MORTA SEREI ÀRVORE SEREI TRONCO SEREI FRONDE. NÃO MORRE AQUELE QUE DEIXOU NA TERRA A MELODIA DE SEU CÃNTICO NA MÚSICA DE SEUS VERSOS. Cora Coralina, poetisa (1869-1985)
quinta-feira, 31 de julho de 2008
FIM DE TARDE
Fim de tarde finda a lida
recesso rotinas batalhas
afrouxa o nó da gravata
testa enrugada pendências
mente registros em desfiles
nos bolsos papéis anotações
balanço rápido som no rádio
neons acessos trânsito difícil
notícias repassadas relapsas
fárois sinais retas e curvas
ruas alamedas e avenidas
a volta o esperado retorno
beritas cervejas geladas
trégua pausa necessária
conversa fiada e piadas ...
terça-feira, 29 de julho de 2008
TARDES FUTEBOLÍSTICAS
tormentosas tardes de jogos
inundos banheiros imundos
gritarias e brados histéricos
importunado e espremido
espetáculo não apreciava
na massa arquibancadas
(eu queria o conforto das numeradas
mas ele insistia na emoção da galera )
fazia sol logo uma nuvem chovia
roupa molhada no corpo frio calor
levaram-me carteira e documentos
de cima um copo descartável
urina espalhada nas costas
pirraça anônima e covarde
o menino se entretinha em cada lance bradava
eu o acompanhava naquelas toscas aventuras
ônus talvez pela desejada paternidade varão
marionete levantava a cada comemoração
era parcial omitia elogios aos adversários
ali estava eu perdido na multidão
enaltecido abraçado com estranhos
gritando a plenos pulmões afônico
embalo na turma ele sorria sofria
e que alívio eu sentia com o apito final
redenção de sofrimentos fim expiação
se vitória risos ou muda solidariedade
todos saíam ao mesmo tempo
empurrões atropelos confusão
chamuscado o lanche na chapa
ele rouco feliz ou triste
eu aliviado
até a próxima jogada ...
VIDA COMPANHEIRA

(Fafá)
como defini-la
amiga fêmea
amante mulher
cúmplice desventuras
queixumes dores e aís
um pelo outro e únicos
não saberia atinar passos
sem tê-la na companhia
aflige-me tua ausência
assombra-me despedidas
sonhos malsãos pesadelos
ao vê-la de mim separada
desafios constantes lutas afins
espíritos de longas aventuras
guerreiros de longas jornadas
nada é mar de rosas nada
apenas a vida rotineira
nestas lidas companheira
somos tudo estradas
trilhos e caminhadas
sem um e outro somos nada...
ESTRADÃO

Pendurados na porteira
a distância de proteção
avistávamos a manada
eu e o filho do capataz
admirávamos a tropa
bovinos em quantidade
tangidos pelos cavalos
os cães na retaguarda
o gado seguia destino
cavaleiros bem montados
soando chifres berrantes
ecoavam sons distantes
altaneiros nas montarias
garbosos em sua função
as vezes nos saudavam
homens rústicos
de lidas grosseiras
heróis na profissão
vacas prenhes leitosas
mamas proeminentes
bezerros nos encalços
a poeira levantava
no trotar da vacaria
os vultos se perdiam
longe o som dos trotes
ecos ritmados soantes
findados no horizonte ...
sábado, 26 de julho de 2008
HINOS e LENDAS
Postados em filas indianas
camisas brancas calças azuis
entoava-se a canção coletiva
uníssonas vozes desafinadas
ganhando corpo virava coro
nas tardes antes da entrada
esbelta e feia professora
uma varinha feito batuta
harmonizava a execução
motivos de escárnios
pilhérias e gozações
aquela adunca figura
cerimoniosa a subida
ao mastro a bandeira
levemente ascendia
lábaro venerada
flanava altaneira
íamos para a sala
tantas palavras
pronúncias raras
o que seria ?
pouco se entendia
acompanhava-se
o ritmo enternecia
em versos dizia
rios caudalosos
imensas florestas
de um mundo estranho
minha cidade pequena
parcas lagoas singelas
um povo heróico
simplória a gente
a que via convivia
falava-se em morrer
caso a pátria ferida
difere a pacata vida
parecia aquela narrativa
distante da minha rotina
restava de bela a canção
como estórias e lendas
cantava seguia a letra
alheado e desconfiado
que procedência teria
de que povo aduzia
aquilo que se dizia ?
caraminholas a mente
ainda infantil e pueril
não atinava conceitos
como papagaio repetia
tantas estrofes alheias
emocionava a melodia ...
sexta-feira, 25 de julho de 2008
FILHOS...



(Caio e Carol)
acalentados
em anseios
promessas
são sonhos lançados
no ar das esperanças
infantes lembranças
frutos tenros do amor
aconchegos em noites indormidas
os melhores de nós em encantos
figuras esperadas alentos
adolescentes adultos cidadãos
para nós filhotes e pequenos
no ninar que embalamos nossos sonhos
trazemos na candura de nossas almas
sentidos que se perduram perenes
vocês serão sempre
petizes brincando nos quintais
esperando os beijos de boa noite
são filhos da vida sementes
plantados fértil solo de ternuras
nascentes floridas flores abertas
descendentes amados
embalados ninados
eternas crianças...
acalentados
em anseios
promessas
são sonhos lançados
no ar das esperanças
infantes lembranças
frutos tenros do amor
aconchegos em noites indormidas
os melhores de nós em encantos
figuras esperadas alentos
adolescentes adultos cidadãos
para nós filhotes e pequenos
no ninar que embalamos nossos sonhos
trazemos na candura de nossas almas
sentidos que se perduram perenes
vocês serão sempre
petizes brincando nos quintais
esperando os beijos de boa noite
são filhos da vida sementes
plantados fértil solo de ternuras
nascentes floridas flores abertas
descendentes amados
embalados ninados
eternas crianças...
OS APELOS DE CADA UM
Sacudindo o toco do rabo
meu caozinho estabanado
requer carinho e atenção
nos seus doces olhos apela
quer chamegos traz a bola
brincadeiras fora de hora
desatento vãos chamados
entretido absorto na leitura
pobre animalzinho injuriado
rosna, late e quase uiva
nada tira-me do sossego
olha para o alto e mostra
a coleira na estante
quer sair e passear
mas estou distante
sinto odores silêncio
olfato algo suspeito
urinou-me os sapatos
estava o amiguinho
feliz e compensado
da indiferença vingado...
quinta-feira, 24 de julho de 2008
BOATOS & FATOS *
Alguém disse
outro ouviu
e deduziram
sicrano afirma
beltrano relata
outros inflamam
o que era uma dúvida
ninguém mais duvida
agrava-se a sentença
convicção irreal
ninguém desconfia
passa por verídica
o boato vira fato
ignora procedência
enaltecem detalhes
afirmam em evasivas
condenando a vítima
vãs maledicências...
DEVANEIOS...
nas mãos escoam a areia fina
na mente uma viagem linda
no tempo reencontro idílico
nas brisas que tocam a pele nua
escaldante abundante calor solar
no riso frouxo vadio desencucado
onírica sereia bela e sedutora
encantadora de navegantes
armadilhas de sonhadores
mas os ponteiros fatídicos
aniquilam qualquer ilusão
trazem-me à realidade
aguardam-me no almoço
figura indispensável
comigo levo as compras
se a fome não afoita
tampouco esperado
daqui avistaria o por do sol...
domingo, 20 de julho de 2008
MINHA AVÓ CATARINA *
Vendo-a depauperada
vago alento no olhar
aos 94 anos cessava
extenuavam as fibras
aquele espírito audaz
débil corpo expirava
impotente assistia
últimos momentos
frente ao inevitável
se pudesse impedia
mas como retê-la
de vôos mais altos ?
assinalava o tempo
inexorável e fatídico
suga energias e vida
nas noites na fazenda
junto a mim protegia
tinha medo do escuro
senti-me distante isolado
amiga tantas lembranças
partia assim a companhia
gratas memórias vividas
sabores mangas colhidas
coração de boi e espadas
quando saíamos escolhia
charrete, trem, jardineira
o desejo meu uma ordem
cúmplice de meu primeiro gole
o martini tão doce e inebriante
sua bebida favorita partilhava
vitrines guloseimas
na bolsa surpresas
mimos e atenções
das revistinhas em quadrinhos
lidas relidas lentidão no relógio
salão de cabeleleiros e torturas
No ar aromas de tinturas
bobies, grampos e laquês
esmaltes odor de bananas
sempre jovial a Catarina
até um codinome adotou
como Nelly foi conhecida
Precoce para os estudos
alteraram documentos
a data do nascimento
pioneira em seu tempo
três alunas na turma
bacharel em farmácia
também foi professora
atuou em laboratórios
ativa a vida mantinha
vaidosa, elegante esguia
a tez do rosto maquiada
unhas pintadas e batom
inerte velada na despedida
rubro nos lábios cerrados
maçãs das faces retocadas
Foi-se a Nelly, a Catarina
com ela um pouco de mim
cicerone em tantas alegrias...
MANHÃS DE SOL
Generosa qual teta de vaca
abocanhada bezerro faminto
sacio-me neste momento
Qual brisa serena marítima
cantos de gaivotas no ar
inebria-me a visão
Feito favos de mel
abelhas plantas ao redor
lambuzo-me neste néctar
Distantes iras pesares
a mente desanuviada
levita mar céu azul
Cresta a pele curtida
luz incendeia a vida
dadivosas manhãs de sol...
quinta-feira, 17 de julho de 2008
SÁBIA DECISÃO
os meninos reunidos
dois grupos divididos
as equipes formadas
times definidos
descamisados cá
e com camisas lá
ansioso aguardava
a escalação concluída
nenhum convite tinha
quando faltava alguém
de um lado ou de outro
desfalcados iniciavam
certa feita dono da bola
as partes preocupadas
e a partida ameaçada
presunçoso esperava
a inevitável conclusão
em qual turma jogava
os dois lados me queriam
no banco reserva diziam
talento não desperdiçavam...
terça-feira, 15 de julho de 2008
A DAMA E O VAGABUNDO *
no meio da tarde relapso
o mendigo alheio à vida
esparrama-se no banco
logo advém o sono
fraco o estômago
refúgio de faminto
abstém-se do derredor
afundado em si mesmo
acorda em sobressaltos
dois meninos brigam
esmolas em disputas
rápido sai o doador
ao retornar à apatia
observa desatento
o povo frente à loja
ao que tudo indica
aguardam ofertas
em meio à tudo vê
alguém gestos delicados
lhe endereça meigo olhar
incomoda-se o miserável
reluta no seu íntimo
arrisca furtiva visão
lá estava insistente
puxa a gola do paletó surrado
fuga da tão incômoda atenção
envergonhou-se de si mesmo
mostraria suas andrajosas vestes
as faces intumescidas pelo álcool
sapatos mastigados vida errante
haveria de repudiá-lo com terror
causa de náuseas e o esqueceria
mas ainda assim tanta afeição...
novas tentativas mesmo quadro
o fita enternecida a esguia moça
loura e bela de maneiras gentis
absorto ao ritmo da paulicéia
um homem ama desesperado
ganha coragem a olha detido
o fascínio do infeliz desconhece o tempo
nos olhos o brilho intenso sede de viver
a musa permanece inalterável amável
o dia se finda célere consumindo as horas
movimento de ruas se escoa cidade erma
coletivos lotados sentido centro/bairros
extasiado expressão desperta sorriso inédito
brota a luz no semblante cético e endurecido
audaz liberto entoa uma canção em alto tom
rouca voz enchendo as ruas adjacentes
atenção para retardatários transeuntes
ressurgido da letargia do sono fome
aproximando dela decidido e sem pudores
retendo na memória a figura amada e bela
nos olhos incendiados de amor e ternura
despede-se resignado passos largos
na pressa de quem sabe o que queria
um vendedor desmonta a manequim ...
( originalmente publicado como crônica no jornal literário " O Mosaíco", PUC/SP, 1985)
BOLHAS DE SABÃO

Atentos aos olhos meninos
no ar espalhavam as bolhas
encantos em diáfanas cores
dezenas e centenas de uma vez
enxames multicores à luz do sol
bolinhas soltas em zigue zagues
risonhas atração de pedestres
mentes em rodopios distantes
viagens em mágicas vertigens
pequenos canudos
borbulhas de sabão
risadas brincadeiras
ranzinzas apressados
maldiziam dos garotos
queixando-se irritados
mas quem parava e sorria
embalava-se nas fantasias
adultos crianças e alegrias
no ar espalhavam as bolhas
encantos em diáfanas cores
dezenas e centenas de uma vez
enxames multicores à luz do sol
bolinhas soltas em zigue zagues
risonhas atração de pedestres
mentes em rodopios distantes
viagens em mágicas vertigens
pequenos canudos
borbulhas de sabão
risadas brincadeiras
ranzinzas apressados
maldiziam dos garotos
queixando-se irritados
mas quem parava e sorria
embalava-se nas fantasias
adultos crianças e alegrias
sábado, 12 de julho de 2008
FIM DOS SONHOS...
de Gdanski clamores estranhos
Polônia socialista trabalhadores
queriam sindicatos e expressão
de terras onde a luta prosperou
reivindicava direitos suprimidos
arrefeciam certezas convicções
o Estado substituia patrões
a burocracia se estabelecia
duras regras se impunham
em celas fétidas outrora heróis
não encontraram na revolução
as teses igualitárias defendidas
inimigos da pátria rebelados
velhos combatentes e ideais
jaziam proscritos na Sibéria
Na américa central
cuba a solitária ilha
execuções e prisões
erigia-se sobre a túnica
a igualdade entre povos
uma ditadura sem igual
Perestroika glasnost
liberta os soviéticos
rui muro de Berlim
A velha civilização chinesa
muralhas acolhem turistas
aberto mercado reformas
no caos do mundo
a liberdade única
mero livre pensar...
PASSEATAS...
Grupos se achegavam bandeiras e faixas desenroladas
tímidas vozes somadas logo crescidas ritmadas infladas
unidos aguerridos aquecidos compassados tesos irados ...
Brasil, polônia, América Central
a classe operária é internacional !!!
comerciantes desciam as portas
temendo os inevitáveis conflitos
papéis picados janelas solidárias
olhos úmidos e emoção gargantas ressequidas
punhos cerrados apelos e mensagens lançadas
nas mãos ideais e ilusão jovens revolucionários
história reescrita sem sofridos e explorados
cercas sem divisas sem senhores e patrões
terras divididas em fraternas comunidades
- Terra, Trabalho, Liberdade !!!
- Vai acabar, vai acabaaar !!!
- O que ?
- A ditadura militaaaar !!!
logo se avizinhavam os feras da lei
correrias atropelos, vãs resistências
restos pelos chãos, panfletos e vaias...
vezes ou outras escoriações
marcas das batalhas juvenis
sonhos de luz e de liberdade
Saudades do tempo em que cria possível
em arroubos e protestos mudar o mundo
restaram lembranças e cruéis verdades...
terça-feira, 8 de julho de 2008
O PRIMEIRO AMOR
Não me lembro o início
galguei o céu e inferno
e certezas por dúvidas
cidade pequena grande e única avenida
todos se encontram várias vezes no dia
no cinema, na escola, domingo na igreja
bastava avistá-la à distância e fremia
a figura desejada estranha apreensão
demorava-me mais frente ao espelho
espinhas no rosto imberbe
atento escovar nos dentes
asseio no cabelo penteado
eu que troça fazia
pouco me cuidava
tomava café e saía
arre agora tinha
aquela tormenta
rivais pressentia
e como padecia tremia
ao vê-la em companhia
de outro menino rapaz
e quando comigo falava
talvez não desconfiasse
o mal que em mim fazia
arrancou-me inocência e paz
os velhos calções de elásticos
do jeito destratado e cômodo
e diante dela me achava
como a mim me esquecia
desdobrado em cortesias
aquela pequena e querida
não sabia as minhas dores
recalcar anônimos amores
sentiria meus embaraços (?...)
timidez umedecia os lábios
inconfesso o peito de amor
ou quem sabe talvez
ao ego ferido alento
dores ambos sofriam...
domingo, 6 de julho de 2008
OCASO DO DIA
rede na varanda
restos da tarde
visão rubra cor
ciciar de insetos
cochilo preguiça
leitura desatenta
bouquê de jasmins
aroma nas narinas
umidades da terra
regaço sossegado
paraíso presente
o corpo indolente
talvez seja a procurada
almejada paz e silêncio
vida vibra esplendores
apaixonada serena
tal fêmea desejada
a noite se esgueira
quietude mormaço
estrelas céu de anil
fagulhas luminosas
espaços e espasmos
nem dores e odores
mansidão a luz lunar
tez molhada afetos
doce brisa amores
beijos afagos sexo ...
sexta-feira, 4 de julho de 2008
FOTO ANTIGA
retrato antigo
branco e preto
alheio cenário
figura incolor
vagas memórias
poucas imagens
nada assemelha
a nova cidadela
e a foto na mão
E cada vez mais
menos se parece
o que se mostra
vestígios sumidos
furtivos e extintos
ausente lembrança
história esquecida
infância arquivada
raízes extirpadas
assim parece ser
nesse flagrante
o que já não é...
MENINOS DE RUA
Marotos olhos infantis
Calções blusas largas
Ranhos no nariz
Espontâneos sorrisos
Amarguras rasgadas
Sons em algazarras
Tamborilando velhas latas
incômodos e barulhentos
Fraquezas em risos soltos
Ágeis e franzinos
Malícias inocentes
abortadas infâncias
Carrinhos de restos
Coletas em alegrias
Estridentes assovios
Pães latas de lixo
Disputas em festas
tesouro descoberto
Eufóricos gritos
Faces sujas
Barrigas salientes
Seres errantes
Pequenos vadios
Escusas omissões
Vagam em bandos
Endereços incertos
Renegadas figuras
Encontradas em cada canto
Almas marginais
Esquecidas,divertidas até...
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