias...
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
TRANSIÇÃO
rastros
restos
vestígios
células
tecidos
mudanças
encanecidos
cabelos
enfraquecidos
passos
lentos
idosos
fases
tempo
sinais
velhos
larvas
maduras
mariposas
casulos
rompidos
voos
plenos
infinitos...
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
ECOS...*
em qualquer momento instantes
traz-nos lembranças recôndidas
ecos vagos no horizonte
nem sempre recordações lúcidas
mescladas em sensações difusas
contudo reprises vivenciados
pode ser no amanhecer lembrado
no ocaso do dia ou na faina diária
num olhar e num repente
na degustação de uma fruta
no aroma peculiar e íntimo
a mente alerta e desperta
sons trazidos subconscientes
baú de memórias guardadas
na leveza da alma se recorda ...
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
O OLFATO E AS SENSAÇÕES
passava para ir à escola toda manhã
nas narinas o cheiro gostoso do café
na brisa ainda fresca do dia iniciado
manga na cesta escolhida
sabores melosos curtidos
saudades de outras épocas
o pão quente na manteiga
o acalento no estômago
memórias de minha mãe
gabiroba no pé fuzuê
meninos em disputa
frutas caídas no chão
abacates gordurosos
sabores açucarados
massa verde apreciada
maçã grande vermelha
afagos para o doente
farsa para matar aula
jabuticabas no quintal
adornos nos galhos
pelotas pretas e doces
empoleirado na árvore
taturanas perigosas
suculentas goiabas
bananas e tangerinas
corríamos todos
o vendedor anunciava
havia a parreira lotada
dezembro temporada
uvas em cachos deleites
mais de cinco décadas passadas
no paladar as sensações trazidas
olfato sabores de coisas e carícias...
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
DIA & NOITE *
amena serena aquecida
abraço suave merecido
enlaça acolhe reconforta
diurnas labutas corridas
suores rotinas guerreiros
alegrias desafios anseios
marés bravas tormentas
chuvas manhãs cinzentas
esperança dores conquistas
agendas dias sucessivos
vida em sequências lidas
sucessos vacilos temores
pausa ausência sossego
mansidão lassidão folga
trégua conforto acalento...
sábado, 9 de agosto de 2008
MENSAGEM ao AMIGO VIAJANTE

Toninho*,
a água molha esta manhã sofrida
exponho as lágrimas represadas
mágoas sufocadas no inevitável
dores soluços enalteço reprimindo
distância tão recente e já saudosa
suas palavras vivas relembradas
só um aviso seco lacônico e de morte
no meio da noite se libertou debandou
nos deixou pasmos e aterrados mudos
escorre na vidraça o respiro deste ar
embaça a visão e me deixa perplexo
apego à memória o retenho presente
antes que o tempo desvaneça e apague
da retina ofusque lembranças queridas
lamento a ida nesta data fria e chuvosa
embora convencido efêmera ausência
rompo o dique extravaso as tristezas
consolo nestes instantes tão íntimos
até o reencontro outras paragens
de muitas passagens testemunha
restam-me as saudades sinceras...
*Demiciano Antonio de Souza (18/4/59 -9/8/08 )
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
RECOMEÇO
noite estranha
meu pai com uma arma
minha mãe com os filhos
rua principal frente ao sobrado alto
arruaceiros vassouras queimadas
provocantes festejavam a renúncia
fim dos sonhos partidários
Jânio Quadros debandava
falando em "forças ocultas"
impávido do alto do prédio
ostentando velha carabina
a postos fazendo-se notar
amargava a derrota
na eleição deputado
e derrocada do líder
balelas de lado a lado
velha geringonça não funcionava
bêbados pândegos manifestantes
um doido rompia a constituição
atirava o País na incerteza
e tomava rumo ignorado
baderneiros embriagados
espingarda enferrujada
encenação vã de resistência
pálidas recordações daqueles dias
Jango visitava a China vermelha
articulava-se o parlamentarismo
Mudança sobre o caminhão
amigos se despedindo
nova vida em outro Estado...
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
NADA É PARA SEMPRE...
vagas lembranças
pandemônio e iras
alunos casa ao lado
aprendizes acordeon
torturantes diuturnos
o velho e quatro filhos
artistas orgulhosos
crendo-se admirados
vizinhos angustiados
por muito tempo não ouvia
nada que se referisse àquilo
o excêntrico ficou marcado
cardápio caipira vetei
chuchús e abobrinhas
indigestas memórias
também repudiei o instrumento
de tantos acordes e sofrimento
aos meus tímpanos injuriados
anos passados contudo
pela boca fui vencido
os legumes anistiados
Surpreso vendo a tv certo dia
na poltrona da sala fascinado
sons na sanfona dedilhados...
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
O CRONISTA
seu faro arguto ágil
sensível detalhista
analisa sensibiliza
os fatos e os boatos
retrata a seu modo
deleites e minúcias
nada escapa
radar alerta
circunspecto
o latido de um cão
a menina na janela
o carteiro no portão
notícia no jornal
temas de esquinas
a breve discussão
a feira-livre montada
freguesia no comércio
nascimentos e óbitos
célere nas anotações
vistos com seu olhar
apaixonadas rotinas...
CONTO DE FADAS
figura abstrata
ideada imagem
conto de fadas
ilusão querida
chuva caida
dia a nascer
acalento em trovoadas
aconchegos e carícias
a paz no entardecer
refúgio e esconderijo
ânimos encarecidos
forças para seguir
pontes sobre rios
arrimo nas encostas
porto seguro no cais
magia difusa
ente carente
anseio sonhado ...
terça-feira, 5 de agosto de 2008
FRUTOS NO PÉ
irrequietas aves
animadas e doces
auroras verdores
criaturas singelas
sinceras e belas
filhotes nos ninhos
são anelos anseios
meninos meninas
afagados ninados
correm soltos livres
desconhecem o mal
risos felizes marotos
homens e mulheres
alvoradas floridas
frutos maturando
espontâneas alegres
travessas e avessas
hoje apenas crianças...
sábado, 2 de agosto de 2008
FEIRA- LIVRE
Barracas fartas frutas legumes
trânsito infernal de carrinhos
vendedores avulsos alho limão
o público especula preços e ofertas
apalpam frutas mordiscam saboreiam
azaléias, lírios, rosas enfeitam a florista
cheiro bom tenda dos pastéis
odores típicos na peixaria
mendigos esmolam trocados
bananas-maçãs nanicas e prata
mexericas abacaxis tangerinas
apelam divertidos os barraqueiros
a velha expõe seus temperos
medidas porções copinhos
ervas chás pimentas açafrão
ferreiro rápido conserta panelas
oferece quinquilharias miúdas
recondiciona ferramentas do lar
roupas no brejó improvisado
sapatos em bom estado
varais multicoloridos expostos
tem garotos oferecendo serviços
carretos e ajudas nas sacolas
uma cigana lê as mãos e cartas
feira livre rua em movimento
feirantes ambulantes festivos
alegres dias rotinas alteradas...
O HUMANO E O DIVINO
ao redor do esquive respeito
sussurros brandos lamentos
memorizam os feitos nobres
esquecidas nódoas perdoadas
benevolentes morto absolvido
de vícios veleidades peculiares
não se reconhecia o inerte em repouso
enaltecido endeuzado em meros atos
enobrecido nas atitudes corriqueiras
divinizava-se o féretro impassível
humano ser se desfigura canonizado
a despedida condoída releva os erros
mágica morte liberta
vida errante criticado
redimido volta à terra ...
ESTÁTUAS
Impávidas em paços públicos
inertes esquecidas enodoadas
jazem personagens históricas
pouso de pássaros
peitos condecorados
imagens vandalizadas
o que era para ser venerado
escritos obscenos tintados
nos bustos figuras honradas
chamados ruas avenidas pontes
de biografias estranhas alheias
na lida não há quem se detenha
um cientista, professor, artista
filósofo, político,um benemérito
referências apenas logradouros
o tempo implacável não perdoa
não há nome que sobreviva
na vida rotina que se escoa ...
MORTE *
Solitária imbatível tema
teses e questionamentos
berço eterno da filosofia
razões temores e cismas
religiões e escaramuças
musa tertúlias literárias
enigmática socialista
nivela sem classes
inexorável e fatídica
choros e tremores
fantasias horrores
indesejada certeira
porta única do fim
valentes medrosos
ricos e miseráveis
freio de rompantes
déspotas orgulhosos
diante ao inevitável
a humanidade pranteia
nas suas dores anseia
desvendar seus véus
no íntimo de cada ser
a angústia da dúvida
da existência além....
HERÓIS...
Comunistas anarquistas
Socialistas Democratas
utópicos e libertários
Seus ideais foram os meus
tantas ilusões e esperanças
os via como heróis tombados
espelhos modelos fria determinação
vidas imoladas sofridas lembradas
anseios valentes destemidos ousados
assassinados aprisionados deportados
torturados perseguidos machucados
exemplos de lutas e perseveranças
a vida o único patrimônio expunham
em favor daquilo que acreditaram
traídos vencidos amordaçados
contudo não foram as fibras domadas
antes as teses esposadas fracassadas
igualdade a quimera sonhada...
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
SAMPA *
como vivente de seus sons
ruas, trânsito, neuras
cá estou e pouco me resta
do menino de cidades pacatas
aportando em suas entranhas
assustado com sua imensidão
aprendi que a solidão mais dura
é a suportada no meio da multidão
onde todos vivem juntos solitários
mas também confesso-me urbano
metropolitano essencialmente
bucólicas imagens só lembranças
tédio talvez pior que se sentir só
nas tardes modorrentas que vivi
todos caminhavam lentos atentos
e o tempo é mais crucial e fatal
ampulheta caindo grão a grão
a infâmia humana se ressalta
o passar pasmo de horas e dias
monotonia de vidas simplórias
terreno das insídias e boatos
onde todos se avizinham
mentes se amesquinham
e os assuntos são banais
prefiro seu ritmo insano
algaravia apelos ruídos
e anônimas identidades
dependente me assumo
viciado em sua vida babélica
frenesi de sua maluca rotina ...
FOLIAS DE MOMO
tempos houve em que via
a folia de salões alegrias
inocentes adultos-crianças
tudo parecia mágico
alecrim chorando a colombina
chacotas hilárias marchinhas
feéricos trens humanos
todos palhaços engraçados
o mundo festa e fantasias
no rodopio das voltas no salão
negros brancos ricos e pobres
no meio da amiga confusão
trocas de pares risadas
confetes serpentinas
batalhas amistosas
dança dos tímidos
inábeis e vexados
soltos na multidão
como se todos despidos
alheios aos preconceitos
unidos na confraternização
falso brilhante não importa
o que a imaginação sonhava
grata lembrança o que via...